quarta-feira, 4 de setembro de 2013

XII

I

e é só pensar
no aeroporto de novo,
no vidro preto, no vento
no frio denso, do centro
que me sinto estranho com o tempo..

me lembro que acordei às 6
e a notei já com estranheza;
sentei, sem entender muito bem,
o clima tenso da nossa mesa;

"não temos muito tempo,
pois bem, atentos ao horário
vai partir em poucas horas,
temos que sair, vamos pro carro!"

e eu te estranhava, assustado,
te seguia, te segui, ali, ao teu lado;
não me lembro, não sei, mas percebi teu estado,
sofrimento, medo, lamento engasgado...

sentenciada ao partir de imediato
à falha de fato de qualquer presunção
sem muito tempo, planejamento, retrato,
já entravas no vão daquele saguão...

e entrou;
me abalou, me marcou,
um vidro preto me chocou;

via o reflexo
a imagem da minha vó,
abraçando o seu neto
e a olhando indo só...

Oh Vó,
forte, como sempre,
fizeste muita flor
que pegaste inda semente
se abrir com teu amor!

mas estava lá, o vidro preto,

nos separando,
ela entrando,
a caminhar
um passo lento;
chorando,
despedindo,
"vou voltar,
eu prometo".

Estava lá, vidro preto,

Como fronteira erguida em dor,
roubou os retratos que achou
nos deu os pedaços que rasgou;

nos deu dois lados de um lado só,
cortou-nos os laços de nosso nó,
deixou-a sozinha, sem mim, sem dó,
deixaste a ela, talvez, o pior;

Estava lá, vidro preto,

não a via,
e era só minha imagem
refletida..
ela ia,
e ficava ela em mim,
e doía..



e se foi.


II

E voou.
tantas horas de solidão,
no avião,
pra tantos anos que virão...

E eu só me lembro da escada,
do choro, a renata,
tão nova de casa,
descendo, calada,
leandro, maria,
camila...
pra casa.

e a estaca da vida
de uma criança tremia!..

eu chorava, não entendia
só sabia pra onde ia,
pois bem, quando vinha?
não tinha um dia,
quem sabia viria mais rápido que o dia
que passou tão devagar...

ah, esse dia,
tão fácil de lembrar;
Esse dia,
o que se foi,
que a levou pra lá,
que, tão estranha a vida e seus fatos,
em poucas horas tantos anos se desmancharam pelo ar,
chegaram e passaram
chegando a voar,
levando-a, tão leve,
atravessando o mar;

esse dia,
que agarrastes e grudastes
feito pulga em nossa história,
feito cravo no algodão
mais puro da memória,
pingastes com as próprias mãos
a dura lágrima quando choras,
a saudade em meu coração
feito bronquite que sufoca...

e sufoca,
e sufoca...

e hoje aí está,
12 anos, distantes
e é sempre "de agora em diante,
juro mais do que antes,
que hei de voltar".

há de chegar?


III

fugias avante ao imenso céu;
entravas convicta no turbilhão
das turbinas, turbulências, avião,
da águia de metal em direção à de papel;

mães que voam, arriscam os ares
por altares no fim do arco-íris
para rezarem, enfim, por teus lares
que ficam pelas terras da madeirite,

já nas terras do diamante,
dos arranha-céus sufocantes,
caem dos céus as santas distantes
no império fel de vis madames;

catapultas invisíveis,
mecadológicas, financeiras,
arrancam plantas pelas raízes
lançam os frutos sangrando seiva;

invadem o útero,
vasculham os cantos,
buscam os únicos
amores em prantos;

largam-nos com desprezo,
roubam-nos uma parte,
para roubar-te a única arte
de trabalhar por desespero;

mães se vão,
lutam por outras bandas,
labutam em meio a tantas
outras mães em solidão;

mas também ficam no brilho
dos abrigos mais intocáveis,
nas saudades de seus filhos
onde jamais estarão frágeis.



IV


"Meu filho,
Tenho a data!
Tenho a data!
Esse ano,

meu filho!
Eu te amo!"

E hoje, chegaste
o dia em que disseste
que o dia chegou;

A lágrima toma-me,
arranca-me a dor
que me acompanhou;

Escrever o que,
se posso, em breve,
viver?


V

Nosso reencontro
será a poesia da humanidade,
dos tempos e de toda a trama
do amor, da dor, da saudade
que temos nas pedras, nos papiros,
nas cavernas, nas lápides!

Poetizaremos o mundo,
o pintaremos de cores jamais vistas,
de rimas jamais lidas,
de músicas jamais ouvidas,
compostas, escritas!

O evocaremos ao nosso bel prazer
do momento de se rever;
Escreveremos as novas divinas comédias,
novos romances, livros, escritos,
novos roteiros, novas peças!

ecoaremos as canções
de mãe, de filho,
nos navios, aviões
nos mares, nos rios!

Serás o mês mais iluminado
já visto e presenciado
pelo mundo!

Chegaste!
Chegaste o dia!

Anjos vibram
e cantam Odes
à tua vinda!

Lobos piram
e uivam forte
à nossa vida!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

o meu corpo anuncia que quer você

o meu corpo anuncia que quer você
quando mia e geme
e range os dentes
e estica e treme
a costela;
quando queima e derrete
feito vela,
e mela
minha coluna
de cera,
devagar...
até ela
se transformar
num mar
de mel branco
espumado e encharcado
de você,
onde me afogo,
me afundo, me afago,
me inundo, me encharco,
por querer...

e já,
desde já,
no te amar,
derreter, espreguiçar,
lambuzar, sufocar,
pássaros surgem e
voam em meus campos
e se desmancham
em perfumadas cachoeiras
azuis feito lençóis,
que desaguam
inundando
minhas partes mais íntimas
dos segredos mais tímidos,
na nascente, na foz...

nessas partes,
o mar de amor e amar você
que se fez de querer
te escrever,
de querer
te buscar nos fundos
e inalcançáveis lugares
do oceano como letras
e palavras inspiradas
em seus encantos,
pingando, molhadas,
lança ondas brandas e turvas
em direção às praias longas e ruivas
que nascem quando percebem
teu chegar,
de longe,
tranquila, dengosa,
nas minhas lembranças;

E nesse teu chegar,
nesse te amar,
te querer,
reivindicar
te puxar e te encontrar
sob minha tutela astral
em meu sonho surreal
de volúpia e muito, muito dengo,
sob meus lábios,
sob minha língua,
sob meu líquido e meu suor
de ousar tentar buscar-te
em conchas de rimas,
eis o meu corpo,
que anuncias
que te quer,
te anseia,
te espera,
trêmulo,
se amacia
feito almofadas de penas
e plumas fofas,
e se afrouxa,
e novamente mia,
e geme,
e range os dentes
que lentamente
adormecem,
formigam,
sensíveis,
instáveis,
serenes...

o meu corpo anuncia que quer você
quando a poesia
surge de um não sei o quê
de dentro de mim...
o meu corpo anuncia que quer você
quando em si
já não suporta o tanto
de amor sem fim...

terça-feira, 20 de agosto de 2013

amanda e amor até mais tarde

Amanda de amor.

Amanda que manda
amores pras bandas de cá,
por tambores que emanam bambas
e sambas de amar,
banhados por ondas
que quebram brancas espumas
e trazem bençãos do mar;
benção às tantas sereias que cantam
ao nosso luar,
ao nosso inspirar,
a nos abençoar;
benção a Yemanjá,
aos orixás,
a mim,
amanda,
a tu,
p.a.

Bênção a nós,
Amanda de amor,
bênção ao amar.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

vontade de você

vontade de você,
de me sufocar no seu pulmão ofegante
e me queimar na sua saliva...

me, melado, surgir à tua pele
e te amaciar o corpo sincero,
fazer-me de ti, amor, teu anelo,
nos poros que a nós nos expele...

nos impele, pois sim! nos suga,
deslizes de nós rumo a nós dois,
e uivamos coiotes à lua,
à qual o sol sempre se pôs!

Oh Sol, estrela que deitas,
cativada por nossos quereres!
Deita-te,
esmiúça-te ante nosso nós dois,
ante nossos deleites de estrelas!

e à deriva, bambos e embriagados
vamos nos amando, tontos e sedados
nas esquinas, perdidos e deitados
rolamos em tatos e olfatos!

em nós! rolamos a fundo e enraizados em nós!
abraçados e entre abraçados num mundo a sós!

... e bambos a gente vai se amando e se encucando com coisas encucáveis somente por nós dois, que duram infinitos minutos de lisergia do nosso amor que surgem um durante o outro a cada novo soluço; e então volto à vontade arretada de me meter em confusão com a alma do seu amor, correndo, brincando e querendo-te mais e mais...

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

se eles procurarem direitinho, vão ver cinzas no meu ninho, vão saber que houve amor...

ah se você soubesse
que em todo momento me dá
um não sei o quê que cresce
vertiginosamente a me fustigar;

me contorço, fica contido
me inspiro mas não sai;
respiro, fica retido
não vem e também não vai...

engasga, me sinto mudo;
no começo, leviano
no desenrolar, me tropeço
pra concluir, me pergunto:

será mesmo que tem gente
que escreve as coisas que sente
em versos que suficientemente
nos fazem emocionar?

de onde vem a junção do amor,
paixão, verbo, dor,
de alguém que se inspirou
por simplesmente amar?

se um dia eu descobrir,
juro contar-te, lua,
em linhas puras de rubi,
numa poesia à sua altura!

segunda-feira, 29 de julho de 2013

28 de julho

eu não tinha nada a perder,
mas é isso, infelizmente
não tenho nada também..
mesmo tendo o seu amor,
meu bem,
não tenho nada, e é o que dói,
que estremece, que maltrata,
ter um amor e tê-lo nulo,
suprimido em mudas palavras,
em riscos, rabiscos, versos,
em estrofes, em traços, em berros
expressadas ao léu, pro nada,
gritados no silênico de frases
caladas quase sempre no quase,
subtraídas e censuradas..

dói, porque são poemas
de duas almas que se amam
e não se falam;
não se abraçam,
não se têm, não se beijam,
e se calam;

não se matam de amor
não se juntam, não se fuçam
sem suspiros, sem calor,
não se perdem, não se buscam
sem mordidas, sem berrões,
sem feridas, sem pudor,
sem alívios, arranhões,
sem bocejos e sem canções...

dói essa fala não falada,
essa saudade não matada,
essa história mal contada,
mal terminada, não terminada,
dolorida por não ter em vista
algum fim de alguma página;

e são sempre páginas em branco
que são viradas após páginas
escritas e desenhadas,
torcidas e apaixonantemente
emaranhadas de furor,
de amor, de ardor,
de pecados, que sem contato,
sem tato, sem olfato,
são páginas em branco,
sem sentido, sem valor...

dói por ser a mesma dor,
de um fim, depois de um fim,
depois de um ano, o que já voltou,
que enfim, voltou assim,
prum breve espanto que consumou
em mim, de tu em mim,
em novos prantos do mesmo amor...


e eu ainda só quero te beijar (mesmo mal sabendo tudo o que isso poderia ser, ou então causar)..
faça login... existe um rascunho pra você, coiote...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

talvez podemos...

terça-feira, 9 de julho de 2013

e a gente vai...


Tive notícias suas...
Como está?
Pelas notícias, meu amor,
Não sei concluir a respeito de algumas luas,
alguns versos ou algumas ruas escuras
que eu penso cruzar,
ler, olhar, ver,
e que talvez não passem de nuances,
equívocos, e que nada façam sentido,
ao menos pra mim, de você...
Se é que me entendes,
busco entender-te do modo mais complicado,
ler-te procurando-me e escrever a ti de modo desajeitado,
procuro encontrar-me em teus arranhões mais apertados
em forma dos versos e soluços seus...
Procuro-me nos seus suspiros,
e procuro mais ainda
saber se me encontraria,
realmente, sem equívocos,
nos seus espaços, nas tuas rimas,
nos teus escritos,
nas tuas sílabas...

sexta-feira, 5 de julho de 2013

verbo azul

E ele queria poder transformar essas luas naquilo que elas tentam se metaforizar, coisificar, limitar...
E pensa: Ah!, que coisa linda seria se conseguisse transformar, voltar, recriar, retratar...
Lua, pra ele, talvez seja um verbo, verbalizando o que de dentro surge ao ar,
tentando deixar escrito o que o verbo não exprimiu, acionou ou poderia realizar,
tentando transformar num grito que já ouviu mas que a palavra escrita não pôde falar, gritar,
descrever, dizer, mostrar...

e, enfim, talvez tente por meio da lua, de teu verbo, teu verso, teu escrito ou mesmo teu suplico,
talvez tente aflito voltar ao início que deu início ao teu amar,
verbalizar, escrever,
falar, gritar,
apaixonar, ser,
você, luar.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

segunda-feira, 10 de junho de 2013

auroras ao 18 de julho

18 de julho chegando e tanta coisa chegou,
se foi, passou, ficou e algumas tantas me distanciaram de você
como tantas outras fizeram-te distanciar de mim..
Outras tantas algumas por mim passaram parecidas como passou você,
mas algumas tantas lembranças de você ainda passam por aqui...
Talvez não saibas, mas a nossa lua às vezes me conta
segredos tão seus que só ela sabe, por estar sempre lá,
te paquerando e talvez te amando do mesmo modo...
Vai saber, né, pra quem sobe aos negros e gigantes céus
todos os dias, se veste de branco esplendor
para te vigiar sempre!.. Talvez realmente continua te amando de mesmo modo...
Às vezes ela assusta meu coração quando,
ao fitá-la de modo mais curioso,
me deparo com o seu cigarro de palha,
o seu Coiote, o nosso Ave Sangria,
a água que lhe comprei no dia em que nos conhecemos..
Mas, por fim, a lua compreende a força natural do tempo,
da vida, das coisas como elas são, e se põe...

Já que tudo foi feito pelo sol,
toda aurora é uma boa nova aos 18 de julhos da vida.

sábado, 8 de junho de 2013

ao filho que se matou

me sangra a esperança,
me aperta a ferida que não tem cura,
me agoniza a dor que me afinca dura,
que não é branda, que não estanca,
que sufoca o ar em minhas preces,
que me queima e arde à flor da pele...

em minh'alma crua,
um vazio imenso
me afunda no desalento de lhe caçar;
me aperto e tento
te buscar o tanto quanto eu puder tentar,
onde quer que penso que ainda possa estar...

Ah, me enlouquece
o fato de saber
que não vai voltar,
não mais me conforta
tentar lembrar
dos abraços que você
vinha me dar,
me beijar, me olhar
e dizer "Mamãe,
como você está?
Mamãe, o que tem pro jantar?
Mãe, feliz dias das mães,
eu te amo, mãe",
na sala de estar..

Mas dói,
isso tudo me dói,
minh'alma em prantos
nos cantos da sala
busca tua presença,
busca evitar a barra
que passo em tantos
sonos perdidos
por tua ausência...

Se perdestes na imensidão
da vida em tua vida,
onde até a morte cabe,
e onde aos vivos
cabe a despedida,
do filho que vai
e a mãe fica, aflita,
perdida, desnorteada,
sofrida, angustiada,
sem vida...
Perdestes nossa vida!

Pedaço arrancado,
litígio apertado,
trauma plantado!
Estrangulado, o pescoço
palpita apertado
o sangue engasgado
em mim!

Sufocado o meu parto,
sucumbido no ato
do filho enforcado!
E na dor do vazio,
o retrato sem brilho,
infortunas o frio...
em mim!

Oh, meu filho adorado,
nascido e criado
com amor e cuidado,
torço que abra a porta
e que me abrace de volta,
que me leve p'ra fora
dessa escuridão;

Mas meu peito rouco
trêmulo, louco
me destinas agora
o retorno à morta
certeza de morte
de teu clarão!..

Meu filho, morto,
Ao menos, aos poucos,
voltes de volta,
me chames agora,
meu ventre chora
por solidão!

Retornes,
espero, eu quero,
desejo, aperto
meu peito,
teu leito, vazio,
me mata a razão!

Meu filho, eu te amo!...

Não!.. Não...

domingo, 2 de junho de 2013

de brasília, quem sabe um dia

Entre,
deixe-me lhe apresentar tua filha em mim, já que me apresentaste tuas filhas a mim. Nasceste desorbitante e latente um útero em mim, de ti. Venha, danço contigo a dança eterna da juventude que saltita em teus olhos. Danço como nunca antes, juro-te, hei de surpreender-te mais e mais, por ti. E hei de envolver-te mais que meramente dançar, o que amaste em mim. E que líquido ardiloso, formigante e dormente que escorrega desse útero corpo adentro e pernas abaixo aos pés em mim! Fizeste de um vibrante e órfão coração em tua plenitude juvenil um borbulhar jubiloso e inquieto. A princípio, por tuas filhas. Após, por ti. A sensatez não intimidou. A tradição não calou. A moral não suprimiu. Essa, passou longe. O pecado, que bêbada insistiu em aluzir, em ressaltar, eu sei que era apenas algo irrisório, para ter algo no que se basear para negar o que sentíamos. Nós sabemos. O uísque, ah, o uísque, o nosso uísque, que nos envolveu como um lenço ao rosto macio de uma criança emocionada, como o tango ao argentino mais fervorosamente apaixonado, como o tirar das roupas ao casal num determinado minúsculo quarto de hotel no interior da Espanha, este uísque, que nos envolveu de tal modo, escorreu como dilúvio de malte e bourbon paixão a dentro, tesão a fundo. Fez-me úmido para que meu estribilho dos pot-pourri de boleros italianos fosse fecundado pelo teu desconhecido não-sei-o-quê. Não-sei-o-quê! Que me cativastes! Me apunhalastes! Tua você em diálogo com tua idade? Seria isso?.. Aliás, o meu observar-te a fundo, vasculhar teus anos de vida, tua vida, teu rosto lindo, cheirar teu perfume maduro... Seria isso? Sei que me cativastes e me apunhalastes... E que me destruíste tanto... Mas não me conheces. Sou daquele que enaltece, que engrandece, que vibra, que saúda, que se apaixona... Tua presença, a partir daí, me deteriora. Me saboreio dos devaneios dos meus novos dias, dos meus novos olhares perdidos. Da presença quente trançada pelos mantras dos uísques, das danças, dos vinhos, das nossas idades, perco-me na vastidão do não tê-las durante mais que aquelas poucas cinco ou seis horas...
Entre..
Entre!

Sim, quem sabe um dia...

quinta-feira, 16 de maio de 2013

a disciplina nos corpos

os mutilados disciplinados,
embotados de domínio,
surgem como monstruosidades
aos batalhões de milhões à luz do Sol.
Se desfazem de vós mesmos
como a solidão entristecedora
perante a presença exuberante da lua,
aos tropeços, temores, medos.
Os desvalidos de domínio
catalizador de corpos-motores
estáticos em seus movimentos
predestinados, se lançam
madrugada a dentro em
busca de uma gota milagrosa
de orvalho-libertador
que eventualmente cairia
das esperanças em nuvens que
teimam não se desmancharem...
Nada de esperança,
nada de novo,
nadam na maldição do
não haver saída
e cai lento o relento desta
maldição surda, silenciosa e muda;
o dia renasce e retoma-se
a rotina assombrada e vigiada,
espalmada e aterrorizada
dos dóceis e piedosos
disciplinados do movimento
admirável-mecânico-natural.
Os corpos dominados
gemem suas ausências.
E o velho mundo se esbanja
em engrenagens.

dos porões: março de 2011

o coração aperta!

porque não aperta minha mão
e me deita no chão?
emacia minha perna
que não aguenta a pressão?

porque não fecha meus olhos
pr'eu dormir no balcão?

pra cabeça esvaziar
do vazio, então,
coração,

não aperte!
bata!

e mate
o que mata
a ti
e a mim!

bata
e refaça
de ti
meu jardim!
..

uma vida em uma rima de viver com morrer

Oh vida,
embora me crivas fustigada a penosa dor que é viver,
Me resta ainda resguardada a certeza que um dia hei de morrer.

Oh vida,
valha-me céus, vida, vou te esquecer
e viver;
Oh vida,
é assim, vida, vou-me viver
pra morrer.

E assim rimamos. E assim vivemos. E assim levamos. E assim morremos.

terça-feira, 14 de maio de 2013

em minha belo horizonte - janeiro de 2013


posso perceber a força de um carnaval
assim como a força do tempo de um para o outro
a paixão, o amor, a ilusão, a felicidade teatral
com os corações sutis que foram colados no rosto..
ilusão,
pudera eu entender perfeitamente os compositores
quando estes atribuem ao carnaval essa definição
e posso, pude, entendi, vivi, vi os senhores,
as senhoras, os garotos, as garotas
os amores e as amoras florescendo maravilhas
no carnaval, a paixão estourando serpentinas
no meu quintal
o amor ecoando agonias nos meus dias de pingas, limão e sal..
no carnaval,
meu carnaval, tão voluptuoso, libertino e dramático
choros e sorrisos engasgados eram tossidos da alma
expelidos e excrementados à carne crua, a alma nua
vibra e canta marchinhas de marchinhas de rua
embriagada e tonta a alma menina tinha suas angustias
mas cantava, se emocionava, bradava tuas figuras e gritava hinos contra a moral
contra os costumes conservadores do amor convencional
católico e retrógrado dos ciumes que deveriam ser vencidos e sucumbidos durante e após o carnaval
oh, meu carnaval
não me trates mal, sejais piedoso

dê-me tu de corpo e alma
na forma dos dias
entre quinta e quarta
que dou-me a ti de coração
para receber em troca justa
a cura da minha solidão

dê-me tuas músicas,
tuas marchinhas, teus confetes,
tuas nuances,
noites libertinas que me aquecem

que me clamam o amor em forma de diluvio espontâneo
que me confortam durante alguns dias festejando..
ah o carnaval, venha a mim, se uma dia eu estiver novamente me apaixonando!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

À Lua Minguante


Lua Minguante,
que seduz que eu me deite
em teu leito brilhante;
tua luz,
clarão espumante de leite
encostado em espasmos
brancos flutuantes,
ralos, tímidos, esfumaçados,
perdida na vastidão negra azulada
de teu reino enfeitiçado,
conclama aos embriagados
atenções e soluços chocados...

atiçado meu sentido
de sentir-te e sentar em ti,
debruçar e me espreguiçar em ti,
aí, em ti, justo em ti,
que tão longe abismo mortal
nos afinca a separação;
Daí, quero maravilhas que daqui
sonho todos os dias em que me volto a ti
para contemplação.

Daí, que nos observa
com maestria e percepções lunares,
fantásticas, nos ares
da lunática obstinação;
Acompanhada de
tuas companheiras solitárias
espalhadas pelo infinito espacial,
[as estrelas entrelaçadas
por teu perfume noturno e astral]
onde os passos largos dos Deuses
se realizam, se compõe,
compondo reverias divinas
como poesias plásticas aos nossos
olhos latentes;
Acompanhada destas tuas estrelas,
satélites, cosmos, meteoros,
liturgias, astros, feiticeiras,
da retinente existência
que lhe faz reluzir,
da expoente frieza
que lhe sustenta
o contraste do negro faisão-céu
com o teu alvi-existir,
me aparece perfeitamente
redonda em teu surgir, nascer
se fazer de Lua ao entardecer,
aparecer aos olhos de chorar,
ostentando tua ternura
serenamente para, a ti,
me curvar;

Oh, Tua curva, Lua Minguante!
Tua curva!

Daí de tua curva tuas pontas
vislumbram o norte e o leste,
ousadas pontas,
que virtuosas enfrentam
os ditames mitológicos dos fins
dos céus; pontiagudas e viris
são estas extremidades desta curva
incandescente, fina-grossa-fina,
que nos choca a perfeição;

Daí, Lua Minguante,
pego-me delirante febril
ao teu lado,
tenho te abraçado, beijado,
tenho estado perfeitamente
em minhas humildes batutas mentais
alucinado por tuas tais curvas
turvas e chocantes em tempos iguais...

Mortais, Lua, Oh meros mortais!

Dos quais sou um torpe indigente,
que ousa lhe cravar os dentes,
enfincar as unhas em teu redentor
clarão;

Estás, Lua, é claro que estás,

em postais diversos, aos milhares
de milhares espalhados na solitária humanidade,
que, sem tua bondade e grandeza,
certamente se mataria pela fraqueza
de se pegar em solidão;

Desejo-te toda tua alma,
tua carne-energia pura
absorvida do Sol, teu grande parto;
Desejo estar em ti, em toda tua trama,
lhe escrevendo, descrevendo,
por teus interiores brancos em chamas,
palidamente intensos, em teus cantos
à noite a adocicar os prantos na minha cama;

Oh, Lua Minguante,
nua, princesa da beleza natural
e do desejo boreal,
Desejo estar em tu como minha cama-mãe,
minha satélite-rainha que me estigma
a existência de vibrar;
querias, em ti, estar escrevendo sobre nós,
deitado, a sós, em teus braços, teus lençóis,
como rouxinóis em ninhos noturnos a cantar!

Oh Lua Minguante,
me afortunas, me cativas,
juro te amar!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

a velha

Relato de um quadro pintado por uma velha negra pintora desiludida, apaixonada, perdida e humilhada por tua vida estúpida e órfã de algum qualquer amor que não existiu, que amargamente morre pintando este teu último quadro.

Eu,
que sou retrato,
quadro pintado
aos montes de óleo,
desvelo-me em fólio 
e escorrego como posso por madeiras com fios negros;

Manifesto-me pelos dedos trêmulos da agoniada,
desesperada;
lambuzada com óleos azuis, 
resguardada e calada em bocas amareladas,
as fantasias loucas de tuas cintilantes noites passadas reluzem em teus olhos sem luz...

Cria-me menstruada de nostalgia,
sou orgia;
dita-me as cores exageradas de uma antiga menina que,
embora ainda viva, tua vida há tanto se esvaziava de encantos e de magias e
pinta-me, no fim das contas, a lágrima,
colorida, ensanguentada,
que escorrega dos fios de seus cílios
aos fios do pincel,
que molham minha face em cores douradas derivadas de mel...

Eu,
que sou retrato,
retrato os trapos e trepas 
de épocas passadas por aquelas bocas encharcadas; 
transas sem fim
são em mim a forma exclusiva de vida póstuma expressadas em meu folhetim...
Xingo os tantos
desencantos em meus traços,
me sinto santo
quando sinto que as mãos que me pintam, há tanto, enxugam prantos esboçados,
abafados,
calados...

Eu, 
que sou retrato,
Pintado de ruído,
de angústia carnal,
riscado em silêncio,
faz-me de revelia à memória aflita de uma velha úmida desapontada, desbotada,
perdida, esquecida;
Flor murcha!
De botões estapeados
pelas estações,
tem o cheiro do mofo
de tuas bodas escuras de cristal-quebrado que atravessaram gerações...


Eu,
que sou retrato,
sou soluço,
sou ingratidão,
meu busto é aflição do perdão do tempo que não veio, que tampouco há de vir;
sou o cansaço de sentir o tremor de mão,
sou o pavor do pedrão,
a dor de existir e se sentir que existiu em vão...

sou restos de tinta pingados a cada batimento cardíaco reduzido,
reduzindo aos poucos num quadro;
sou, enfim, os últimos traços da nossa velha como retrato,
de um peso morto, pintado.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

cálida calda

Em teu tremor,
nestas horas,
teu odor rompe as trevas das trompas,
sai de dentro de teu centro
meticuloso, se jorra em sondas,
se espalha terrível e apocalíptico
ao suor de tuas transas...

De teu escuro útero,
em ulteriores poemas
tua história se desliza
pelas paredes que se desmancham;
tua história se rebatiza,
reescreve, retrata
tua batuta e batalha
por tuas selvas que lhe mancham!

Deslizam rente ao abrigo,
rumo ao perigo
de se expor àquilo que é frio;
Das pregas as trelas saem,
gritam, caem e esgoelam,
hemácias aflitas
por fora dos lábios melam;

nestes ovários os gatos adormecem,
as luas aparecem
em cenários impensados;
surgem como do nada,
se aproximam aos teus,
copulam alguns amores
e, na semelhança de deus,
adormecem em raios solares...
raios tão incríveis por tão fracos,
tênues e gentis... sublimes,
teus perfumes espumantes,
teus brilhos naturais
na profundeza de tua escuridão
são plumas aos raios astrais;
em tuas nuvens de solidão,
vos instiga, enfraquece,
apaga, reacende, reaquece,
de acordo com teus humores,
com tuas luas em prontidão,
com tua prece e oração.
Em teu pessoal, íntimo
majestoso e grandioso porão,
onde a estrela sol é meretriz
criança imatura, aprendiz;
tu se vale, a tua grandeza,
teus raios invocam teu ser-te,
ser você, ser si mesma.

De ti trazes tua toda Mulher!
Tua ser quem és,
teu sentir dos pés
o calor surgir,
Subir!..
Emancipar e persuadir
quaisquer fiéis,
em quaisquer lugares,
em quaisquer motéis,
igrejas, parques,
ou até bordéis;

me cativas com teu parto,
tens meu tato para lhe tocar,
como um contato emprestado
nestas horas de amar;
me encanta tuas veredas,
tuas tirânicas e vermelhas
caldas cálidas e chiadas,
que, de tuas veias, vêm jorrar!

Lereis quaisquer contos,
romances tontos de um tanto
de errantes que tentam
te escrever;
tal como eu, que ouso
te perceber,
em meus alcances te tocar,
sem ao menos poder lhe ter...

Lereis tua cor,
tua Odisseia que brota
em borbotões escarlates,
Sereis o Vermute,
o Conhaque num embarque
pra outras estações;
Sereia, roda de samba e
capoeira,
tu és de Mulher,
do corpo melindroso,
sutil, grossa, que,
em despojo, se punja
em mel à saída estreita
do corpo-tesão;
adocicado escândalo,
bárbaro e perseguido
por Pérsias, Pigmeus
Atenienses, Romanos,
Prussianos, Franceses,
desde sempre, tu vens,
aos prantos, nos cantos
e espantos em vão.

Vieste de teu
tao longe interior,
a tratar de deixar-te
tão tépida como uma flor;
trazendo tua trama
em derradeira tensão,
trepando-te com tua transa,
tens, a ti,
menstruação.

domingo, 28 de abril de 2013

verso branco

por aqui, por ali,
vasculho e procuro tanto o verso branco...
talvez poderia falar por mim de modo esplêndido!..
mas não o encontro por enquanto, e, sereno
me sento e escrevo rimando o tanto que conseguir...
consegui! consegui?

mulher livre - uma necessária redundância para descrever Marina

sois a fortaleza que posso sentir
ao ver-te em teu sorrir..
em tua beleza entorto-me,
em tempos incertos que vêm e vão,
quando me espanto me pego amando-te,
enquanto teu encanto me ataca o pulmão;
faz-me perder alguns respiros tranquilos,
quando perco-me em suspiros ávidos,
tornam-me claros uns poucos delírios
por tua fluidez de teus espasmos...

sois puramente bela,
em tua eterna naturalidade,
tão explosiva e tão quieta,
afinca-me atenção a tua liberdade!

Ah, mulher livre!
livre mulher de alma nua...
da liberdade viril,
que me atordoaste há tempos com tua
vivacidade e feminino sutil...

hoje brado-te teus traços!
                                       [que antes me atacavam aos trapos!

amo tuas incontáveis asas,
que voam e planam em teus espaços,
infinito onde tua beleza em rastros
pinta de vinho livre tuas cristais taças!

tua alma,
cosmopolita do amor,
patriota das pátrias inexistentes
entusiasta dos desapegos resistentes
se faz presente nestes rastros
que teus laços deixam por onde passam
e por onde estacionam tua quieta e corpulenta presença...

Ah, tua presença!
que admiro e espero tê-la por duradouros tempos,
tão impávida mesmo em teu desalento,
nociva pela modesta extensa...

Tua riqueza de ser linda e pura,
és ser só tua, criatura soberana;
emancipada de próprias lutas,
refutas se matar por paixões estranhas!

és pura, e por ser tua,
és dura em tuas feições;
por tal, alguns tantos corações,
se amarguram e se perdem em perdidas paixões...

saibam amá-la,
cativá-la e compreendê-la,
corações ansiosos!
teus olhos me anunciam,
denunciam o erro ao lê-la,
corações penosos!

Poderias ter sido deliberado o terror em minhas fugas e redenções por parte de teu louvor de amor-próprio;
mas sei que não serias a própria se te entregastes às minhas bobas e desesperadas entregas de mim.
hoje tenho-te, sem a ter, sem ter-te a mim; hoje amo-te, sem a amar, sem amar-te a mim; hoje compreendo-te, em teu ser, sem que compreenda-te assim; hoje sei de mim, sei de você, sem você saber que sim.

sábado, 13 de abril de 2013

meu grande amigo

espreitado, fechado,
teus olhos vidrados
tentam tanto o longe
num perto canto do bar;

remoído, insistido
em teu ódio engasgado
vibra o pranto fechado
num certo espanto de amar;

espantado com a paixão,
com o seu lidar com seus amores
e em seus contratempos interiores
segue agarrado a pesos mortais

e calado em alucinação,
se faz estar vívido em pormenores
que pelos apelos próprios fazem-se maiores
se apresenta ao povo já como estás;

explodido em todos, em tudo,
o tanto quanto se resmungava sozinho
em seu interno se internou em ninhos
de arames e ferros de seus soluços

rasga ódio de tuas amadas,
a raiva do pródigo de alma e horrores,
é lâmina crua de tuas espadas
que cortam as pétalas de tuas flores!

se faz como lês, como os distúrbios
estais a sós com eles, teus atores e escritores
jantarás nos nós das escritas dos prelúdios
narrados e ditos em contos de horrores

ah, os horrores que tanto te cativam!
tanto te maltratam, quanto te instigam!
fazem-te maltratar a ti mesmo,
fazem-te limitar-te em teu medo!

teu medo, receio, desejo, ciúme
colateral, visceral de costume,
é o desejo torpe de maltratar, controlar,
berrar, gritar, quebrar e então se entregar;


não busques o rancor definhando
o olhar perdido e maltratado;
o rosto sombrio, o perfil espalmado
o espectro vazio, enfurnado em tal estado;


não faças mais assim contigo,
com teus amigos, com teus amores,
não arda mais em teus louvores,
em teus odes ao teu castigo;

não te metas em sombrios caminhos
interiores, buscado por teu procurar;
não esqueças que teus próprios espinhos
são tão finos, para te fincar;

espetar, furar, te esvaziar
de teu brilho que reluz em teus cachos
teus traços, tão admirados
e tão fáceis de amar;

sei do que te angustia
do que incansavelmente procura,
o que escuta e reproduziria
em tuas tramas em tua alma escura;

não te reduzas a abomináveis
atitudes terríveis por ter que explodir;
não te induzas a impensáveis
explosões que insistes em perseguir!

domingo, 7 de abril de 2013

um grito num domingo

e um grito silencioso abriu suas asas, levantou voo e escureceu o céu;
as asas choram penas de sangue, que coagulam os desesperados pelo chão, se arrastando a qualquer lugar, qualquer lata de lixo, jornal de ontem, qualquer marquise apodrecida, procurando abrigo;
e nuvens segurando o pranto fazem deste céu a tragédia;
fisgando seus órgãos, músculos inseguros puxam as fibras tensionadas, com as veias expostas e bem vistas, bem formadas, remoídas pela pele que sente o rasgar do vento frio e da imagem de catástrofe que lhe queima a normalidade das estéticas;
O grito voa como um pássaro esplendoroso, universal, onipotente, de olhos nublados, pulsantes; os dedos encolhidos, sem boca, sem lágrimas, sem suor, com seus cabelos embaçados e que mal podiam ser vistos sem uma confusão invariável e irritante; os cabelos se faziam de uma nebulosa marrom acinzentada.
O grito sobrevoa lentamente, em suas grandezas elementares, como quem impõe de súbito o medo, o quieto desespero e a segura tensão;
as nuvens, espumas antes escarlates escurecidas agora cinzas, negras e pálidas, flutuantes, tão firmes nos sobrepostos são o fundo perfeito ao terror e distúrbio do momento.
Num domingo qualquer, da janela que se abriu, se sentiu o menino em conflito e se perdeu no olhar perdido em busca de inalcançáveis;
da janela aberta, espreita os segundos ao fitar a cidade,
sem a atenção da paisagem violenta e calma, turva
se viu o grito silenciado, se percebeu a violência de teu estado,
e voltou-se o menino ao seu domingo, como os outros domingos,
e como os outros domingos, voltou-se o menino ao seu quarto

terça-feira, 2 de abril de 2013

os demônios são lindos

segunda-feira, 1 de abril de 2013

eu

tenho vários,
várias, tudo, todas,
todos, meus, eles,
elas, os desenhos,
as prosas, as conversas,
as variações, as invenções,
as conquistas, as glórias,
as tristezas, memórias;

tenho os aviões, as guerras,
sangues, os furacões,
tenho a mim, tenho as vidas,
tenho trocados, os Estados,
os tratados e os pecados,
os requintes, os venenos,
os penosos, os serenos,
os lutadores, as guerreiras,
as espadas, dragões,
os castelos, príncipes
e as princesas rebeldes;

tenho as consciências,
as consequências, as ciências,
as filhas dos generais,
dos delegados e dos fazendeiros;
os irmãos, os primos,
as primas, as primeiras,
as últimas, os primeiros amores,
os amores, as amoras,
as flores e as florestas,
tenho as cartas, as aspirações,
as paixões, nuances, os perfumes,
os relatos, os retratos,
as físicas, biologias e químicas;

tenho os mistérios,
os véus, os lençóis,
as praias e os menores do centro da cidade,
tenho os laços,
tenho os meus braços,
os meus dedos,
meus músculos, minhas veias,
meus instintos de animal,
minhas fomes, destruições,
alucinações e manias de perseguições,
tenho minhas orelhas, meus olhos,
meu corpo, minhas objeções;

as políticas, os estreantes,
os errantes, os errados,
os corretos e os manipulados,
as estruturas, as máquinas,
as modernidades, as estações,
os acontecimentos,
tenho os cemitérios,
tenho os carnavais, os quintais,
as casas, sobradinhos e mansões,
tenho as mães, tenho as saudades,
tenho as línguas, as estrelas,
tenho as sereias,
os cantos e os encantos,
os encantados, os envenenados,
os corredores, apostadores
e os infratores;

tenho os direitos, as forças,
as forcas, as igrejas,
religiões, as índias,
caravelas, os mares,
as novas terras,
os urros dos escravos,
os oceanos e os monstros,
os demônios, os deuses,
os paraísos e os infernos,
tenho as  meninas,
os meninos, os lares
e as ruas, praças,
cidades, nações
e culturas;

tenho as firulas,
os charmes, as respostas,
tenho as suas respostas,
as suas indagações,
as suas vibrações
as suas paixões
as suas emoções
as suas insistentes conclusões
e ações,
tenho as suas costas,
suas pernas, suas mãos,
os pesos que recaem nessas suas costas,
tenho pena
tenho raiva
tenho pressa
tenho angústia
pretensão
ambição
sensibilidade
tenho tremores
flores, cheiros e sabores;

tenho horrores,
tenho cruzes, credos,
tenho as suas premissas,
tenho as suas vias,
tenho os seus errados e os seus certos,
as suas espreitadas na porta um pouco aberta,
as suas espiadas na fechadura,
as suas escapadas em fitadas da sua janela,
as suas entreolhadas nas festas,
tenho as suas astúcias
tenho as minhas fraquezas
tenho nossos encontros
tenho nossos desencantos
tenho nossos telefones
tenho nossos contatos
tenho nossos amigos
tenho nossos retalhos
nossos retratos
tenho os restos de acordos fechados
tenho portas fechadas
tenho céus imensos
tenho seus sensos
tenho meus pensamentos;

tenho, no fim
tão longe e retumbante quanto o verbo ter
mesmo sendo o quão longe esse no fim,
tenho a mim
tenho o amor, pávido, universal,
multilateral e imenso,
tenho o amor a mim
enfim, tenho eu,
e tudo que se realiza
em torno do esplendoroso certeiro da existência
e de única condição de conjugação do verbo ter,
tenho a mim!

domingo, 31 de março de 2013

te escrever me instiga

por que se faz tão forte,
que em estrofes
me reviro tentando
lhe descrever?
por que me pego
desatinando em versos,
que por certo servem
para citar você?

parafrasear algum excerto,
exagerar em alguns sonetos,
para explicar alguns momentos
de euforia de paixão...
remoer inspiração
em te ter numa canção,
numa rima que viria
te amarrar em meu colchão!..

que faria-te de doida,
que me amaria a noite toda,
em toda noite minha,
nossa, nessa rima;
que me agarraria e sacudiria
quando eu me fizesse de todo seu;
esse destino que todo dia
a mim se ofereceu..
sincero, franco, tua ternura
me fizeste agarrar-te como nunca
ou como sempre, mas agora a boa nova
de me entregar à tua prosa..

entreguei, me lancei!
ao tal destino de poder lhe ter
de ser-te, enfim, alguém
que há muito não pude ser!
de acompanhar teus cabelos
crescendo como crescendo nosso nós;
nosso nós dois, ao nosso esmo
ao léu de nosso a sós!
a sós, me perco na vastidão,
do que a sós me apresenta o que és;
oh, rimas minhas que arrastam aos pés,
do vasto certo que é a paixão!

se faz realizado um canto cantado,
como um verso, submerso, escrito,
quando se perde num sublevado delírio,
do amor de algum inspirado;
inspirado, me inspiras,
talvez sem a perfeição nas rimas;
talvez sem a alucinação das lindas
críticas de poesias bem escritas;
talvez sem a emoção de um Vinícius,
ou sem a perfeição do nosso Chico;
mas com certeza, vibrou para tal escrito
um dia um clamor de amor em um menino

segunda-feira, 25 de março de 2013

me vingar eu não ter você


me pego confuso
quando ora me atrevo,
ora me recolho,
ora me olho em meus olhos
e não me entendo;
ora lhe perdoo,
ora choro de teus olhos,
e me condeno;
e já me comprometo,
mas já me perco em perigosas prosas comigo mesmo;
me aperto, me esquivo
me retiro..
mas volto-me aos teus olhos
e é impossível acompanhar
o inevitável destino
sem me frustrar,
e quanto mais me reviro
é impossível te olhar
te fitar, te amar
sem me maltratar
e sem me instigar
a me vingar, te xingar
a te cuspir, berrar em ti
a fazer-te desesperada por qualquer motivo
bastasse apenas que fosse por mim;
mas volto a mim,
retenho-me;
remoído, retido em dores prontas
acabo vendo que no fim das contas
só me perco assim desvelando as gotas
dos meus olhos que fogem dos seus;
os meus olhos que perseguem os seus
de sólidos se desmancharam em borbotões,
em revirados fólios de minhas certezas de possíveis conquistas
e não encontrados nas tristes linhas de minhas anotações;
sem canções, sem poesias,
sem estrofes, sem bordões...
sem excertos
sobre incertezas
sem começos,
sem conclusões

quinta-feira, 14 de março de 2013

O Devir e o Desvario por uma fraqueza

este rebuliço instigante
em tempos nisso de sismos
disso que atravessas ofegante
em seus internos conflitos

teus is sem os teus pingos,
atribui ao alheio e defasado devir
os pontos soltos indevidos,
te escondes e reafirmas ao aduzir:

que o inferno são realmente os outros!
que os loucos dessa infame roda
rogam pragas bem vestidas, mórbidas,
ao teu pranto, imponente, rouco!

e os insolentes cantos desses malditos,
insistes tu em vos atribuir
em aludir que há em teus intrínsecos
as piores designações que possam existir!

coitado, insistes o atormentado,
vibrar calúnias e ódios latejantes!
pulsantes mas embriagados,
entoados por uma fraqueza rastejante;

que se humilha quando te sentes
fraco e triste o suficiente;
mas que outrora ristes como nos carnavais
junto àqueles que vos atraem;

vos atraem, te engana a ti próprio
ou te prendes em tua jaula
teu medo em público, amargo e impróprio
lhe impõe o cerco, amordaçada

amordaçada fazes a tua imagem
carência exata duma ciência fraca;
a ciência exata duma fraca alma
lhe rasga o orgulho, natural, selvagem;

Oh devir maldito!
Oh, desavir imundo!
Que as tralhas escutem o grito,
de um homem que procura conhecer-se a fundo!

Chuva que cai amiúde,
um míope emocional lhe clama,
que sejas desfalecida tua rude
e súbita agonia mundana!

Reclama, reclama!
reclamas a ti próprio,
oh cruel pensante;

Envolto ao véu
de seus semelhantes,
teu drama és nulo,
insignificante!

o que vias como beleza,
hoje tens como certeza
a agonia e a tristeza;

o que sentias retumbante,
hoje sentes ofegante
companhias inquietantes

És um mero perdido!
iludido e tens medo
De amores traídos,
eventuais desesperos...

Então te desesperas!
ansioso, se entrega,
E onde vias precioso
agora é terra que lhe soterra!

E eis que esbraveja,
grita impulsivo;
berra um grito vivo
eu tua voz trêmula, porém sincera:

Entusiastas do Devir,
sois importantes para mim!
Escancarem minhas fraquezas
que é para eu as destruir!

Apaixonado grupo do Devir,
mantenha distância de mim!
Minha preguiça e repugnância
fortalecem o asco que sinto por ti!


terça-feira, 12 de março de 2013

sisma


o pior é a tristeza inevitável,
da certeza que o melhor
era ter sido evitado
o anunciado escancarado
que um dia sofreria,

se acaso a minha
alegria iludiria
e a euforia me faria
cego e surdo
um tanto mudo
como a tudo
sempre me fiz,

como a todas me entreguei,
como a esta o repeti!
como agora me deparei,
numa cova em que cavei
duma história, que perdi
o tanto que nela insisti...

agora canto e escrevo em vão
tento a mim próprio me consolar
mas não se consola a desilusão
com a antiga sisma de querer voltar;

talvez até queiras, mas é certeza
que é impossível, que eu fiz o certo
em ter sido uma vez sincero
não ter insistido, era besteira

era certeira a minha angustia
tanto era que hoje aqui está
não restava nenhuma dúvida
já sabia o que poderia dar,

e deu! se consumou
sofreu, aconteceu
e o tempo não se deu
por vencido, não passou

mas, ah,
há de passar,
há de passar, sei
há de passar..

e o pior é a tristeza
inevitável,
da certeza que
o melhor era ter sido
evitado
o anunciado
era preciso
evitar o
evitável...

sábado, 16 de fevereiro de 2013

the show must go on


no fim das contas
é só aquela busca das suas cores
que faltam e nas pontas das pétalas das flores se encontram
dos cheiros que nos odores dos jardins cheios de flores te encantam
te encantam e recontam que no fim das contas
conta-se o veredito, ao pé de seu ouvido
e os pés já trêmulos não suportam os tantos vermutes encantados que vêm sendo recebidos
tenso, abatido, bebido os cortes dos traçados
os tragos dos maus tratos
perdendo os tentos do baralho
compreende o fim das contas quando conta a ti o teu passado
quando compreende de si o teu legado
enquanto surpreende consigo mais um naufragio
mais um floego suprimido já antes anunciado
no fim das contas
cobriu-se das águas que conhecem os caminhos
rumo ao peito,
espreitou se eram novas falhas que pereciam dos seus feitos
desfeitos e desafetos
rumo ao peito aberto no qual seus restos respondiam negativas
às investidas da questão
e agora apenas aquelas rimas tão reditas com "ão"
desilusão, ilusão, solidão, sofreguidão
no fim das contas
seria a mesma paixão
apenas a mesma

his last voyage

Como se o frio
não viesse com o arrepio,
e o sopro
não fizesse o assobio;

Como se o stresse
não se fizesse
da rotina
e como se o louco
não tivesse, ao menos um pouco,
um momento de gritaria;

como se a canção
existisse
sem a interpretação
e a bronquite,
doída,
tossisse sem a rouquidão;

como se o peito
trêmulo
não tremesse do vento
tênue
trazendo emoções
serenes,
entretanto impetuosas;

como se o Sol,
descendo,
em meio ao céu,
imenso,
não provocasse
catástrofes
visuais
como as Auroras;

Como se agora
as estrofes, a história,
as lápides, as lutas,
vitórias, emboscadas,
as frutas catadas
nos bosques, nas grutas,
nas matas,
estivessem vazias de sentido;

como se o homem
não os tivesse feito,
exprimido, cantado,
gritado, louvado,
cuspido,
morrido no leito da guerra,
deitado na solidez da terra,
ou mesmo não tivesse sofrido
na solidão que berra;

Como se eu escrever
essas linhas
não tivesse ligação
com essa minha
solidão
que me assoterra;
maltrata;
me mata;

E faz-me comparar
as chibatas com as costas,
as rodas de samba
com as nossas
sambistas loucas;

Como se realmente
tivesse ligação
umas com as outras.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

coisa antiga rs


Queria namorar o português e sua grandeza como é..
amar tua alma e saciar minhas aspirações!
Para eu brincar com palavras, poesias e canções
o que brinco num brinquedo duma praça qualquer!

não quero falar

não quero falar do que me provoca teu beijo,
o meu te ver, o teu sabor..
eu até amaria, ousaria rimar!
não, não quero falar, pois talvez me esqueço
de você, meu amor,
que já é poesia, que me ensina a amar!