quinta-feira, 16 de maio de 2013

a disciplina nos corpos

os mutilados disciplinados,
embotados de domínio,
surgem como monstruosidades
aos batalhões de milhões à luz do Sol.
Se desfazem de vós mesmos
como a solidão entristecedora
perante a presença exuberante da lua,
aos tropeços, temores, medos.
Os desvalidos de domínio
catalizador de corpos-motores
estáticos em seus movimentos
predestinados, se lançam
madrugada a dentro em
busca de uma gota milagrosa
de orvalho-libertador
que eventualmente cairia
das esperanças em nuvens que
teimam não se desmancharem...
Nada de esperança,
nada de novo,
nadam na maldição do
não haver saída
e cai lento o relento desta
maldição surda, silenciosa e muda;
o dia renasce e retoma-se
a rotina assombrada e vigiada,
espalmada e aterrorizada
dos dóceis e piedosos
disciplinados do movimento
admirável-mecânico-natural.
Os corpos dominados
gemem suas ausências.
E o velho mundo se esbanja
em engrenagens.

dos porões: março de 2011

o coração aperta!

porque não aperta minha mão
e me deita no chão?
emacia minha perna
que não aguenta a pressão?

porque não fecha meus olhos
pr'eu dormir no balcão?

pra cabeça esvaziar
do vazio, então,
coração,

não aperte!
bata!

e mate
o que mata
a ti
e a mim!

bata
e refaça
de ti
meu jardim!
..

uma vida em uma rima de viver com morrer

Oh vida,
embora me crivas fustigada a penosa dor que é viver,
Me resta ainda resguardada a certeza que um dia hei de morrer.

Oh vida,
valha-me céus, vida, vou te esquecer
e viver;
Oh vida,
é assim, vida, vou-me viver
pra morrer.

E assim rimamos. E assim vivemos. E assim levamos. E assim morremos.

terça-feira, 14 de maio de 2013

em minha belo horizonte - janeiro de 2013


posso perceber a força de um carnaval
assim como a força do tempo de um para o outro
a paixão, o amor, a ilusão, a felicidade teatral
com os corações sutis que foram colados no rosto..
ilusão,
pudera eu entender perfeitamente os compositores
quando estes atribuem ao carnaval essa definição
e posso, pude, entendi, vivi, vi os senhores,
as senhoras, os garotos, as garotas
os amores e as amoras florescendo maravilhas
no carnaval, a paixão estourando serpentinas
no meu quintal
o amor ecoando agonias nos meus dias de pingas, limão e sal..
no carnaval,
meu carnaval, tão voluptuoso, libertino e dramático
choros e sorrisos engasgados eram tossidos da alma
expelidos e excrementados à carne crua, a alma nua
vibra e canta marchinhas de marchinhas de rua
embriagada e tonta a alma menina tinha suas angustias
mas cantava, se emocionava, bradava tuas figuras e gritava hinos contra a moral
contra os costumes conservadores do amor convencional
católico e retrógrado dos ciumes que deveriam ser vencidos e sucumbidos durante e após o carnaval
oh, meu carnaval
não me trates mal, sejais piedoso

dê-me tu de corpo e alma
na forma dos dias
entre quinta e quarta
que dou-me a ti de coração
para receber em troca justa
a cura da minha solidão

dê-me tuas músicas,
tuas marchinhas, teus confetes,
tuas nuances,
noites libertinas que me aquecem

que me clamam o amor em forma de diluvio espontâneo
que me confortam durante alguns dias festejando..
ah o carnaval, venha a mim, se uma dia eu estiver novamente me apaixonando!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

À Lua Minguante


Lua Minguante,
que seduz que eu me deite
em teu leito brilhante;
tua luz,
clarão espumante de leite
encostado em espasmos
brancos flutuantes,
ralos, tímidos, esfumaçados,
perdida na vastidão negra azulada
de teu reino enfeitiçado,
conclama aos embriagados
atenções e soluços chocados...

atiçado meu sentido
de sentir-te e sentar em ti,
debruçar e me espreguiçar em ti,
aí, em ti, justo em ti,
que tão longe abismo mortal
nos afinca a separação;
Daí, quero maravilhas que daqui
sonho todos os dias em que me volto a ti
para contemplação.

Daí, que nos observa
com maestria e percepções lunares,
fantásticas, nos ares
da lunática obstinação;
Acompanhada de
tuas companheiras solitárias
espalhadas pelo infinito espacial,
[as estrelas entrelaçadas
por teu perfume noturno e astral]
onde os passos largos dos Deuses
se realizam, se compõe,
compondo reverias divinas
como poesias plásticas aos nossos
olhos latentes;
Acompanhada destas tuas estrelas,
satélites, cosmos, meteoros,
liturgias, astros, feiticeiras,
da retinente existência
que lhe faz reluzir,
da expoente frieza
que lhe sustenta
o contraste do negro faisão-céu
com o teu alvi-existir,
me aparece perfeitamente
redonda em teu surgir, nascer
se fazer de Lua ao entardecer,
aparecer aos olhos de chorar,
ostentando tua ternura
serenamente para, a ti,
me curvar;

Oh, Tua curva, Lua Minguante!
Tua curva!

Daí de tua curva tuas pontas
vislumbram o norte e o leste,
ousadas pontas,
que virtuosas enfrentam
os ditames mitológicos dos fins
dos céus; pontiagudas e viris
são estas extremidades desta curva
incandescente, fina-grossa-fina,
que nos choca a perfeição;

Daí, Lua Minguante,
pego-me delirante febril
ao teu lado,
tenho te abraçado, beijado,
tenho estado perfeitamente
em minhas humildes batutas mentais
alucinado por tuas tais curvas
turvas e chocantes em tempos iguais...

Mortais, Lua, Oh meros mortais!

Dos quais sou um torpe indigente,
que ousa lhe cravar os dentes,
enfincar as unhas em teu redentor
clarão;

Estás, Lua, é claro que estás,

em postais diversos, aos milhares
de milhares espalhados na solitária humanidade,
que, sem tua bondade e grandeza,
certamente se mataria pela fraqueza
de se pegar em solidão;

Desejo-te toda tua alma,
tua carne-energia pura
absorvida do Sol, teu grande parto;
Desejo estar em ti, em toda tua trama,
lhe escrevendo, descrevendo,
por teus interiores brancos em chamas,
palidamente intensos, em teus cantos
à noite a adocicar os prantos na minha cama;

Oh, Lua Minguante,
nua, princesa da beleza natural
e do desejo boreal,
Desejo estar em tu como minha cama-mãe,
minha satélite-rainha que me estigma
a existência de vibrar;
querias, em ti, estar escrevendo sobre nós,
deitado, a sós, em teus braços, teus lençóis,
como rouxinóis em ninhos noturnos a cantar!

Oh Lua Minguante,
me afortunas, me cativas,
juro te amar!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

a velha

Relato de um quadro pintado por uma velha negra pintora desiludida, apaixonada, perdida e humilhada por tua vida estúpida e órfã de algum qualquer amor que não existiu, que amargamente morre pintando este teu último quadro.

Eu,
que sou retrato,
quadro pintado
aos montes de óleo,
desvelo-me em fólio 
e escorrego como posso por madeiras com fios negros;

Manifesto-me pelos dedos trêmulos da agoniada,
desesperada;
lambuzada com óleos azuis, 
resguardada e calada em bocas amareladas,
as fantasias loucas de tuas cintilantes noites passadas reluzem em teus olhos sem luz...

Cria-me menstruada de nostalgia,
sou orgia;
dita-me as cores exageradas de uma antiga menina que,
embora ainda viva, tua vida há tanto se esvaziava de encantos e de magias e
pinta-me, no fim das contas, a lágrima,
colorida, ensanguentada,
que escorrega dos fios de seus cílios
aos fios do pincel,
que molham minha face em cores douradas derivadas de mel...

Eu,
que sou retrato,
retrato os trapos e trepas 
de épocas passadas por aquelas bocas encharcadas; 
transas sem fim
são em mim a forma exclusiva de vida póstuma expressadas em meu folhetim...
Xingo os tantos
desencantos em meus traços,
me sinto santo
quando sinto que as mãos que me pintam, há tanto, enxugam prantos esboçados,
abafados,
calados...

Eu, 
que sou retrato,
Pintado de ruído,
de angústia carnal,
riscado em silêncio,
faz-me de revelia à memória aflita de uma velha úmida desapontada, desbotada,
perdida, esquecida;
Flor murcha!
De botões estapeados
pelas estações,
tem o cheiro do mofo
de tuas bodas escuras de cristal-quebrado que atravessaram gerações...


Eu,
que sou retrato,
sou soluço,
sou ingratidão,
meu busto é aflição do perdão do tempo que não veio, que tampouco há de vir;
sou o cansaço de sentir o tremor de mão,
sou o pavor do pedrão,
a dor de existir e se sentir que existiu em vão...

sou restos de tinta pingados a cada batimento cardíaco reduzido,
reduzindo aos poucos num quadro;
sou, enfim, os últimos traços da nossa velha como retrato,
de um peso morto, pintado.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

cálida calda

Em teu tremor,
nestas horas,
teu odor rompe as trevas das trompas,
sai de dentro de teu centro
meticuloso, se jorra em sondas,
se espalha terrível e apocalíptico
ao suor de tuas transas...

De teu escuro útero,
em ulteriores poemas
tua história se desliza
pelas paredes que se desmancham;
tua história se rebatiza,
reescreve, retrata
tua batuta e batalha
por tuas selvas que lhe mancham!

Deslizam rente ao abrigo,
rumo ao perigo
de se expor àquilo que é frio;
Das pregas as trelas saem,
gritam, caem e esgoelam,
hemácias aflitas
por fora dos lábios melam;

nestes ovários os gatos adormecem,
as luas aparecem
em cenários impensados;
surgem como do nada,
se aproximam aos teus,
copulam alguns amores
e, na semelhança de deus,
adormecem em raios solares...
raios tão incríveis por tão fracos,
tênues e gentis... sublimes,
teus perfumes espumantes,
teus brilhos naturais
na profundeza de tua escuridão
são plumas aos raios astrais;
em tuas nuvens de solidão,
vos instiga, enfraquece,
apaga, reacende, reaquece,
de acordo com teus humores,
com tuas luas em prontidão,
com tua prece e oração.
Em teu pessoal, íntimo
majestoso e grandioso porão,
onde a estrela sol é meretriz
criança imatura, aprendiz;
tu se vale, a tua grandeza,
teus raios invocam teu ser-te,
ser você, ser si mesma.

De ti trazes tua toda Mulher!
Tua ser quem és,
teu sentir dos pés
o calor surgir,
Subir!..
Emancipar e persuadir
quaisquer fiéis,
em quaisquer lugares,
em quaisquer motéis,
igrejas, parques,
ou até bordéis;

me cativas com teu parto,
tens meu tato para lhe tocar,
como um contato emprestado
nestas horas de amar;
me encanta tuas veredas,
tuas tirânicas e vermelhas
caldas cálidas e chiadas,
que, de tuas veias, vêm jorrar!

Lereis quaisquer contos,
romances tontos de um tanto
de errantes que tentam
te escrever;
tal como eu, que ouso
te perceber,
em meus alcances te tocar,
sem ao menos poder lhe ter...

Lereis tua cor,
tua Odisseia que brota
em borbotões escarlates,
Sereis o Vermute,
o Conhaque num embarque
pra outras estações;
Sereia, roda de samba e
capoeira,
tu és de Mulher,
do corpo melindroso,
sutil, grossa, que,
em despojo, se punja
em mel à saída estreita
do corpo-tesão;
adocicado escândalo,
bárbaro e perseguido
por Pérsias, Pigmeus
Atenienses, Romanos,
Prussianos, Franceses,
desde sempre, tu vens,
aos prantos, nos cantos
e espantos em vão.

Vieste de teu
tao longe interior,
a tratar de deixar-te
tão tépida como uma flor;
trazendo tua trama
em derradeira tensão,
trepando-te com tua transa,
tens, a ti,
menstruação.