quinta-feira, 28 de junho de 2012

objetivas - da angústia do tempo e espaço


o tempo recusou-me dar explicações,
segue vasto me envolvendo
e sigo baixo respondendo
a mim mesmo
como é tolo ao espaço procurar atalho
ou morada, esconderijo
e afirmo o perigo desse abrigo
é infinito, e o que seria a unidade?
o que seria a limitação?
idade, morte, num vão delírio da sorte
e a sorte? a que destino se atina
existe rotina? e não é rotina
essa perturbação numa alma que transpira vida
que flutua o pensar e o pesar
de viver e tentar entender
o que é ser, o que é estar?
e se está, está onde,
e onde está o fim do horizonte?
é vasto e segue me envolvendo
e me trazendo tormento;
e se é incomensurável,
questiona portanto o porque da medida
aflita um tanto a cabeça tremida,

sente-se instável;

e contrái-se;

até que grita
até queimar a retina
dos olhos dos grandes irmãos;
e outros pensares retraem-se:

prendam-na!
ao sanatório!

e a aflição perpetua como uma máxima voz
o vão espaço-infinito-tempo
majestosamente continua sendo atroz!
se matar
ou se maltratar
e continuar no desespero que aflige;
continuar?
a continuidade, existe?
vasto como o tempo é a tua filha, menina, a doce e inefável sandice
doce loucura..
amarga doçura

sábado, 23 de junho de 2012

o sangue-seiva quente queima sangues brancos


um tiro branco na flexa
um sangue quente xamanico
escorre do canto na terra
morre o canto no pantano
 
o canto que saudava
agora geme
um arbusto chora
e treme o galho seco
e a mata
em uníssono
transimitindo a percepção da dor
tal como o antigo canto enraizava
alardindo aos seus semelhantes
tal como o antigo canto enfumaçava
a lamentação é a tua seiva generalizada
faz ser de boa visão à tua mãe o cortejo de tua história assassinada
e o fúnebre velório é a sombra densa provocada pelas árvores enxarcadas
e geme
 
um tiro branco disparado pela história que estudou os pontos cardeais
um tiro santo fundado na glória de um deus de tão longe que atravessou o oceano em caravelas reais
 
o olho fechado é de morte, não mais de compreensão
mas a fumaça ainda se espalha
a argyreia ainda se porta como porta da muralha da sabedoria e da história
o san pedro tem seus espinhos para os vinhos que vinham dos mares confrontar seus caminhos
a sabedoria chora
mas se renova
 
o xamã sangrou naquele dia
e gemia a natureza naquele dia
mas permanecia a natureza a contemplar teus entusiastas
e a vos enraizar em suas matas
 
retorna o bixo homem à terra em forma de lágrimas
enxugadas pelas raízes das plantas
sugadas pelas terras úmidas próximas dos rios turvos
sem sentidos, cego, surdo e mudo, morto da matéria
retorna o bixo homem à realização da terra como adubo
 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

E repetiu tua predestinação: INVOQUE-ME!
E tua constante: LEMBRE-TE DE MIM!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

hobbes

não me venha dizer que o homem já nasce matando o outro
que o leão abatido por dia é a fria impureza do espírito
não me venha com o papo de ódio inerente ao faro da gente
o lobo se rosna ele rosna de fora trazendo a disputa que sente
 
se sente o lobo o homem e se sente inimigo de seu inimigo em potencial
julga portanto a postura alheia como imperfeição e semeia uma eventual
natureza que agora até corre no sangue da gente que escorre levando o mal
mal que existe de fora pra dentro pela imperfeição de todo animal
 
imperfeição ou exclusividade de todo homem que é vivo e não é igual
na verdade a nenhum outro bixo que pensa igual mas tem outro sinal
 
paredes pintadas em cada morada são tão diferentes
marés se chocam naturalmente na cabeça da gente
se a própria morada é a mente e existe mais do que cê pense
e o que alaga é a metáfora que nos faz diferente
 
porque cada cabeça é uma corrente
cada cabeça é uma corrente
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
bate de frente mas água mistura
lobo se bate ele morde e fura
água mistura corrente com rio com mar e com chuva
água de cheiro, quente ou gelada é água e isso não muda
 
água
água!
é água e isso não muda!
 
água
água!
é água e isso não muda!
 
a cabeça muda quando não tá muda e a cabeça mudar é se elevar
o lobo não existe em cabeça que muda e aceita a outra cabeça mudar

o bip dos 7 minutos, o sábio dos gritos mudos

7 minutos para o início
aguardando...
 
recolocando:
 
7 minutos para os ultimos preparativos
 
ti ti ti
 
por que esse não é o som permanente?
é tão conciso com as preocupações
é tão inerente ao diálogo eterno
é conflituoso como recordações
 
recordar é a magia do sábio Sebastião
dizem até que ele um dia gritou à sua família
"a vida é a busca pela alegria, minha filha
procure ser vitoriosa um dia"
 
recordar é uma magia que Sebastião não resguarda
por outro lado, compartilha e explica
que antigamente a gente fazia poesia
em papéis guardados que a polícia não via
ou não podia ver
 
é, Sebastião recorda que não havia TV
que não existia cores em fotos
que os fatos eram da fé e os olhos
que ela tinha vigiavam você..
 
Sábio Sebastião profetiza os novos tempos
tão mudados que mal podem trazer ventos
frios ou quentes, mas que arrepiassem as dorsais dos desatentos
que brincam como imbecis, bilhar, baralhos, fomes e tentos..
 
brilhando teus olhos ganâncias atentas
mas fatalmente esfriadas por fazerem tormentas
as utopias brilhantes que embaralhavam remendas
 
imbecis e viciados na antiga era
sem tempo e sem dinheiro para ouvir o sábio profeta...
que trás auroras e atenções às impurezas
cauterizando mas não curando suas fraquezas
 
o sábio profeta e visionario Sebastião diz que o que trás é novo
de novo mais um tolo que afirma nova sina pra curar o desconsolo?
novamente mais uma gente acreditando veemente em um bêbado da rua oito?
 
"não desanima
pois nessa vila
o necrotério
o bar e o mistério que um sábio precisa ter como dor de vida
são proximidades à rua dita"
 
Sebastião mal sabe que o que sabe é saber de coisas
Sebastião mal vale uma vida ao destino traçado das coisas
O sábio de memórias só recorda e mais nada é magia
pra frente da gente o sábio se embriaga e sente medo da luz do dia
 
todos os dias sábios se matam por preferirem a vida à melancolia
todas as noites sábios se embrigam por confundirem selvagem com selvageria
 
mais três minutos, querida...
 
só mais esses minutos para descobrir o que lhe faz menina
o que faz minuto uns segundos
e o homem os muros
 
só mais um muro a construir, retenha-se
só mais um sábio a cair, entenda se cair ao desmaiar
ou cair a se matar
 
entenda
nasce um sábio a cada bip do som original
bebe um bêbado a cada sábio profetizando teu sinal
bebe um sábio confundindo ser sábio por sinal
um sábio bêbado bebe e brada teu juízo final
 
esses segundos que nos restam
nos prestam homenagens...
homens selvagens domesticados às florestas de matos desenhados
como é tão perfeito o desenho imperfeito de um sábio, que grita e continua calado?
 
chegou ao fim, querida
a luz do fim não veio, enfim
 
esperávamos por isso mesmo, não era?
ou acreditávamos em Sebastião
depressivo beberrão,
condenado à querela e fissurado por ela?
 
pegue tua solitária cápsula
se mate também, pois me entrego ao bel prazer da incerteza que conforta meu adormecer
morrer pra não angustiar outro amanhecer