terça-feira, 13 de dezembro de 2011

encontrado nos porões daqui, só o primeiro parágrafo de alguma noite embriagada ._.

Vibrante e impactuosa, ela dançava e esbanjava seu glamour sob chãos escorregadios, se aventurando, perdida em seus anseios, aparentemente inabalável, causando inveja naquela que poderia lhe fazer cair a qualquer instante, sujeita a despejar ao menos um jato de detergente ao chão para ruir de imediato a sorridente ansiedade. A sorte, com o poder em suas mãos, invejosa por natureza e não menos vingativa, passeava ao salão tentando distrair tua atenção, engolida pela imagem alheia, de alguma maneira, seja por ironias trocadas em pequenas conversas com o revés, seja com mais alguma taça de champanhe ou mesmo fumando mais algum cigarro ali por fora.

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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"E o meu tempo é o infinito.."

De onde viria o brilho de um piano se não da virtuosidade dos dedos versáteis e apaixonados guiados pela imaginação e genialidade de um compositor?

Do que valeriam as flores se estas não tivessem espinhos para enaltecerem um contraste com a delicadeza de suas pétalas, contraste este talvez um dos fatos mais explicativos da natureza? O ódio e o amor, a vida e a morte, a esperança e a desilusão, a existência e o nada, pilares fundamentais para o homem, para seu desenvolvimento e seu viver de fato!

Do que valeria a própria natureza se não existisse algo para compreendê-la e inclusive vive-la? Seria a natureza digníssima como é se não existisse essa própria compreensão de que ela é digníssima?

E a pintura, sem a paixão exacerbante e intensa daquele que manifestou seus anseios numa tela com apenas tintas e pincéis, o que seria?

E a música... Oh, a música... A mais exuberante obra artística, a mais efusiva maneira de transmitir e perceber os sentimentos mais humanos; teria ela a mesma magia se fosse apenas uma melodia a-sentimental?

Enfatizemos os sentimentos! A paixão, do que valeria se não fosse realmente apaixonante, vertiginosa, esperançosa e sem critérios? Do que valeria se fosse limitada ao destino, a uma linha delimitadora fundada em preceitos e costumes? O que seria a paixão sem o calor da tentativa, da vulnerabilidade ao erro em busca do impossível ou mesmo do que se julga incorreto? A paixão sem liberdade é o a sem o z, é o alpha sem o beta, é o verso sem o poeta; a limitação dos sentimentos humanos é a destruição do humano, da sua possível missão durante tua breve e inexplicada vida, que é vive-la, amá-la e sobretudo amar!

O que seria esse meu suspiro se não fosse relatado? Seria a paixão aprisionada! Seria algo que clama por se manifestar, que anseia por urgir e, entretanto, sofrer-se-ia nos porões dos sentimentos, torturado seria pela limitação humana!

E o teu beijo? O que seria se não tivesse esse peso todo carregado? Se não exprimisse toda essa alucinação vertiginosa? Se não fosse de fato o teu beijo?

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

o pântano


Apesar das previsões, apesar da espera certeira da lua, indesejada lua que ouriça e arrepia, apesar do mar não estar de bom humor e já, há semanas, evidenciava continuamente alguma poderosa tormenta, cada vez mais mergulhava o homem, cada vez mais o homem enfrentava o astro e cada vez mais desafiava qualquer decepção predestinada.

O homem entrou na selva, no pântano mergulhou nas úmidas plantas pesadas que se rastejavam no chão, que, em virtude da quantidade destas juntas, extremamente densas e que se abraçavam sob a pegajosidade da lama, pareciam mais um poço de algo qualquer penetrável mas custoso. Diante daquele ambiente sufocante, foi entrando o homem lama abaixo nas folhas, ficando com a respiração gradativamente mais ofegante, sofrendo incômodos choques em suas costelas, terríveis contatos inevitáveis de seu local mais frágil de sua pele quente com as folhas geladas por serem sujas e pegajosas, contrastando seus esforços braçais com sua por querer abstenção pensativa. Oras, descia ele, se esforçando desta maneira, justamente com essa intensão.

Apesar de pensarmos que o homem aqui desce, apesar de ser essa sua sensação ou mesmo tua vontade, não pode ele descer mais que alguns um metro e dez centímetros, a vegetação que lhe acolhe agora é sobretudo uma vegetação que corre o chão em uma união sincera com a lama, portanto não tem lá seus dez metros, ou mesmo cinco, como certamente ele desejara. O homem basicamente nada, mesmo tentando descer, numa direção linear depois de chegar ao chão, chão talvez mais fofo que a própria densidade vegetal que o sobrepõe nesses instantes. Não havendo mais possibilidade de continuar sua laboriosa descida, mantém teu ritmo a procura de alguma coisa que lhe atormenta, ou que lhe possa sanar o tormento.

Algumas cobras riam de sua debilidade de locomoção, rastejavam e mergulhavam com demasiada facilidade no lamaçal recheado, por momentos não hesitavam em passar próximo ao homem ironizando-o com suas astúcias pantanais. Alguns sapos gargalhavam seu suor, gelado e cortante, assim como alguns pássaros entediados apenas observavam do alto das árvores rabugentas, velhas e enrugadas, que também não perdiam a oportunidade de fofocarem alguma coisa ou outra engraçada sobre a humilhação do homem.

Já cogitada a hipótese dessas sátiras e desses sarcasmos provenientes dos mais experientes bichos daquele ambiente, os maldizeres nada afetaram o homem, que, enfim, parecia que encontrava o que queria. Repentinamente, subira à superfície de um modo tão fácil, que parecia ter encontrado forças divinas para tal. Certamente não encontrara, a doce ilusão desta divindade espontânea foi em decorrência apenas do contraste de tempos; demorara muito mais para escavar que para subir. Sim, mas não descera tanto, o que lhe favoreceu a subida repentina, ele caminhara tanto.

Urge o homem, sujo, com seus dedos já machucados de tão enrugados, com seus olhos avermelhados e ardidos, com muito barro impregnado em seus cílios, nu, com sua pele tremendo pelo choque térmico e com algumas folhas mortas grudadas em seu corpo pelo barro. Alguns bichos se retraem, outros assustam, outros simplesmente relevam o fato. Mas o que este maldito, com certeza sádico, homem foi se meter adentro das mais terríveis lamas pantanais? "Não te recolha, homem!", bradou, "Não te recolha jamais! Não destrua tua vida, única e sobretudo tua, sob licença de tua cabeça! Não tenhas medo do medo, da fraqueza, do sofrimento ou da angústia! Lutei, escavei, sabendo do momento que viria, do momento que veio enquanto estava ainda afundado no aparente lastimável pântano! Pois bem, eu o amo! Amo meus esforços, meus machucados, meu frio, minha vida por sentir tudo isso! Sofri pelas humilhações alheias, não pelas minhas peles rasgadas e podres! Eu já sabia, homens, que iria sofrer, mas nada pôde me deter nessa empreitada direção à máxima vivência que tive! Eternamente, as coisas as quais abdicamos do medo de sofrer mais pra frente, mesmo esse sofrer sendo inevitável, são as coisas mais intensas e proveitosas, e, talvez, as que nos renderão frutos com gostos deliciosamente inimagináveis!

Corra-te, homem, mate tua razão-por-razão, desenvolva seu instinto mais humano! Ame!"

Depois desse épico discurso, o clima, que já era naturalmente carregado, de cor cinza ou verde escuro, decaiu-se completamente, os bichos angustiavam pelos cantos escondidos do pântano, as árvores sofriam com algum vento que ousou soprar mais forte - de fato não vinham dias pluviais dos melhores - e o homem deitou-se onde entrava há algum tempo atrás. Aos poucos foi se afundando, perdendo tua bravura lentamente, teu sangue quente, rendendo-se, enfim, ao gelado predominante, e, provavelmente não tão feliz, rendendo-se também ao fato da tristeza ser, sim, o principal fator para a construção ou não de novos anseios. Volta, então, ao fundo do lamaçal, não mais enfrentando-o, não mais esbravejando contra a lua.