segunda-feira, 10 de junho de 2013

auroras ao 18 de julho

18 de julho chegando e tanta coisa chegou,
se foi, passou, ficou e algumas tantas me distanciaram de você
como tantas outras fizeram-te distanciar de mim..
Outras tantas algumas por mim passaram parecidas como passou você,
mas algumas tantas lembranças de você ainda passam por aqui...
Talvez não saibas, mas a nossa lua às vezes me conta
segredos tão seus que só ela sabe, por estar sempre lá,
te paquerando e talvez te amando do mesmo modo...
Vai saber, né, pra quem sobe aos negros e gigantes céus
todos os dias, se veste de branco esplendor
para te vigiar sempre!.. Talvez realmente continua te amando de mesmo modo...
Às vezes ela assusta meu coração quando,
ao fitá-la de modo mais curioso,
me deparo com o seu cigarro de palha,
o seu Coiote, o nosso Ave Sangria,
a água que lhe comprei no dia em que nos conhecemos..
Mas, por fim, a lua compreende a força natural do tempo,
da vida, das coisas como elas são, e se põe...

Já que tudo foi feito pelo sol,
toda aurora é uma boa nova aos 18 de julhos da vida.

sábado, 8 de junho de 2013

ao filho que se matou

me sangra a esperança,
me aperta a ferida que não tem cura,
me agoniza a dor que me afinca dura,
que não é branda, que não estanca,
que sufoca o ar em minhas preces,
que me queima e arde à flor da pele...

em minh'alma crua,
um vazio imenso
me afunda no desalento de lhe caçar;
me aperto e tento
te buscar o tanto quanto eu puder tentar,
onde quer que penso que ainda possa estar...

Ah, me enlouquece
o fato de saber
que não vai voltar,
não mais me conforta
tentar lembrar
dos abraços que você
vinha me dar,
me beijar, me olhar
e dizer "Mamãe,
como você está?
Mamãe, o que tem pro jantar?
Mãe, feliz dias das mães,
eu te amo, mãe",
na sala de estar..

Mas dói,
isso tudo me dói,
minh'alma em prantos
nos cantos da sala
busca tua presença,
busca evitar a barra
que passo em tantos
sonos perdidos
por tua ausência...

Se perdestes na imensidão
da vida em tua vida,
onde até a morte cabe,
e onde aos vivos
cabe a despedida,
do filho que vai
e a mãe fica, aflita,
perdida, desnorteada,
sofrida, angustiada,
sem vida...
Perdestes nossa vida!

Pedaço arrancado,
litígio apertado,
trauma plantado!
Estrangulado, o pescoço
palpita apertado
o sangue engasgado
em mim!

Sufocado o meu parto,
sucumbido no ato
do filho enforcado!
E na dor do vazio,
o retrato sem brilho,
infortunas o frio...
em mim!

Oh, meu filho adorado,
nascido e criado
com amor e cuidado,
torço que abra a porta
e que me abrace de volta,
que me leve p'ra fora
dessa escuridão;

Mas meu peito rouco
trêmulo, louco
me destinas agora
o retorno à morta
certeza de morte
de teu clarão!..

Meu filho, morto,
Ao menos, aos poucos,
voltes de volta,
me chames agora,
meu ventre chora
por solidão!

Retornes,
espero, eu quero,
desejo, aperto
meu peito,
teu leito, vazio,
me mata a razão!

Meu filho, eu te amo!...

Não!.. Não...

domingo, 2 de junho de 2013

de brasília, quem sabe um dia

Entre,
deixe-me lhe apresentar tua filha em mim, já que me apresentaste tuas filhas a mim. Nasceste desorbitante e latente um útero em mim, de ti. Venha, danço contigo a dança eterna da juventude que saltita em teus olhos. Danço como nunca antes, juro-te, hei de surpreender-te mais e mais, por ti. E hei de envolver-te mais que meramente dançar, o que amaste em mim. E que líquido ardiloso, formigante e dormente que escorrega desse útero corpo adentro e pernas abaixo aos pés em mim! Fizeste de um vibrante e órfão coração em tua plenitude juvenil um borbulhar jubiloso e inquieto. A princípio, por tuas filhas. Após, por ti. A sensatez não intimidou. A tradição não calou. A moral não suprimiu. Essa, passou longe. O pecado, que bêbada insistiu em aluzir, em ressaltar, eu sei que era apenas algo irrisório, para ter algo no que se basear para negar o que sentíamos. Nós sabemos. O uísque, ah, o uísque, o nosso uísque, que nos envolveu como um lenço ao rosto macio de uma criança emocionada, como o tango ao argentino mais fervorosamente apaixonado, como o tirar das roupas ao casal num determinado minúsculo quarto de hotel no interior da Espanha, este uísque, que nos envolveu de tal modo, escorreu como dilúvio de malte e bourbon paixão a dentro, tesão a fundo. Fez-me úmido para que meu estribilho dos pot-pourri de boleros italianos fosse fecundado pelo teu desconhecido não-sei-o-quê. Não-sei-o-quê! Que me cativastes! Me apunhalastes! Tua você em diálogo com tua idade? Seria isso?.. Aliás, o meu observar-te a fundo, vasculhar teus anos de vida, tua vida, teu rosto lindo, cheirar teu perfume maduro... Seria isso? Sei que me cativastes e me apunhalastes... E que me destruíste tanto... Mas não me conheces. Sou daquele que enaltece, que engrandece, que vibra, que saúda, que se apaixona... Tua presença, a partir daí, me deteriora. Me saboreio dos devaneios dos meus novos dias, dos meus novos olhares perdidos. Da presença quente trançada pelos mantras dos uísques, das danças, dos vinhos, das nossas idades, perco-me na vastidão do não tê-las durante mais que aquelas poucas cinco ou seis horas...
Entre..
Entre!

Sim, quem sabe um dia...