sábado, 15 de dezembro de 2012

seamus


vem, meu bem, eu quero que me siga
eu quero compor sobre a tua vida,
sobre o seu sorrir, eu amaria
poder escrever sobre seu amor,
sobre sua rotina, sobre suas delicias
o que voce ama, do que voce sorriria
sobre o seu acordar, sobre o seu bom dia
ah o dia, se viesse o dia
que espero e quero todo dia
que eu poderia caçar limas
para seu café da tarde
é tão linda essa menina a tarde
e a tardezinha ao deitar na rede
como eu faria pra matar minha sede
de te balançar suavemente
de te beijar inocentemente
só por amor..

quero escrever sobre o teu rosto
te pintar sobre o teu corpo
te amar sobre teus juízos
me encantar com teus suspiros
ah, seu suspiros,
imagino o que seriam se já os seus sorrisos são as canções mais belas da humanidade
se só a tua voz é a mais perfeita dessa cidade
sorria para mim, pegue minha mão
fujamos para onde não haja sim nem não
onde não haja aflição, só o amor, um violão
carambola, acerola, paz e um rio logo ali
só nosso, turvo e calmo, p'ra gente se divertir..

então venha, me disponho a ti,
meu coração, decidi, ele é teu, resolvi
lhe amar e pra mim
isso basta, não tem fim
we will be, so happy you and me
and no one there to tell us what to do
essa paixão cá dentro aqui
tem força suficiente pra construir
um novo éden para ti
um infinto jardim para lhe servir
as mais belas frutas de caqui
e os mais belos vinhos de Altemir

falarei ainda, um dia, à  tua graça
declararei ainda que me custe o nome na praça
o nome na roda dos adjetivos de ma fé
mas de que valem esses pejorativos comparados ao que você é?
de que vale eu me resguardar se escrevo sobre você? pois é
se ouso escrever, ouso ler, me atrevo a te conquistar
custe o que custar, pois me custa me apaixonar
me custa me embriagar, custe o que custar

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

o amor a se construir

e ele insiste em pular em frente a carros,
sempre os mesmos e atropelado de novo,
desiludido e um pouco abalado pelo seu destino
que insiste sempre nisso e me dá nos nervos isso de pular em frente aos mesmos carros
é um desespero construído pelos próprios calos ainda não calejados, e sofre de novo
tão novo mas tão sofrido

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

novo para o novo de novo

um pileque que faça dormir no fundo do sótão
um cheque de vida que haja fundo pra cobrir a dívida do órfão
pequeno, breve e recém órfão
irmão do desdém, ao relento da neve que desce lenta como a prece
do principe precioso a si de um abraço do esquecimento
que pede receoso de ti mesmo acolhimento no seio do desprezo
principe jogado, humilhado e sozinho
principe de tua fortaleza que para a realeza de fato não há beleza nos trapos
de tua alma solitária e em teu reino a hilária e cínica solidão
maltrata e destina como e para onde queres
a emoção da alma e de teu pobre coração
e o órfão de si mesmo,
como o principe a seu respeito resguarda-se em teu leito, em teu peito
em teu devaneio, em teu medo, em teu espelho, em si mesmo
o órfão de si mesmo
atordoado pela calmaria furiosa que ecoa em sua prosa
quando declamada a respeitosa poesia aos camaradas
cheirosas como rosas mas com espinhos acompanhados
os poemas do órfão tem seus versos encharcados
de rancor, órfão do amor, de ti mesmo, seja o que for
sejais sempre órfão para a eternindade que na realidade
torce para que acabe, sabe que o abate deste terror
morre instantaneamente quando palpita o sangue junto a algum novo amor

domingo, 26 de agosto de 2012

a moradia (!) da paixão é a revolução(!)


aquilo que há tempos foi tão grande e que tais tempos o fez distante
renasce numa noite, única noite, em que as estrelas ardiam revolução
e a moradia retumbava tão intensa em corações vários que ali adormeciam
e a paixão pulsava tão intensa num coração que se apertava mais pela conversa daqueles que há muito, assim, não se viam
uma conversa deles que se fazia nutrida da terra como leito a qual lutavam e de discurso às estrelas e às constelações;
talvez depois daquela noite estas se farão revolucionárias se alguém ousasse roubar-lhe o céu e suas imensidões..
e elas lá em cima exaltavam tanto o calor que sentia dos mais sinceros dizeres!
talvez , os dois, assim, jamais se viu; talvez por isso as contemplações que jamais sentiu

quarta-feira, 18 de julho de 2012

18 de julho

e foi há pouco..
e já sinto uma eternidade
e agora, na verdade
já passou tanto tempo
por tanto pensamento me acompanhar
e a rua me parece tão intensa
e a lua não mereceu a minha presença
ela não apareceu para me consolar
nem ela..
andando e pensando em parar
e sentar num gramado,
que ironia, flores tão rosas,
um frio tão típico dos dias desse julho amargo
me lembra tanto de coisas nossas
uma música que é tão nossa, tão alto...
me lembra tanto de como te amo
e eis que estamos
nos amando e distanciamos
um ao outro ao leu destino dos ventos;
que devem estar sempre tristes,
por correrem tão intensos
em busca de algo que por toda existência nunca encontraram..
tristes estamos nós, que em todo mundo,
sentados e calados
engolimos simultaneamente mágoas e soluços sufocados
por desilusão, alguns
solidão, outros
outros apenas por muito amor...
e me acompanha também a tão estimada embriaguês
tão esperada pelos ansiosos que se iludiam
que iriam sorrir sinceramente depois de alguns naufrágios e viam
que só lhes estava destinado, de fato
a amargura dos copos vazios que lhes encharcavam malstratos..
e é tão sinuosa minha cabeça
e tão dolorosas minhas lembranças
e tão lamuriosas essas minhas linhas me perdendo em lamentações mundanas
os desesperados apaixonados! (sic)
e os bebados sufocados! (sic)
de que valem para mim?
se o fato de eu estar assim tivesse alguma ligação, enfim..
não me perdi
e só penso em ti
pra variar
e escrevo a ti
pra variar..
e escrevo sobre ti,
pra variar...
não me julgues um imbecil desiludido, solitário,
como tantos foram
quando tantas vezes escreveram dores de traições
de romances, de paixões,
aqueles penosos poemas de lamentações
estes são tão chatos
e já mastigados
dos tradicionais insuportáveis angustiados..
me perdoe se por essas bandas tive andado com minhas palavras
e minhas queixas não se passaram de queixas já faladas
reditas e perdidas no vasto porão literário das tristezas da humanidade..
mas acontece que não sei expor
e isso dói, amor
e você sabe...
e vejo na escrita uma forma de desanuviar a dor
que você sabe que sinto..
exclamo que te amo, amor!
não estou, por essas confissões na verdade já confessadas
suplicando a qualquer preço
as nossas intensas noites passadas
de volta
me arrastando aos seus pés
e clamando emaranharmos e nos arranharmos em sua cama
de volta,
como se fosse tudo novo de novo;
não estou, apesar de saber que poderia estar
se fosse o caso..
eu me entregaria,
me entreguei o tanto que pudia
ao destino sem destino que tinha o nosso amor..
eu me entregaria de corpo e alma
à mútua complacência, reciprocidade
à intensa intimidade
que na realidade
é o que mais me aquece,
me sacia e me engrandece
de verdade..
me entreguei a ti
e sei que te entregaste a mim
e assim, a gente se amou,
durante meses sem fim
mas veio o fim
quando, talvez, te sufoquei
quando, talvez, te agarrei
e supliquei um mergulho na imensidão de nós dois
de somente nós dois...
te entendo do fundo do coração
reconheço o que me falou
sei intimamente do que sentiu quando em algum momento repensou
o que pensou conseguir
por mim
e sei como é não conseguir
porque também não consegui
mas vivi, tentando e conseguindo
por infinitos dias lindos
os seus sorrisos, nossos sorrisos..
dói, meu amor
saber de tudo,
mas doeria mais não saber de nada
ou saber que nos perdemos às custas de nada..
mas não quero aceitar(!!)
não me vejo aceitar
por te amar!
me vejo sonhar com outras tantas novas músicas que poderíamos cantar,
e tantos novos quadros que poderíamos pintar!..
desculpe se isso negativamente te atinge
como se fosse de minha parte alguma pressão;
mas me aflige o sliêncio do meu peito
e, permanecê-lo assim, calado em teu leito
seria tornar isso tudo que sinto em vão..
dói, o amor
e o que seria o amor sem essa dor?
mas dói, realmente dói
não adianta gritar que quero você
ou me privar e nunca mais te ver..
mas dói, realmente dói
esse terrível não saber o que fazer..
Me resta o que, portanto?
levantar e ir embora, pra casa,
ou continuar, em meio ao perfume de flores de julho,
sentado, cantando, escrevendo e chorando?

quarta-feira, 4 de julho de 2012

lua e amanda

amando a lua e a amanda
amando a rua por onde anda
na cidade das luzes e da noite
amando a escura iluminada noite

namorando e amando as duas
amando a fantasia da loucura
das peças de teatros noturnas
peças amáveis!

amáveis peças que tramamos cantando e enlouquecendo sob canções de amor da lua,
canções amáveis!

e a lua nos namora
é tudo muito azul escuro e claro por volta
do nosso amor,
amanda

e o nosso amor amanda,
lua
não é uma flor,
um delírio de perfume, amor?

mas que cheirosa noite embriagada
de vibrante luz amarelada
de lua bonita e encantada
de amar amanda a lua o tudo e o nada e
é tão vago e triste tentar se limitar...
se amar a lua e amanda
é expandir e simplesmente amar!

me banhe de tua volúpia brilhante
escaldante e impetuosa,
oh, meu amor lua!

me banhe de tuas maravilhas impares, apaixonantes e sinuosas,
oh, meu amor amanda!

e sigo amando esse amor e esse ode à nossa noite,
para sempre infinita
para sempre inacabada
para sempre amada!

[e me indaga, com um ar afetuoso e apaixonado, a lua:
 - qual é a diferença de amada pra amanda?
 - um "n" de nada!
e logo lhe rogo carícias desde cá debaixo, pensando como seria poder tê-la não só a noite, como nas tardes também, enaltecendo minhas graças com aquela bela e fantástica apresentação nos céus ao dividi-los com a imagem do Sol, tão branca, clara e em sintonia com a imensidão azul borrada pelas espumas brancas flutuantes das nuvens;
e me apaixono mais com a lua; me inspira, me contagia!
e logo volto minhas atenções e meu olhar a estas palavras, que estão aqui, clamando que eu continue desvelando-as, lentamente, namorando-as espontaneamente! Exorando-me demasiada atenção e paixão natural!]

terça-feira, 3 de julho de 2012

tua frança em todos nós


Qual era a França de Rimbaud?
Não era exatamente a mesma França de todos ao seu tempo,
todos precedentes e mesmo seus sucessores?
Tuas idolatrias não são religiosamente as mesmas?
Qual era a diferença dos Gauleses aos Robespierres?
Qual ócio e vício não são representações máximas da natureza humana?
Qual espetacular ironia não é cristal na geleira da alma?
Qual cristão não tem Deus morto em ti próprio?
Qual determinado senhor dos bons costumes não tem um gritante homossexual e uma ninfomaníaca prostituta libertinos, obcecados, maltratados e histéricos em seus testículos, que, ainda algum dia, em razão de um estímulo sem precedentes, gritarão e por tua uretra haverão de sair, expandindo, dilatando, fazendo sangrar tuas tolas e impuras repressões, o que causará uma dor inestimável, sentido súbtas queimaduras - mas por isso extrapolando tuas paranoias e tornando-o amavelmente humano?
Qual é a França de Sarkozy diferente da França de Rimbaud?
Não é a mesma França da humanidade, como o Brasil, da humanidade?
Qual é, portanto, a humanidade da humanidade?
Não é a imensa massa de vivos e mortos, estes sob os mais afáveis e carinhosos cuidados da lembrança humana - tendo tua gloriosa existência consagrada pelo grandioso pensamento humano - e que, massa essa de vivos e mortos, torna-se encarcerada por minúsculas jaulas deste pensamento humano?
Não é, este pensamento humano, grandioso? Ao ponto de criar, entender e se habituar ao passado e ao futuro? Ao ponto de entender, sob seus próprios cuidados, suas próprias faculdades e de uma maneira "bem pessoal" - entender o tempo?
Qual é, então, as causas dos reflexos débeis da humanidade em insistir na trava da contínua expansão?
São tão tolos aqueles que acreditam ser tolos e abomináveis os nossos Rimbauds!
Tão tolos por serem, nessas circunstâncias, eles próprios, Rimbauds!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

objetivas - da angústia do tempo e espaço


o tempo recusou-me dar explicações,
segue vasto me envolvendo
e sigo baixo respondendo
a mim mesmo
como é tolo ao espaço procurar atalho
ou morada, esconderijo
e afirmo o perigo desse abrigo
é infinito, e o que seria a unidade?
o que seria a limitação?
idade, morte, num vão delírio da sorte
e a sorte? a que destino se atina
existe rotina? e não é rotina
essa perturbação numa alma que transpira vida
que flutua o pensar e o pesar
de viver e tentar entender
o que é ser, o que é estar?
e se está, está onde,
e onde está o fim do horizonte?
é vasto e segue me envolvendo
e me trazendo tormento;
e se é incomensurável,
questiona portanto o porque da medida
aflita um tanto a cabeça tremida,

sente-se instável;

e contrái-se;

até que grita
até queimar a retina
dos olhos dos grandes irmãos;
e outros pensares retraem-se:

prendam-na!
ao sanatório!

e a aflição perpetua como uma máxima voz
o vão espaço-infinito-tempo
majestosamente continua sendo atroz!
se matar
ou se maltratar
e continuar no desespero que aflige;
continuar?
a continuidade, existe?
vasto como o tempo é a tua filha, menina, a doce e inefável sandice
doce loucura..
amarga doçura

sábado, 23 de junho de 2012

o sangue-seiva quente queima sangues brancos


um tiro branco na flexa
um sangue quente xamanico
escorre do canto na terra
morre o canto no pantano
 
o canto que saudava
agora geme
um arbusto chora
e treme o galho seco
e a mata
em uníssono
transimitindo a percepção da dor
tal como o antigo canto enraizava
alardindo aos seus semelhantes
tal como o antigo canto enfumaçava
a lamentação é a tua seiva generalizada
faz ser de boa visão à tua mãe o cortejo de tua história assassinada
e o fúnebre velório é a sombra densa provocada pelas árvores enxarcadas
e geme
 
um tiro branco disparado pela história que estudou os pontos cardeais
um tiro santo fundado na glória de um deus de tão longe que atravessou o oceano em caravelas reais
 
o olho fechado é de morte, não mais de compreensão
mas a fumaça ainda se espalha
a argyreia ainda se porta como porta da muralha da sabedoria e da história
o san pedro tem seus espinhos para os vinhos que vinham dos mares confrontar seus caminhos
a sabedoria chora
mas se renova
 
o xamã sangrou naquele dia
e gemia a natureza naquele dia
mas permanecia a natureza a contemplar teus entusiastas
e a vos enraizar em suas matas
 
retorna o bixo homem à terra em forma de lágrimas
enxugadas pelas raízes das plantas
sugadas pelas terras úmidas próximas dos rios turvos
sem sentidos, cego, surdo e mudo, morto da matéria
retorna o bixo homem à realização da terra como adubo
 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

E repetiu tua predestinação: INVOQUE-ME!
E tua constante: LEMBRE-TE DE MIM!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

hobbes

não me venha dizer que o homem já nasce matando o outro
que o leão abatido por dia é a fria impureza do espírito
não me venha com o papo de ódio inerente ao faro da gente
o lobo se rosna ele rosna de fora trazendo a disputa que sente
 
se sente o lobo o homem e se sente inimigo de seu inimigo em potencial
julga portanto a postura alheia como imperfeição e semeia uma eventual
natureza que agora até corre no sangue da gente que escorre levando o mal
mal que existe de fora pra dentro pela imperfeição de todo animal
 
imperfeição ou exclusividade de todo homem que é vivo e não é igual
na verdade a nenhum outro bixo que pensa igual mas tem outro sinal
 
paredes pintadas em cada morada são tão diferentes
marés se chocam naturalmente na cabeça da gente
se a própria morada é a mente e existe mais do que cê pense
e o que alaga é a metáfora que nos faz diferente
 
porque cada cabeça é uma corrente
cada cabeça é uma corrente
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
bate de frente mas água mistura
lobo se bate ele morde e fura
água mistura corrente com rio com mar e com chuva
água de cheiro, quente ou gelada é água e isso não muda
 
água
água!
é água e isso não muda!
 
água
água!
é água e isso não muda!
 
a cabeça muda quando não tá muda e a cabeça mudar é se elevar
o lobo não existe em cabeça que muda e aceita a outra cabeça mudar

o bip dos 7 minutos, o sábio dos gritos mudos

7 minutos para o início
aguardando...
 
recolocando:
 
7 minutos para os ultimos preparativos
 
ti ti ti
 
por que esse não é o som permanente?
é tão conciso com as preocupações
é tão inerente ao diálogo eterno
é conflituoso como recordações
 
recordar é a magia do sábio Sebastião
dizem até que ele um dia gritou à sua família
"a vida é a busca pela alegria, minha filha
procure ser vitoriosa um dia"
 
recordar é uma magia que Sebastião não resguarda
por outro lado, compartilha e explica
que antigamente a gente fazia poesia
em papéis guardados que a polícia não via
ou não podia ver
 
é, Sebastião recorda que não havia TV
que não existia cores em fotos
que os fatos eram da fé e os olhos
que ela tinha vigiavam você..
 
Sábio Sebastião profetiza os novos tempos
tão mudados que mal podem trazer ventos
frios ou quentes, mas que arrepiassem as dorsais dos desatentos
que brincam como imbecis, bilhar, baralhos, fomes e tentos..
 
brilhando teus olhos ganâncias atentas
mas fatalmente esfriadas por fazerem tormentas
as utopias brilhantes que embaralhavam remendas
 
imbecis e viciados na antiga era
sem tempo e sem dinheiro para ouvir o sábio profeta...
que trás auroras e atenções às impurezas
cauterizando mas não curando suas fraquezas
 
o sábio profeta e visionario Sebastião diz que o que trás é novo
de novo mais um tolo que afirma nova sina pra curar o desconsolo?
novamente mais uma gente acreditando veemente em um bêbado da rua oito?
 
"não desanima
pois nessa vila
o necrotério
o bar e o mistério que um sábio precisa ter como dor de vida
são proximidades à rua dita"
 
Sebastião mal sabe que o que sabe é saber de coisas
Sebastião mal vale uma vida ao destino traçado das coisas
O sábio de memórias só recorda e mais nada é magia
pra frente da gente o sábio se embriaga e sente medo da luz do dia
 
todos os dias sábios se matam por preferirem a vida à melancolia
todas as noites sábios se embrigam por confundirem selvagem com selvageria
 
mais três minutos, querida...
 
só mais esses minutos para descobrir o que lhe faz menina
o que faz minuto uns segundos
e o homem os muros
 
só mais um muro a construir, retenha-se
só mais um sábio a cair, entenda se cair ao desmaiar
ou cair a se matar
 
entenda
nasce um sábio a cada bip do som original
bebe um bêbado a cada sábio profetizando teu sinal
bebe um sábio confundindo ser sábio por sinal
um sábio bêbado bebe e brada teu juízo final
 
esses segundos que nos restam
nos prestam homenagens...
homens selvagens domesticados às florestas de matos desenhados
como é tão perfeito o desenho imperfeito de um sábio, que grita e continua calado?
 
chegou ao fim, querida
a luz do fim não veio, enfim
 
esperávamos por isso mesmo, não era?
ou acreditávamos em Sebastião
depressivo beberrão,
condenado à querela e fissurado por ela?
 
pegue tua solitária cápsula
se mate também, pois me entrego ao bel prazer da incerteza que conforta meu adormecer
morrer pra não angustiar outro amanhecer

terça-feira, 22 de maio de 2012

e se a abelha não suportar?

e a abelha tem medo do mel esbanjado; tem medo dele lhe lambusar a ponto de sufocar-te; ela compreende que, ainda, não está apta ao incrível e misterioso doce que porvirá desses rios e mares e mel, que já se anunciam no horizonte; ela diz estar com medo de chorar quando for momento de gozar; mas ela diz, ainda, estar determinada em, a princípio, ir de brutal encontro à maré engasgadora e violenta que se aproxima; essa força que tem potencial suficiente para vencê-la, fazê-la asfixiada, diz a própria abelha que tem, na sua mais perfeita natureza, um doce tão saboroso; e por isso, mesmo não confiante, a abelha porta-se determinada em lutar por gozar desse doce quando, enfim, vitoriosa por teu triunfante e potente amadurecimento, puder libertar teu pequeno-corpo, tuas asas, tuas antenas e tua alma à livre disposição e destino dessa vertiginosa correnteza de mel, para viver maravilhas adoçando teu encanto, cantando o amor da densa corrente melada, libertando e sendo libertada, amando e sendo amada...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

a selva cinza de cimento surta (e mata)

a selva cinza de cimento surta
a selva cinza de cimento surta
e essa sina de selvageria pira
selvagens macacos robotizados nos cipós de alta tensão
aguardando parados e estacionados, alucinados e
altamente preocupados nos faróis de solidão
na construção daquela vida que se faz em preto e cinza em cimento e em labor
morrem e labutam repentinos os macacos iludidos construindo o terror
certifique-se e edifique se uma árvore ainda repousa o verde na paisagem
sele, aprove ou reprove mas não pense que resolve, o destino é a modelagem
das estruturas determinadas e cristalizadas no inóculo da ferida viva desse abestado
adestrado e castrado pelo estado de impureza do cinza que a natureza fez colorir
é de rir, o verde lindo e vivo verde ironicamente acizentado e acimentado, é de rir
ou de chorar? ou de ousar?
Ou de ousar? P de pensar?
Ou p de pirar?

e essa sina de selvageria pira
e essa sina de selvageria pira
e essa selva cinza de cimento surta
essa maldita selva cinza de cimento surta 
esbanjando lástima e sonhos podres
sonhos apodrecidos
mortos desaparecidos
e aparecidas investidas em sonhos empreendidos ditos como virtudes de vida
e desfilam os sonhos triunfantes na sapucaí alarmante da tristeza e da incerteza
e trajam máscaras de solidão e de apreensão na procissão que marcha subindo a afonso pena
impuras almas que desfilam no cortejo fúnebre se anunciam com fantasias negras
e a certeza de que a afonso pena é um gigante campo de exterminio cresce e deixa forte a fraqueza

a alma fraca clama aceitação
o peito podre respiração
o gás carbonico investimento na rotina do sofrido pulmão que eternamente serão sócios
e o ócio clama esteriótipo de vagabundo por não cheirar o gás imundo que nasceu desses negócios

e o surto desse pulmão é a razão desse clamor que grita, chora e apavora o teu fôlego pirado
e essa sina de selvageria pira mesmo
e essa selva de cimento cinza surta mesmo
e o futuro incerto e inseguro se apresenta ao esmo
dói a dor que finca a cuca e que perfura o peito

dói, enfim, o amarelo da bondade,
assassinado por asfixia nos porões a céu aberto
do hiper-centro dessa cidade

sexta-feira, 18 de maio de 2012

insistindo a Diógenes o tesão do calor do sol

Não fale
Ah, não fale, vai
não fale muito
Não, não fale!
Mas é...
Pois é!
Saudade!
Nos reencontramos?
Pois é,
num susto
Verdade!
De volta
Por falar
por insistir
nisso
mas olha
e por falar nisso
Pois é,
bobagem!
Só isso
suspiro!
só esse batido suspiro
mas que pequena tristeza...
ah, é isso,
é o frio!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

vou correr para as nuvens

nenhuma escrita do homem se compara à doce e amarga angústia e paixão escritas no homem!
nenhum grito do homem ecoa tão alto como os seus desvarios que gritam no homem!
nenhuma loucura do homem chega aos pés das quimeras de amor e solidão que enlouquecem no homem!
nenhuma pintura do homem representa fatídicamente o que o prazer ou a explosão da obscessão pintam no homem!
nenhuma alucinação do homem se equivale ao medo, à apreensão e à renascença e fuga de si mesmo que se alucinam no homem!
nenhuma morte do homem é tão dolorosa como a morte da estribeira que morre no homem!
nenhuma leitura abstrai o que o homem escreve, grita, enlouquece, pinta, alucina e morre!

Mas o homem escreve, grita, enlouquece, pinta e alucina, morrendo, vivendo e lendo, enfrentando a morte, a candice e as estruturas que maltratam a liberdade de tua vida, para morrê-la, gritá-la, escrevê-la e sobretudo vivê-la!

Não é necessário escrever, ler ou tentar, na maneira mais poética e sensacional, minuciosamente perfeita nas medidas da inspiração e perfeição, exprimir o que tanto grita, enlouquece, alucina e mata a alma e a razão humana!

É necessário, por sí só, enlouquecer, alucinar e morrer! Mas elogiáveis aqueles que o fazem com maestria, viver e transcrever!

fique em pé sem cansar

não limitar à arte o que se estende à vida, mas fazer da vida arte e da arte um retrato da vida

como se escreve infinito?

compreendamos que o infinito não se limita; escrevê-lo, ou mesmo tentar escrevê-lo, é uma tentativa frustrada de limitá-lo ou uma ousada investida na expansão do poder que detemos, que é pensar, admirar, se apaixonar e escrever? Será que escrever o infinito é dar a forma geral da perfeição e liberdade à mente, ou, menos, conceder à ela uma pitada da audácia humana, que é conspirar sempre rumo ao nunca acabar, nunca cessar e nunca parar? O infinito é viver, o viver o infinito é uma condição primária da Natureza e, se o escrever faz parte de tudo, não foges, portanto, do viver, da Natureza e do homem!

sábado, 5 de maio de 2012

ele vem e vai morto

ele sempre chega em casa na tarde clara
com seu trabalho em seu cansado rastro
que de marujo da rotina se arrastou pela calçada
se portando à batina como teu amado mastro

a bandeira da eufórica e morta vida da cidade
ergue-se como triunfo da conquista do vazio
o que enfinca a aste na vida como num abate
na morte do homem que sangra a sina como o bovino

faz-se a lamuria engolida de força de vontade
faz-se a cabeça entupida como o homem de caráter
e a cabeça vazia como o homem assíduo
e o que ousa enchê-la como mais um promíscuo

morre a bobeira de caçar limas e gozar da mocidade
a sobrevivência na cidade destrói como prédios angustiantes
e as inquientantes eminências de danos inimagináveis
trocam o perfume das hortências pelo perfume das madames

o carro corre e com ele corre a vivacidade das animalias
corre pra muito longe fugindo da selva de apreensão
deixa hoje grunhindo esse homem programado na solidão
que de tempos em tempos se mata e renasce em vão

e surge um cherio forte
um cheiro da maquina mental
de quemiado anunciando a morte
um cheiro abraçado com a dor da sorte
da fundação desse novo jornal
desse animal mal-escrito forte

tudo está no mesmo lugar
tudo esta sob a mesa, que beleza, é hora de jantar
tudo inclusive a mesma e antiga forma de cantar

tudo está ali como foi deixado
retorna o homem machucado de carro, berrando calado
e toma e serve café e jantar, com o saudoso desprezo acompanhado

assistindo como são beberrões os que acidentam as ruas
como são comilões os que sentem fome nas ruas
e como são traidores os que pixam as ruas
e como é angustiante saber que existem outros como ele nas ruas
gritando na porta da sua casa, morada que o separa das ruas
fazendo vossa vida, fazendo vossa rotina, sempre nas ruas

domingo, 29 de abril de 2012

bons tudos

bons tudos!
boas raízes, boas grutas
boas travessuras dos habitantes do amor
que fazem canções para suas amigas mudas
as mudas que mudam gritando vida
quando na terra que berra, pinga água que espera,
que cresce vida da mudada muda calada, agora cantada
agora uma gruta encantada
que enraizou poesia adentro da terra pingada de chuva
de choro, de choro bom, de cheiro marrom
de choro de amizade vivida e eterna da vida da terra com a vida de quem chove o bom
o bom, o lindo, o sorrir, o paraíso
o colorir esse bonito, e bom
essa bondade, essa árvore, essa ave que voa e trás o assobio como um canto divino
para terras aqui na vida das terras que têm um amor imenso àqueles que tanto puxam
os pequenos gigantes todos sempre sábios, por viverem entre os abraços dos cipós
entre as fortalezas das pedras e as magias poderosas das ervas que tanto puxam
e que tanto sopram o delírio...
e que tanto tossem borboletas de lírio!

bênção de lugar sejais onde existe o azul transparente como instrumento da liberdade
como inspiração para planar num infinito rio de possibilidades!
num emaranhado infinito de infinitas artes e ofícios do prazer,
da música e da natureza,
metricamente perfeitas!!
onde o amar e desejar a requintada alegria é saber viver
onde saudar e louvar o agora e o sem limites bem querer, o sem pudor bem querer
é saber viver!

bênção de lugar que perfeitamente tem suas perspicácias
que instigam teu instinto aquele tanto de patas
mas meu amor, saudando e brincando como uma fada
sempre em tom baixinho apaixonante, maravilhosa e erradiante,
atentava a cada nova ida, ultrapassada de galho da mata
se estávamos preparados e dispostos a ousar o contagiante!
e me sentia mais preparado e mais disposto porque me contagiava!

abençoado sejais este deus, essa vida, esse amor, o meu amor, essa louvação à tudo e todos,
dos mais entusiastas da brincadeira até aos mais sérios que honram teus cachimbos de boldos e tuas pequenas-calças de mil bolsos!

abençoada sejais esta louvação generalizada à máxima do tempo e da euforia:
bons tudos!

o quarto

dedicado ao quarto
que não é aquele quarto
de papel lambido
em cores brilhantes
mas é igualmente o da lucy,
do ceu
e dos diamantes
da liberdade,
da simpatia
do dia
que é sempre o dia certo

que é sempre roxo,
com o outro quarto, amarelo
de quarto em quarto
engatinhando, mais perto
da lisergia alegria
da euforia do oufato
 com as delicias de teus insensos
tuas velas e, dos mil sensos,
o quarto colore o quarto
que tomamos no quarto
que colore a parede
saciando minha sede
de colorir uma rede
e desmanchar tua roupa

e colorir o quarto
dentro da tua boca...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

o romance humano

e eva disse: que comemos a maçã, que transemos agora, adão!
e saudou a cobra;
e um vinho tomaram e uvas comeram gozando a vida e o entender;
e de longe vinha um vento brilhante que podia se ver perfeitamente;
e o vento trouxe o brado do primeiro a se portar como eu e eu;
e trouxe o brado daquele que ousou não submeter-se à autoridade, pois da luz fazia-se rei e da própria vida podia fazer-se também;
e sentiram o peso das saudações do querubim caído;
e gozaram mais, adão, eva e a cobra, até a intrusão de algo extraordinário...


a voz de deus pode ser ouvida
por adão e por eva e foi sentida
ao cessar o prazer como uma ferida
espantados atentaram ao que dizia

jamais sacrifiquem o amor que lhes jurei
não atentem o meu humor que por pouco pode alterar
quero que entendam que fui eu que vos criei
não me atordoem que minha ira pode despertar

deus a minha revolta é sentida por mim e por ti também
tu me conheces, a mim e a minha história
não faça-te de besta, é tua a criação do mal e do bem
da minha euforia, como a da eva e da cobra

sinta minha pele arder, meu pulso tremer
meu coração bombear o sangue que me ferve
que queima tua bondade e que hoje me serve
deleitos macios de eva a gemer e gemer

és imortal mas não tens carne como nós
és perfieito e por isso não podes pecar
provar a vertigem com alguém a sós
sentir a energia mortal e dançar

dançar, a vida dançar
os prazeres dançar
se te atrais,
humano será,
as confusões terá
que causam mais
perturbações mas será

humano será
humano será

seduzido o menino da luz
contorcido em suas asas
delirado pela voz de eva
que poetizava o homem a deus

ousadia daquela mulher que bem firme encarava a imagem do senhor
não atacava a cegueira por ter transformado teu olhar em flor
e delicadamente o anjo assoprava o vento nas costas de adão
que se arrepiava com a flor da mulher e a nudez de tua imaginação

o vento pôs-se a rondar pelos cantos que deus habitava
e o titubeio do espírito santo fez desaguar suas estruturas
um rio se fez, molhando a cobra, do santo que agora chorava
toda a criação agora se desenhava em violentas águas turvas

emergia da lama avermelhada que borbulhava a pulsar
a imagem do anjo rebelde com cheiro de enchofre no ar
a luz que alumia os desejos de deus em sete cores fez-se fatal
o corpo alado surgia do reino da audácia mortal e amoral

do amor eterno jurado e passado podia já ver as ruínas
o inferno abalado pelo tremor do certo e errado já se desfasia
o homem adão voltou-se a eva e tomou-lhe a maçã que comia
jogou-as no chão, e trepou e comeu, fazendo valer a euforia

a nausea divina causou um tremor no seio do paraíso
as macieiras suavam tesão e choravam pelo arrepio
dos infinitos poros de deus que abertos provocavam frio
sentido rasgado na costela do anjo que sempre será teu filho

subitamente a gloria de deus transformou-se em gemido eterno
do criador da vida e da morte, do ceu e do fogo do inferno
o céu e o mar, o ar e a água transaram a luz e a escuridão
o pecado vestiu-se da beca divina e matou o que era perdão

aos beijos e arranhões eva e adão puderam ver o juízo final
ser narrado pelo amor e ódio que surgira do pecado carnal
em seus olhos e perente seus corpos nus a história se refez
deus maltratava o passado e o futuro por sentir do anjo a nudez

no toque, o choque, o trovão da existência anunciou
a ira com a rebeldia rimavam como nunca antes na vida
ao deus, ao homem e ao anjo a realidade se desaguou
pelo gozo de deus que provocara no paraíso uma intensa gritaria

o regojizo celestial era a morte do bem e do mal
o velho aeon sucumbido sob as terras irrigadas do mar do amor
fez bradar o super-homem a tua carne e teu corpo à morte do império do celestial
sem ditames o homem matou enfim a aspiração que lhe fazia insano
dos anjos, dos deuses, que não suportaram a dor do prazer humano

dos anjos,
dos deuses,
que não suportaram a dor do prazer humano!

e eva saudou a adão um brinde ao prazer humano;
e adão brindou com um sorriso humano;
e o vinho beberam, e deitaram e se amaram, se odiaram e viveram humanos.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

a paixão e o romance

Pondero a maravilha das coisas pelo potencial de paixão que elas me dispõe. Essa paixão faz-me sentir profundamente tocado com coisas tão sutis, como a simples percepção da rotina de uma cidade grande, a consciência do que uma chuva representa e até perceber um ser humano pensando e se esforçando para tal.

Algumas coisas, circusntâncias, percepções, atos e pessoas me causam uma paixão repentina tão profunda, que nascem esporádicos romances e me fazem inclusive emocionar com as minhas relações com esses atores. Coisas abomináveis socialmente e que compreendo que no fim das contas são destruidoras da saúde biológica e mental têm possibilidades - digo por que já tiveram - de exercerem um papel em romances meus, de serem elas, ou o climax que as envolve, as minhas paixões mais intensas de determinadas épocas.

Hoje amo a vida e tenho uma paixão delirante pela consciência de estar vivo e do poder que tenho em compreender isso e outras infinitas realidades e histórias; assim como, amanhã, pode me atacar a paixão do romance com a morte, com a amargura, com a tristeza, com o suicídio, que, a propósito, tal romance tem uma faixa considerável de probabilidade de nascer - talvez pelas histórias de conflitos entre dor e amor que foram brilhantemente narrados por outros homens igualmente apaixonados e que se desembocaram nessas situações desconsertantes; mas, hoje, não; por enquanto não; vibro a alma em ter certeza da vida! Vibro os músculos em ter certeza da água gelada de uma cachoeira, ou do mar, ou da que bebo!

domingo, 15 de abril de 2012

wild love

eu te amo e sinto que não é necessário
ter que comer de outro mel para me sentir saciado
ou mesmo me atordoar
como por muito tive que labutar...
eu sinto que me aperta a vontade de te apertar,
que amo o te amar,
que preciso só de sentir isso pra escutar a música como meu suspiro de delirar de saber que não preciso pra amar nada além de você
além de perceber que o que sinto é querer
só você
sei que sabe que não sou aquele que quer só e quer ser único
aquele que busca limitado a ilusão do amor forçadamente cego e surdo
aquele que não ama o amor e a paixão mas sim a prisão
se me derreto por uma só chama não é por limitação
não é por forçar ou por se sentir forçado
é por sentir falta só de você ao meu lado
é por amar e se sentir amado
é também pelo pecado
o nosso amor é jurado pecado
somos anjos eternamente condenados
por sermos livres e também ousados
e percebo novamente que o que sinto é querer só você
que não existe querubim, deus, lúcifer pelos arredores do meu querer
e ao meu amor, sentimento companheiro, juro eterna fidelidade
o amor ama, renova e abala a eternidade
ele já endiabou a castidade, já sangrou lágrimas de santidades
já se meteu em confusão, já foi sentido por irmãos
já foi tocado em um piano, já foi o porque de mudanças de planos
e o porque de eu ter perdido a linha nessas linhas
o amor, amor, não é medido por algumas rimas
amo a liberdade e a felicidade, a alegria da vida, suas fantasias!
e por você ser o que é, escrita em suas métricas
composta em suas partituras, sinto que nada além delas é necessário para fazer-me contente
doido, apaixonado, inspirado, essas molduras desse maravilhoso quadro pintado
que quando se ama a gente sente!

somos eternos produtos do amor, refugiados em seus quintais
e você é meu ele!
dance comigo a valsa que ele compôs para nós!
sinta comigo o arder a pele provocado pelo sol que ele fez nascer essa manhã, para nós!

3

quem disser que que a combinação álcool e amor não tem nenhuma mágica, deve parar de ler, escutar e ver a arte.

2

todos os homens precisam ficar muito chapados, precisam muito de beber, muito! onde está o vinho? ou será possível que esse era o último suspiro de alguma alegria, acompanhado de Quaterna e nada mais?

1

por que maltratam tanto a bebida, com maldizeres diversos? Se ela é uma companheira tão amável do homem... Tudo faz mal, mas tem coisas que fazem mal e nos fazem bem igualmente

fearless

Faça de sua cabeça Fearless, faça de algumas muitas coisas de sua cabeça Fearless também:

You pick the place and I'll choose the time
And I'll climb
That hill in my own way.
Just wait a while for the right day
 [...]
And every day is the right day
 

ecos da fantasia

É em função da fantasia que o palhaço sente aquelas baixas pela tua platéia, tua amável e amorosa platéia. Mas a platéia é tanto o teu amor... Só que a fantasia que carrega, não é, para ele, meramente uma fantasia física, que o deixa louvável à comédia e gabaritado em riso; ele veste também uma outra fantasia, talvez por ter que contracenar consigo mesmo no palco as cenas que, às crianças meladas de açúcar pelo algodão doce, causam absurdas gargalhadas, mas a ele causam alguns conflitos que ele não costuma compartilhar...

A tua vida é esse palco, de exposição integral, inclusive de suas fraquezas. Ser palhaço deve ser ideal para pessoas que odeiam se expor, que se sentem engolidas por multidões ou mesmo que tremem ao ler um qualquer texto para umas cinco pessoas. Isso porque a fantasia tem um poderio tão ímpar, que a ela por ela mesma pode desenvolver a mente contraída, pode expandir a vergonha à maestria.

Brada, pois, o palhaço em seu espetáculo:

A fantasia é uma ferramenta imprescindível à vida e a sobrevivência humana! É na fantasia que o homem encontra refúgio de tuas exposições! Exponha o homem fantasiado, que exporá um homem apto para tal, e muitas vezes até primorosamente performático!

E pula o palhaço entusiasticamente no seio da platéia, que se faz em grunhido apreensivo;

Espectadoras e espectadores, meus amores, podem até me chamar de exagerado! Mas convenhamos, meus queridos, se o mundo é cheio de entranhas delirantes que flertam nossos anelos em todos os sentidos, é em virtude dos exageros e dos exagerados! O que é o amor se não o exagero de coisas, tantas coisas, que eu nem sei direito até hoje o que são? E, dessas coisas que compõe o amor, muitas não são exageradas? E muitas outras não são fantasias? Lembremo-nos também daquelas fantasias exageradas!

E de repente, às piruetas, aos sorrisos e às felicidades volta o palhaço ao palco...

Jamais aponte este teu dedo imundo novamente em meu rosto! Vim para desfazer das tormentas que a rotina alveja minha cabeça, não para um imundo discursar pífias palavras sem sentido!

Grita um senhor profundamente irritado, já na escadaria que sobe para a saída, ao lado esquerdo do palhaço...

O que queres dizer, meu querido? Quer dizer que te afliges pensar? Ou mesmo ousaria pensar? 

Basta, louco! Não quero perder meu tempo com suas bobagens!

Não és tu que reclamas da rotina que lhe mete punhaladas em tua cabeça?

E, novamente, tenta o velho interromper a fala do palhaço, mas sem sucesso:

Nada te importas sobre minha vida!..

Viestes para que? Sabes? Hei de falar, meu amor! Basta! Viestes para fantasiar tua vida e tua cabeça nesta noite! Fantasiar! Tu não sabe nada além de sobreviver nesse maldito circo! Mas o que é isso, querido? Sente-se exposto? Jamais me sentiria exposto por um infame...A fantasia que já criara outrora está se desfazendo? Esta fantasia mesma que lhe metia o cabresto em relação às minhas ponderações neste espetáculo? Escute aqui Oh, caístes tua fantasia? Não era isso que eu dizia, meu amor?

As pessoas que saiam do circo, na oportunidade de ouvirem esta ultima fala, ousaram permanecer ou mesmo retroceder alguns passos a dentro do circo; o velho, por sua parte, ia rapidamente perdendo suas últimas expectativas de contra falar com o até então bobo alegre, que, a propósito, transformar-se-ia agora numa gigante e feroz ameaça à instabilidade emocional de todos senhores que sentiam-se presos no circo, algemados pelos gritos do palhaço:

Voltem, amores! Sou o palhaço, o duque da fantasia, o barão do exagero! A mim sentem-se acolhidos, mais bem tratados! Vos expus à vocês mesmos, se saírem o mundo lhes virá expostos, aliás, vocês se sentiram expostos ao mundo! Não se retraiam, não se limitem, fantasiem-se, sim, mas jamais vos limitando à fantasia! Sejam, sobretudo, exagerados! 
Notava-se agora um clamor que se generalizava em favor do palhaço, que no mesmo instante pulou dos ferros onde se encontrava, aqueles que sustentavam a estrutura da parte interna da entrada do circo.

Uma mulher se jogou em frente ao palhaço, fazendo os dois pararem frente a frente no corredor que dava acesso ao palco. Repentinamente, o palhaço, visivelmente extasiado, retira tua fantasia, porta-se nu e causa um alvoroço generalizado aos presentes. A mulher ignora a surpresa negativa daquela imensa maioria que esperava algo mais do palhaço e, colocando-se a correr puxando-o pelo braço, trepa em algumas argolas suspendidas que serviam para o show dos trapezistas, e grita:

O que foi, admiráveis imbecis! Se sentiram expostos à nudez de um homem? Pobres limitados à fantasia! Da fantasia criam tuas próprias lajes, cárceres, e da fantasia igualmente fogem! Louca! Loucos! Jamais me chame de louco! A propósito, nem a loucura é apta a lhe designar! Não lhe chamei de louco! Eu chamei a nós, eu e o palhaço, de loucos! E, sim, se até a tua loucura é fantasiada pelos preceitos de tuas paranóias, ela jamais poderia nos designar!

O homem, um dos últimos, resolve deixar o circo, chutando alguns sacos de pipoca que estavam no chão da escadaria da saída. E ao último senhor que saía pela porta do circo, num berro, como um último suspiro:

Exagero! Exagero! Gozo dele, por ele! Fantasia! Gozo por ela, dela!

São tão pequenos, meu amor... mas eles me ensinaram, sem eles eu não seria o que penso, então resolvi retribuir aquilo que tanto crescia dentro de mim.
Não, podem ter lhe auxiliado, mas tu ensinastes a tu próprio! Sim, amor, são dignos de dó! Mas compreendamos que, infelizmente, nem todos têm oportunidade, outros nem têm capacidade, de abrirem as grades da prisão, despirem a camisa de força da cabeça;
Compreendo, querida, por isso soamos aos seus ouvidos como ruídos intolerantes;
Certamente. Enquanto houverem fantasias mal feitas, aquelas que extrapolam teus verdadeiros significados, assim como você falou, haverá a bestialidade massificada! Mas não nos portamos como superiores tampouco atribuamos a eles o menosprezo; sofremos as mesmas tentações, o amor nos dói igualmente, a fome nos ataca igualmente, assim como igualmente não sabemos de nada!
Por isso a certeza é uma fantasia!
E por isso é precisa!
Você dilata a minha a visão, querida;
Assim como você também dilata a minha; calemos, palhaço; a fala, de tanto que fora explorada, já está batida por hoje; conheçamo-nos ao silêncio da fantasia!
Mas não ao silêncio também batido; conheçamo-nos ao silêncio exagerado!

domingo, 8 de abril de 2012

eu te amo

eu sinto o amor sentido
eu amo, eu reclamo
quero lhe dizer que te amo
não indagues o juízo
ou mesmo o tempo que não prova
pouco ou muito, não importa
um calor bateu a porta
deixou aberto meu abrigo
ficou frágil meu sentido
uma zombeira no ouvido
é a vertigem dessa nudez
que desabrochou do espanto
do que você me fez
de amar o teu encanto..
 não te espantes,
eu reclamo
não me meça,
eu te amo

terça-feira, 27 de março de 2012

já sabia ou descobriu, ele precisa dele e sabe do que precisa

... até que ele descobriu, sentindo um frio na barriga e um amargo gosto de nostalgia, conversando e dando espaço às recordações calejadas que firmaram o que ele é, pensa e sofre hoje em dia, que é apaixonado pela paixão, "ou pelas paixões", como ele próprio classificou... E voltou a pensar no rumo sem rumo de sua vida pelos próximos meses enquanto ia ao banheiro olhando pela última vez os entusiastas da vida profissional que lhe acolheram por algumas quinzenas de dias. É chato e, em algumas vezes de pasmo ou mesmo embriagues, sente-se uma agonia igualmente chata por viajar sempre a mesma estrada e nadar sempre o mesmo lago.. Talvez por isso decidiu o tempo ao labor.. ou mesmo ele próprio ao labor..

up the khyber

- Não meta em meu destino uma constante de amarguras, desilusões e tristezas!
- Cala-te!
- Não! Do sofrimento quero distância!
- Cala-te! Não tenho autoridade nenhuma para causar-lhe dores ou de alguma forma ser complacente contigo; tu estás fermentando o teu solo! Não queres tu ficar fascinado com a cósmica nuvem da volúpia da juventude?
- Evidente!
- Então prepara-te para as oscilações, oras! Não metas tu em tua cabeça o cabresto da juventude pelo medo de minha existência!
- Mas do que anseio grita forte o equilíbrio! E é da ausência dele que me nasce teu oposto e que, como consequência, o medo dele num futuro sem volúpia!
- Cala-te! Enfrente tuas garras, aliás, as garras de tuas paranoias e brade a tua segurança! Não tens segurança, jovem?
- Primeiro a apresente-me; tenho certeza de que a amaria por noites e dias, durante infinitos anos!
- Conheça-te tu a segurança; ouse, jovem medroso!
- Cala-te!
- Calo-me sim, metido e orgulhoso! Mas compreenda que o engordo do teu calo se dará em virtude dos tapas que sofrerá em decorrência de tuas tentativas inseguras de viver!
- Não te calas, me ajude! Anseio não oscilar agora, tampouco num período que está por vir, mesmo que não tão próximo... Período este que vejo criar novos capítulos por eu já ser, tão jovem, consequência de alguns já vividos...
- Calo-me, sim! Estou a partir... fujo das perpetuações de tuas tormentas... E como via de despedida, não penses que pensa; não atropele o fato pela conspiração! Mas não te rendas àquilo que lhe fez construir novamente! Já estás de alguma forma construído, e a prova viva disto é esse drama que me ora; Mas, jovem, você deve saber o que quero dizer e o que digo para não te render! E o que lhe digo: não sofras do sofrimento que ainda nem nasceu como angústia, que ainda não cadastrou teu nome na lista das celebridades de tua vida...
- Não! Disso já me firmei a postura! Mesmo tendo o porque fazê-lo realidade..
- Sejais humano, somente!
- Serei! Não fiques emburrado comigo, não estou sofrendo, tampouco triste!
...
- Prometa-me que voltará sempre que lhe aspirar...!!!
...
- Prometa-me! .... Eu quero amar!..

domingo, 25 de março de 2012

é muito




é muito forte pra mim!
é muito peito trêmulo, é muito pulmão ofegante, é muito assédio à cuca, é muito estímulo para que os dedos suportem tanta contorção... é muita exacerbação que anseia explodir!
é muito violino aos meus ouvidos, é muito choro das notas tortas que gritam, berram e gemem!
é muito pôr do sol escarlate para meus olhos!
é muita lágrima para os meus olhos, e muita ânsia para meu pescoço contraído!
É muita força para minha panturrilha, é muita respiração ofegante e crescente e muito ofegante e crescente a respiração!
É muita dor da boa dor para o coração, é muita inspiração frustrada e efetivada para a imaginação!
É muito mais que o vermelho que se apresenta ao preto e o branco como solução!
É muito mais que a unha que arranha e o dente que morde o tesão!
É muito mais que o sol que ilumina e a lua que apaixona a noite clara e seca de verão!
É muito mais que a primavera dada ao inverno como solução!
É muito soluço dedicado à prisão da traqueia das paixões, é muito choro que vem como dilúvio à tristeza trazendo as boas novas das purezas de nosso líquido ocular!
É muita tempestade para os jardins de minhas emoções, mas igualmente são tão bêbadas as flores que nele gozam mel junto às abelhas, e das tempestades as beberronas se fazem de rainhas!
boêmias, flores dos jardins de minhas emoções, de meus devaneios, boêmias flores! bêbadas de mel, de tempestades e de amor!
É muito sereno para minha saúde, é muito orvalho para as folhas dos jardins! Mas é tamanho o prazer que as tênues e sutis gotas de água, ou de choro, ou de vinho, provocam nas folhas! As trepadeiras, as que vão além e trepam galhos e quaisquer objetos suspensos a fora, que conhecem bem como desfrutar das delícias do orvalho matutino, apreensivo e poético por primazia!
É muito ácido para a sanidade, é muita maconha para a ansiedade, é muita cocaína para a monotonia, é muito tesão como terapia!
é muito forte pra mim!
É muito urgente o delírio, o virar dos olhos, a fuga da desgraça, a investida na vida, o estourar dos fogos e das festividades da consciência, o emaranhar as coisas que não se medem e não se explicam, que nem os espertos, ou mesmo os bêbados e sonolentos compositores, apaixonados e escritores explicam...
É muito urgente o piano ao excitado, a cama ao exagerado, ao defunto leviano a vida e o luar às águas turvas de um rio!

quinta-feira, 22 de março de 2012

o lobo a ideia você

imposta a cala
amordaçada a expansão
a mente não nada
quando é nada na prisão

condenada ao pavilhão
da alcateia das ideias mortas
o sepulcro não falha
o epitáfio puxa a mão
do lobo morto que não fala
que não late, que não rosna

imposta, a cala!
cala a rosna amordaçada
nada nada na água clara

o lobo é pra viver
o lobo é pra pensar
o lobo é você
que matam sem parar
que vive pra parar
que deve viver pra viver
que deve pensar pra pensar
que não deve parar para parar
que não deve parar para privar

mas

tudo é escuro pelo sepulcro
o lobo é mudo
e não nada na água
o lobo é surdo
e não vive na mata
o sepulcro não falha
o sepulcro mata
o lobo não rosna
o sepulcro mata

terça-feira, 13 de março de 2012

gatti - à minha mãe, vó, prima e primo


uma por vezes imatura, entretanto determinada, corajosa. Da distancia fez seu pilar para a vida, sua fundamental, apesar de dolorosa, arma para sua vitória. Da distancia multiplicou-se o tempo, do resultado, cresceu a ferida necessária para o êxito. Seria crueldade do destino se não fosse de fato necessário para o amadurecimento e, sobretudo o autoconhecimento. Quem por muito não tivera autonomia suficiente em passagens aleatórias e não tão penosas da vida, a própria vida coibira para a compreensão de si mesma que poderia ser forte, persistente e focada. E de fato foi, e de fato é, forte, persistente, e focada.

O tempo é angustiante, principalmente quando se passa por uma crise de ansiedade; os dois dígitos que contam os anos são suficientes para, outrora sanar a angustia pela comodidade desenvolvida, outrora para refletir os um-quarto ou um-terço perdidos e marcados pela distancia. Evidentemente, de tudo tiramos experiências com os erros e alegrias com os acertos; o fato é, não devemos amargurar os erros se podemos tornar suas consequências como alicerces para próximos acertos. 

A dor não cura, a dor não alivia, a dor não corrige; então por que senti-la? Por que, ao menos, legitimá-la como algo que exista ou deva existir? A dor não é uma causa, é uma consequência. Quando queremos derrubar uma árvore, não atacamos seus galhos, sim suas raízes. Não ataquemos ou legitimemos a dor; que compreendamos suas raízes, pois a dor é uma reação antagônica a algo que tem como causa; e, se a dor é antagônica, o que é a causa necessariamente é o oposto da dor. Foquemos nisso! Em virtude dessa analise que ela não me causa espanto; a simples consciência de que existo e que vivo, que existem esses mais de 10 anos, que minha mãe existe e vive, faz-se necessária para a difusão da alegria.

Por aqui existem algumas outras “Fanoras”; talvez eu tenha compreendido o conjunto social o qual antes ela fazia parte diretamente como sua presença, seu abraço, e por isso eu tenha conseguido afastar tão facilmente eventuais tormentas maiores, angustias terríveis. Foi-se o corpo, entregue nas mãos do mundo para ser castigado e, somente por essa alternativa, por esta chantagem, poder dar-me toda assistência e regalia as quais gozei aqui. Foi-se a carne e a autoconsciência; ficou a alma, o carinho, manifestado em alguns muitos que amo e que ficaram aqui.

O meu tio: seu irmão. Não existe adjetivo melhor para designá-lo. Quando penso no passado da minha mãe, o que mais me remete é a imagem do meu tio como companheiro de saltos e quedas, de idas e vindas; talvez pelo espirito forte e protetor que por algumas vezes vi quando era criança, em acontecimentos que por aqui nem devem ser enfatizados, de tão fúteis e pífios que são tendo em vista nossa história e nossos triunfos familiares, com o amor e a solidariedade como virtudes; talvez pelo momento que vivo, a juventude, a qual penso demasiadamente como teria sido a deles, fantasiando cada momento vivido e comparando com os meus que vivo; talvez mesmo por serem apenas irmãos, por só isso já basta.

De qualquer modo, sinto uma confiança e uma fortaleza tão incrível em meu tio, sinto-o como um irmão mais velho. É até impressionante as relações familiares e as emocionais que tenho com pessoas que estão intimamente ligadas a nós: sua irmã como minha mãe biológica e amiga; sua filha como minha irmã, chata por algumas vezes, todavia poucas vezes sem razão; seu filho como uma perfeita manifestação da natureza, que tanto amo e amo mais ainda por ser tão reciproco; e sua mãe, guerreira, como minha mãe presente, como o sustentáculo para qualquer triunfo que obtive até hoje, a poderosa e tão sutilmente carinhosa mulher que fez a vida, as nossas vidas.

É impossível pensar em minha vó sem perder algum norte de concentração num momento desse, que faço de letras os meus mais sinceros sentimentos de minha família. Até a estrutura física é abalada, escorrem sempre algumas lágrimas no rosto, transbordando um sentimento tão denso... Também não é para mais, todo amor que eu possa suportar, toda confiança que eu possa atribuir, toda angustia que eu possa sentir por algum mal que lhe fiz. Todas sensações que variam das mais magnificas às mais deprimidas, quando dizem respeito a ela, são realmente enaltecidas.

Adjetivá-la é custoso, descrevê-la é impossível. Vivê-la é o necessário. Sentir o carinho que ela transmite, mesmo com toda sua rigidez, é incrível. Sua rigidez e sua convicção fazem dela a pessoa que é; se não fosse essa postura, quem seria alguém que suportasse tamanha pressão que ela suportou, que ela venceu e triunfou. São três gerações criadas na garra, são netos, filhos e inclusive o marido como provas para demonstrar sua força.

Não posso mais prosseguir com palavras a descrevendo. Sinto-me obrigado em finalizar esse suspiro textual e dar prosseguimento ao suspiro além das palavras e letras. Eu amo vocês demais.

segunda-feira, 12 de março de 2012

dona maria, a flor nasceu em você


o silencio do altar me apavora
eu quero a gritaria da nossa alegria!

e que seja feita a nossa vontade agora!
que deserde o bitolado pela nossa euforia!

Oh, dona maria
és tu livre a partir desse instante
goze e a liberdade sem medo quero que cante!

quero eu e queres tu
tu estás liberta e teu coração estás nu!

amo a mim e amo a você
e sob tutela do infinito amor ninguém poderá nos prender!

ninguém, dona maria
a cruz caiu, o costume castrado!
a nova paixão fez do pecado abortado!

abortado, o pecado abortado
libertado, teu ovário libertado

dona maria
essa tua maravilhosa boa nova
floresceu do seu útero!
e de lírico pequeno-pouco,
tua audácia fez uma grandiosa prosa!

domingo, 11 de março de 2012

eu leio, morro e amo a vida


vou morrer, por isso escrevo
por isso me escrevo
para eu continuar vivo
vivo!

beijos, eu te amo quem me lê!
sem você
isso não teria sentido
sem eu
isso não estaria escrito

nem vivido
nem agonizado
nem amado
nem sofrido!

eles nos dão; nos damos a eles


eles nos dão nós
feitos somos dados a nós mesmos
e nós honramos a vós
a dura batalha que vivemos

eles nos dão, às nossas crianças

a vida para viver a dor
a fome para sentir no chão
o frio e para ter calor
a cola como seu colchão

eles nos dão, às nossas crianças

o futuro num maço de cigarro
o destino soprado num trago
no papel de 10, 10 reais do descaso
e como oferenda o assassinato

eles nos assassinam, às nossas crianças

a vida antes dela ser
o sorriso do amanhecer
a esperança, que trajava natural
a alegria, que deveria ser normal

mas eles nos dão, às nossas crianças

o sentir fome, o ódio
o sentir frio, o ódio
perder o nome, a vingança
o sentir vazio, a vingança

o ódio e a vingança, a morte
o deus morto no altar, a morte
o sorriso inquieto, o brado
na mesa de jantar, o alvo

eles nos dão, às nossas crianças

o alvo aqueles que vos sustentam
que se emocionam em romances
que se aprisionam das tormentas
nos jantares inquietantes

eles nos dão, ao nosso destino

aliás eles nos dão, o nosso destino
e ao destino, impõe nossa rotina
que nos tranca e faz-nos sentir receio
de nós, que engordamos nosso medo

eles nos dão, portanto, o medo

assim como nos dão a pátria
assim como nos dão a segurança
a nós por nós armados, reforçada
assim como nos estupram propagandas

eles nos estupram a cabeça

nos dão escolas com seus métodos
nos dão o curso do vazio puro
nos afogam na inércia de seus processos
transformam a luz num salão escuro

eles nos dão o escuro, quando podemos ter luz
eles atacam o cógnito, para que o néscio se reproduz

eles alvejam quem ousa, pois quem ousa pensa
portanto criam hospícios, televisões e cadeias

eles sabem, e têm medo dos livros
eles sabem o valor de seu perigo

eles têm armas e as dispõe à nós
nós temos cabeças, e dispomos a vós

somos nós, os demônios que nos perseguem
somos os bandidos, as polícias e os hereges
os pecadores da moral que nos impuseram
os loucos engasagados por seus remédios

a inserção de vossa matéria
bem ensinada na escola da vida
determina a nossa miséria
nosso sofrer, nossa batina

determinemos, pois
nosso próprio dia
nossa própria noite
nossa própria vida

ataquemos, então
aquilo que nos ataca
não conheçamos o perdão
enfiemos, a faca
em vosso peito, no coração

pra fazer cessar, enfim
esse eu contra você
você contra mim

essa batalha,
travada por nós,
por nós contra nós

pra fazer nascer, de uma vez por todas
a nossa vida, por nós orientada
a antiga ilusão cantada por aquela louca
que por nossa utopia foi fecundada

terça-feira, 6 de março de 2012

cirrus minor gc

..ou então aceitemos também!
somos lindos e é isso aí meu amor
o mundo gira em torno dele
o mundo gira em torno do sol
mas ele está sob nossos pés
ele é grandioso, meu amor
mas somos infinitamente grandiosos também!

e o sol...
o sol nos arde a pele
nos mata o frio
e nos faz dele uma representação
de alegria e vida!
Ele nos faz! A nós, ele nos faz!

Você sabe o que você é, meu amor?
e eu sei o que eu sou?
será que devemos saber?
ou devemos procurar saber?
se só o fato de sermos
e lindo sermos
já basta!

A grandeza se dá pela vida
a vida nos atribui a grandeza divina
estamos vivos, amor!

estou vivo de você
o que respiro é o seu ar
o que me machuca é sua mordida
mas não leve a mal, meu bem
esse machucar é como o sol para as flores do meu jardim
é como a bebida ao entediado
é como o poder ao obcecado
é como a tua mordida a mim

meu amor, somos lindos! esbravejo-me novamente!
meu amor, devemos nos exaltar
quem se ama se delicia
quem se delicia delicia quem se ama
e quem se ama ama quem se delicia
que nos amemos
que nos deliciemos!

já que falei em delícias...
a juventude é de fato uma delícia!
a nossa juventude é eterna
ela não nos frige
ela nos responde

"olhem, crianças
como eu posso lhes apresentar
sob uma forma extraordinária
que caibam quaisquer objeções
frases, aspirações, reivindicações;

olhem, crianças
como posso lhes apresentar
a vida!

olhem, meus amores,
como eu posso lhes fazer ávidos
para suscitarem seus prazeres
e para verem a vida cheia de cores
ou até cheia de dores
mas aquelas dores juvenis
que até fazem bem!,

crianças, sou a juventude
amem-se!
pois, em meu reinado
a lei sou eu;
e, em meu reinado
vocês fazem a lei!

crianças,
em meu reinado,
vocês me fazem,
me vivem!
"

ah, meu amor
somos jovens!
perfeitos por sermos a natureza
perfeitos por sabemos que a somos!

as imperfeições só cabem na nossa limitação à esfera que sustenta imperfeições!

Por que não sermos perfeitos?
Devemos ser ousados!

Meu amor, aceitemos, também!
Aliás, amor, compreendamos!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Carry that weight a long time

Qual seria o trauma daquele tigre que tem seu orgulho felino - ou sua própria alma - destroçado? ou, melhor, quais seriam os motivos para esse ou esses traumas? uma hiena que se aproxima num dia ensolarado, quentíssimo, nos interiores das matas africanas, uma hiena que neste sol escaldante tremula seus olhos pelo ardor do calor de nossa estrela, que o seduz e não o apresenta o mínimo de ameaça, noutras noites se transforma num volumoso bicho estranho, atormentador, medonho, que é capaz de, com sua ironia e posição nas coisas da vida, fazer os caninos do bichano se destroçarem pela força de seu maxilar, força que é resultado das dores das cáries dos caninos do orgulho e da mente do animal... 

Sabe-se que o canino é um dos pontos de maior concentração de força num animal carnívoro e sobretudo selvagem. É o canino que devora aquilo que lhe não é de bom agrado; é o canino que se dispõe como a proteção e o poderio ofensivo do bicho; pode-se dizer então que é o canino a morada de sua estabilidade vital e, mesmo que não seja por tempos integrais, nalguns vários momentos é imprescindível sua existência. O que seria, então, dum tigre com seu canino destroçado? E mais, o canino de suas objeções, da áurea de seus pensamentos, seu canino emocional; o que seria dum tigre com esses caninos assolados por uma cárie destrutiva?

São perguntas que o tigre, caso pudesse se dispor de análises como nós humanos podemos, deveria fazer-te imprescindivelmente. Surge mais uma pergunta: qual foi o descuido do tigre para esses ataques impetuosos da cárie em seu sustentáculo emocional? A fragilidade de seu coração poderia de alguma forma influenciar essa doença crônica em seus caninos? Por que, tigre, não começa-te a te responder? Uma cárie, tigre, surge com o tempo, se desenvolve com o tempo e, por isso, quando ataca, permanece-se nessa condição, ela ataca com o desenrolar dum tempo. E é justamente aí que vem tua dor mais irascível, a dor que você sente num desenrolar muito grande do tempo e que, às vezes, sufocando-te, parece não ter fim, não ter cura, parece a ti que firmou-se não uma cárie, mas um câncer em seu fígado, que lhe agoniza e lhe faz retrair mais e mais para ti mesmo, o que te faz ter medo duma inofensiva hiena numa noite nebulosa naquelas savanas da áfrica...

Voltando à hiena, tigre, talvez não foram outras hienas pela tua vida que lhe meteram boca-da-tua-mente a dentro a cárie nos caninos-de-tua-mente? Tigre, responda e conheça-te; podes definhar, é inevitável, mas conheça-te para conhecer o que lhe fere, o que lhe fez ferir e que, apesar dos devaneios e desacertos da vida felina, reconhecer que você é um tigre. E, tigre, por ser um tigre já sabemos que teu orgulho é capaz de fazer brilhar todo o oceano pacífico, dar luz à noite e fogo à lua; imagino, tigre, como deve estar você agora, com essa coisa que chama orgulho, que tens e que estás sumariamente abalado.

Teu orgulho vens sendo abalado, tigre, reparei, e sei que é por isso que não te assume a cárie. Mas sou seu amigo fiel, assumo-a por ti e me disponho a tratá-la... Tigre, não chores, você está exposto às seus semelhantes, mas chore quando sozinho; chore, desanuvie, as lágrimas do seu choro poderão ser a cura de tua enfermidade, poderão fazê-la mole quando em contato corrente e assim fragilizando aquilo que tanto lhe fragiliza. Mas não espere somente de suas lágrimas; se for necessário, também, quebre seus caninos de fato com aquela força que lhe atentei no começo de minha fala, meu grande amigo.

Extrapole a dor dos seus caninos-de-tua-mente nos seus caninos de cálcio de tua boca, ruja tuas dores, encare-as de frente, mesmo que contraia-te a ti mesmo... Das respostas, Tigre, não as exponho por orgulho, você sabe... você sabe do orgulho e das respostas... Tigre, saibas de uma coisa: essa hiena não lhe atormenta como seus olhos apresentam a ti; assim como existem os caninos-de-tua-mente, existe o devorar-de-outro-modo: devore-a-de-outro-modo.

Escute, Tigre, escute essa música... digo-lhe que ela me faz chorar... E chore também, chore, pois depois de toda tormenta nos céus carregados, cinzentos e escuros, existe o sol, o azul e o infinito, meu amigo tigre...



Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time
Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time

I never give you my pillow
I only send you my invitations
And in the middle of the celebrations
I break down

Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time
Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time

Garoto, você ira carregar esse peso
Carregar esse peso por um longo tempo.
Garoto, você ira carregar esse peso
Carregar esse peso por um longo tempo.

Eu nunca te dei meu travesseiro
Eu apenas lhe enviei meu convite
E no meio das celebrações
Eu desabei.

Garoto, você ira carregar esse peso
Carregar esse peso por um longo tempo.
Garoto, você ira carregar esse peso
Carregar esse peso por um longo tempo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

mordida


eu quero os suspiros que por tanto nos perseguem
eu quero a sua mordida, que aprendi a querer-mais
eu quero ser o caim da lilith do pós-eden
do pecado pelo pecado, ao que nosso corpo satisfaz

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

ao zé ninguém, com carinho de w. reich


Não entendes porque é assim, porque não pode ser doutra maneira? Eu digo-te, Zé Ninguém, porque eu aprendi a ver-te como o animal rígido que me trazia no seu vazio, na sua impotência, na sua doença mental. Só sabes sorver e apanhar, não sabes criar ou dar, porque a atitude básica do teu corpo é a retenção e o despeito; porque entras em pânico de cada vez que sentes os impulsos primordiais do AMOR e da DÁDIVA. É, por isso que tens medo de dar. A tua permanente avidez só tem um significado: és continuamente forçado a encher-te de dinheiro, de satisfações, de conhecimento, porque te sentes vazio, esfomeado, infeliz, ignorante e temendo a sabedoria. É, por isso que foges da verdade, Zé Ninguém – ela poderia fazer-te amar. Saberias então o que tento, inadequadamente, dizer-te. E isso tu não queres, Zé Ninguém. Só queres que te deixem em paz como consumidor e patriota.

“Ouçam isto! Este tipo nega o patriotismo, a base do Estado e do seu órgão fundamental, a família! Isto não pode ficar assim!”

É assim que gritas “aqui-d'el-rei” quando alguém te denuncia a prisão de ventre mental. Não queres nem ouvir nem saber, queres berrar “vivas”. Mas porque não me deixas dizer-te por que razão és incapaz de alegria? Vejo-te o susto nos olhos - sente-se até que ponto o assunto te afeta profundamente. A “questão religiosa”, por exemplo. Afirmas defender a “tolerância religiosa”; afirmas o teu direito à liberdade em matéria religiosa. Perfeito. Mas queres mais: queres que a tua religião seja a única. És intolerante quanto às outras. Ficas desesperado quando encontras alguém que, em vez de um Deus pessoal, adora a natureza e procura entendê-la. Preferes que os cônjuges em vias de separação se processem judicialmente, se acusem de imoralidade ou de brutalidade quando já não lhes é possível viver juntos. Tu, que és descendente de homens rebeldes, és incapaz de reconhecer o divórcio por mútuo consentimento - porque a tua própria obscenidade te assusta. Queres a verdade num espelho, algures onde não possas chegar-lhe. O teu “chauvinismo” decorre naturalmente da tua rigidez, da tua prisão de ventre mental, Zé Ninguém. E não o digo com sarcasmo, porque te estimo, embora seja teu hábito esmagar os que te estimam e dizem a verdade.

Repara, por exemplo, nos teus patriotas: não andam, marcham. Nem odeiam o inimigo – o que acontece é que têm “inimigos hereditários” que de dez em dez anos passam à categoria de amigos hereditários, e vice-versa. Não cantam – berram hinos marciais. Não fazem amor – “comem-nas” e têm um curriculum de “fudidas”, por noite. Estas são as verdades que tenho para dizer-te, Zé Ninguém, e contra as quais nada tens a opor, exceto o assassínio, o mesmo que perpetraste contra tantos outros homens que te estimavam: Jesus, Rathenau, Karl Liebknecht, Lincoln e muitos outros. Na Alemanha costumavas chamar-lhe “depuração”. A longo prazo foste tu que foste “depurado” aos milhões – mas continuas a ser um patriota.

Desejas amar e ser amado, amas o teu trabalho e é dele que vives, e a base do teu trabalho é o meu conhecimento e o de outros. O amor, o trabalho e o conhecimento não têm pátria, não conhecem fronteiras nem uniformes. São internacionais, são o patrimônio da humanidade. Só que tu preferes o teu patriotismo medíocre porque tens medo do amor genuíno, do trabalho responsável, medo do conhecimento. E por isso exploras o amor, o trabalho e o conhecimento dos outros, mas nunca poderás criar. Por isso usas a tua alegria como um ladrão furtivo, por isso não consegues suportar sem azedume e inveja a felicidade dos outros. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

se eu posso pensar que blululrulrlururm


Deus, senhor dos senhores
o grande onipotente
onisciente e onipresente
perfeito por natureza
amado por milhões
milhões tais suas criaturas
seus seres,
que, por virtude, seríam tua imagem semelhança
eu? sim,
mais uma criação do mestre supremo

sim!

tu nos criastes com qual finalidade?
imagem semelhança tua;
com certeza não!
se tu fizestes o homem como semelhança
de sua perfeição
como ele seria seduzido por uma cobra,
pelo seu anjo rebelado?

Vossa excelencia Deus
és capaz de destruir o inimigo
o anjo rebelado
que semeia ódio por todos os seres

o inimigo! Criação tua!
Ser Humano! Criação tua!

Um tinha como finalidade
gozar do amor de vossa grandeza;
outro tinha como finalidade
ser simplesmente tua cópia!

Ora, como és perfeito
ao ponto de criar
um anjo que se rebelou
contra sua magnitude?

Ora, como és perfeito
ao ponto de sua imagem semelhança
deixar-se manipular
pela serpente?
pelo inimigo? Por outra criação sua?

Como tu podes amar suas criações?
Se, duas delas,
fizeram algo que tu condenas?

Se tu condenas, por que criou?
Então por que privou?

Deus, senhor dos senhores,
ao criar uma criatura,
se seu destino é predefinido
por sua própria excelencia,
porque condená-la?
porque deixastes cair em tentação?

Deus, amado por seus seres,
pode ser seduzido por uma criatura
desprezível ao teu nível?

Sim?

Assim como o homem o foi,
tu também é vulnerável;

Ora! Isto está errado!

Ou tu, ou tua criação;

Se for tua criação,
tu também estás!

És tu perfeito?
Gosta tu de ver as suas marionetes
agonizando, se corroendo?

Tu criastes os sentimentos?

Fora tu que criastes o ódio?
O rancor?
O amor?

Fora?

Cada um tem sua história escrita
por tu, senhor criador!

És tu sádico?

Gosta de ver seus seres
que lhe amam
sofrer?

Se você vos ama;
por que vos criou?

Por que criou o homem?
Por que criou o inimigo?
Por que fez do homem um ser fraco
e fê-lo comer o fruto proibido?
Por que criou o fruto proibido?
Por que proibíu-o?

E agora, que tudo foi feito
como uma atitude simples
condenou as duas criações
por erros - erros? -
que tu disse que eram erros
e que tu vos fez errar!

Agora, estou eu aqui,
milhões de anos depois
de adão, de eva
da serpente,
do fruto proibido,

e herdo os mesmos sentimentos;
mesmas aflições;
pensamentos;
e tudo que criastes
para nos ver sofrer!

então que eu faça bom uso dos TEUS sentimentos
deles retiro o ódio e a vingança
para lutar contra tu
contra teu "amor"
que um dia me sedou
um dia me deixou louco
que um dia passei a sentí-lo!

O mais absurdo,
é que você, senhor,
teve a audácia de fazer isso!
de montar esta história!
Esta única história
dentro de milhões, bilhões
que aqui estão comigo
dividindo a candice
e, por ironia do destino,
lhe amando!

Deus, sádico, desgraçado
criador do meu presente
do meu futuro,
do meu passado
és tu tão cretino,
és tu também o destino!

tu me criastes para estar aqui
escrevendo contra você,
pensando contra você,
e entendendo o que você faz

Mas, quem se importa?

quem daria-me ouvidos?

Deus, tu és tão perfeito,
que, aqueles que rebelam
contra sua excelencia
nada lhe afetam;
apenas lhe ajudam!

Deus, eu te amo.
tu me enfraquece
tu me chantagia
tu me alucina

ora, tu nem existe
e faz com que eu pense em você!

Tu és perfeito, sim.

se o cheiro confuso, as portas estão permanentemente abertas

o grito berra a garganta seca
ilusão branca agitação tristeza
desse anseio que lhe atormenta
ansiedade que lhe adoenta

a cabeça que já diz que não aguenta
a vida podre que matou sua natureza
um entupido que alimenta sua tristeza
fugir pra onde se é escravo da caneta
do corte, a sorte, da navalha, a sutileza..

ela excita, ela mata, morre e abraça o medo..
das várias consequências
a inspiração é a que tem o melhor cheiro!
melhor que o da nota
que se confunde com o primeiro...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

o tempo e as jogadoras fumantes e as novas jogadoras

O tempo é, o que concluiu depois dos alguns anos de novas experiências e naqueles anos de amadurecimento, o dealer do jogo da vida, aquele que embaralha as fatalidades vividas e as distribui. Só o tempo, com sua infinita grandeza e maestria poderia, de fato, dar as muito mais que 52 cartas à mesa. E não é uma mesa fácil de lidar não, acredite. Nela jogam a sensatez, uma brava jogadora, forte e complicada de se relacionar; a intimidade, uma jogadora que a cada nova rodada faz questão de implicar com os assuntos mais bestas e banais das demais jogadoras; joga também a monotonia, que sempre está a ascender o cigarro da novidade e da espontaneidade, coitada, já velhinha e destruída pelo câncer de pulmão; ah, a intriga também joga, talvez a mais cínica das jogadoras e com certeza a mais enjoada de todas...
Incrível é poder, depois destes anos, acreditar que um dia naquela mesa, fazia-se presente a amizade, nova, ávida, enxuta e com muito vigor, muita vida, exuberante, tal como as próprias espontaneidade e novidade, que alucinavam os fatos e as realidades daquela época, coloriam com cores fortes e intensas tudo que via, via mais intensamente tudo que coloria, e faziam, de uma maestria ímpar, as irmãs relações, também jogadoras, acentuarem os afetos e as festividades mentais.

Mas o que se vê nessa mesa é que, durante esses anos, algumas jogadoras envelheceram, outras perderam todas suas apostas - tendo por isso que sair do jogo -, outras ainda se relacionaram tão intimamente que, de alguma maneira, criaram filhas, (filhas novas mas com espírito buxunxado, chato de galocha, velho, entende?). É inevitável o crescimento de responsabilidade - e por isso importância - do tempo naquela mesa, o único que penou realmente para a manutenção do jogo, que não parou, não para e nunca vai parar de caminhar, de trabalhar as cosias e fazer existir o jogo. Chega num determinado momento que ele se vê obrigado a intervir de alguma maneira na mesa, dando tapas e causando nervosismos nas jogadoras por meio das cartas - pode entender como "verdades"- novas distribuídas...

Mas na mesa, duas jogadoras que o tempo trouxe consigo dessa empreitada que é viver o vive-se, são jogadoras novas e por isso estão, num tempo tão curto, se destacando por demasia, fazendo ocultar as demais jogadoras, velhas e rabugentas, chatas e fumantes, e trazendo o protagonismo da mesa à elas mesmas, justamente pelo vosso brilho que reluz na mesa inteira... Apesar duma tal de ansiedade, chata, implicante e também velha jogadora, essas novas jogadoras, que o tempo ainda não apresentou muito bem à mesa, excitam o jogo como nunca antes fora excitado.

São essas novas jogadoras as que provam, mais uma vez, a plenitude do tempo em renovar, fazer amadurecer, envelhecer e novamente renovar as jogadoras e as protagonistas de determinadas épocas...