quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Carry that weight a long time

Qual seria o trauma daquele tigre que tem seu orgulho felino - ou sua própria alma - destroçado? ou, melhor, quais seriam os motivos para esse ou esses traumas? uma hiena que se aproxima num dia ensolarado, quentíssimo, nos interiores das matas africanas, uma hiena que neste sol escaldante tremula seus olhos pelo ardor do calor de nossa estrela, que o seduz e não o apresenta o mínimo de ameaça, noutras noites se transforma num volumoso bicho estranho, atormentador, medonho, que é capaz de, com sua ironia e posição nas coisas da vida, fazer os caninos do bichano se destroçarem pela força de seu maxilar, força que é resultado das dores das cáries dos caninos do orgulho e da mente do animal... 

Sabe-se que o canino é um dos pontos de maior concentração de força num animal carnívoro e sobretudo selvagem. É o canino que devora aquilo que lhe não é de bom agrado; é o canino que se dispõe como a proteção e o poderio ofensivo do bicho; pode-se dizer então que é o canino a morada de sua estabilidade vital e, mesmo que não seja por tempos integrais, nalguns vários momentos é imprescindível sua existência. O que seria, então, dum tigre com seu canino destroçado? E mais, o canino de suas objeções, da áurea de seus pensamentos, seu canino emocional; o que seria dum tigre com esses caninos assolados por uma cárie destrutiva?

São perguntas que o tigre, caso pudesse se dispor de análises como nós humanos podemos, deveria fazer-te imprescindivelmente. Surge mais uma pergunta: qual foi o descuido do tigre para esses ataques impetuosos da cárie em seu sustentáculo emocional? A fragilidade de seu coração poderia de alguma forma influenciar essa doença crônica em seus caninos? Por que, tigre, não começa-te a te responder? Uma cárie, tigre, surge com o tempo, se desenvolve com o tempo e, por isso, quando ataca, permanece-se nessa condição, ela ataca com o desenrolar dum tempo. E é justamente aí que vem tua dor mais irascível, a dor que você sente num desenrolar muito grande do tempo e que, às vezes, sufocando-te, parece não ter fim, não ter cura, parece a ti que firmou-se não uma cárie, mas um câncer em seu fígado, que lhe agoniza e lhe faz retrair mais e mais para ti mesmo, o que te faz ter medo duma inofensiva hiena numa noite nebulosa naquelas savanas da áfrica...

Voltando à hiena, tigre, talvez não foram outras hienas pela tua vida que lhe meteram boca-da-tua-mente a dentro a cárie nos caninos-de-tua-mente? Tigre, responda e conheça-te; podes definhar, é inevitável, mas conheça-te para conhecer o que lhe fere, o que lhe fez ferir e que, apesar dos devaneios e desacertos da vida felina, reconhecer que você é um tigre. E, tigre, por ser um tigre já sabemos que teu orgulho é capaz de fazer brilhar todo o oceano pacífico, dar luz à noite e fogo à lua; imagino, tigre, como deve estar você agora, com essa coisa que chama orgulho, que tens e que estás sumariamente abalado.

Teu orgulho vens sendo abalado, tigre, reparei, e sei que é por isso que não te assume a cárie. Mas sou seu amigo fiel, assumo-a por ti e me disponho a tratá-la... Tigre, não chores, você está exposto às seus semelhantes, mas chore quando sozinho; chore, desanuvie, as lágrimas do seu choro poderão ser a cura de tua enfermidade, poderão fazê-la mole quando em contato corrente e assim fragilizando aquilo que tanto lhe fragiliza. Mas não espere somente de suas lágrimas; se for necessário, também, quebre seus caninos de fato com aquela força que lhe atentei no começo de minha fala, meu grande amigo.

Extrapole a dor dos seus caninos-de-tua-mente nos seus caninos de cálcio de tua boca, ruja tuas dores, encare-as de frente, mesmo que contraia-te a ti mesmo... Das respostas, Tigre, não as exponho por orgulho, você sabe... você sabe do orgulho e das respostas... Tigre, saibas de uma coisa: essa hiena não lhe atormenta como seus olhos apresentam a ti; assim como existem os caninos-de-tua-mente, existe o devorar-de-outro-modo: devore-a-de-outro-modo.

Escute, Tigre, escute essa música... digo-lhe que ela me faz chorar... E chore também, chore, pois depois de toda tormenta nos céus carregados, cinzentos e escuros, existe o sol, o azul e o infinito, meu amigo tigre...



Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time
Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time

I never give you my pillow
I only send you my invitations
And in the middle of the celebrations
I break down

Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time
Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time

Garoto, você ira carregar esse peso
Carregar esse peso por um longo tempo.
Garoto, você ira carregar esse peso
Carregar esse peso por um longo tempo.

Eu nunca te dei meu travesseiro
Eu apenas lhe enviei meu convite
E no meio das celebrações
Eu desabei.

Garoto, você ira carregar esse peso
Carregar esse peso por um longo tempo.
Garoto, você ira carregar esse peso
Carregar esse peso por um longo tempo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

mordida


eu quero os suspiros que por tanto nos perseguem
eu quero a sua mordida, que aprendi a querer-mais
eu quero ser o caim da lilith do pós-eden
do pecado pelo pecado, ao que nosso corpo satisfaz

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

ao zé ninguém, com carinho de w. reich


Não entendes porque é assim, porque não pode ser doutra maneira? Eu digo-te, Zé Ninguém, porque eu aprendi a ver-te como o animal rígido que me trazia no seu vazio, na sua impotência, na sua doença mental. Só sabes sorver e apanhar, não sabes criar ou dar, porque a atitude básica do teu corpo é a retenção e o despeito; porque entras em pânico de cada vez que sentes os impulsos primordiais do AMOR e da DÁDIVA. É, por isso que tens medo de dar. A tua permanente avidez só tem um significado: és continuamente forçado a encher-te de dinheiro, de satisfações, de conhecimento, porque te sentes vazio, esfomeado, infeliz, ignorante e temendo a sabedoria. É, por isso que foges da verdade, Zé Ninguém – ela poderia fazer-te amar. Saberias então o que tento, inadequadamente, dizer-te. E isso tu não queres, Zé Ninguém. Só queres que te deixem em paz como consumidor e patriota.

“Ouçam isto! Este tipo nega o patriotismo, a base do Estado e do seu órgão fundamental, a família! Isto não pode ficar assim!”

É assim que gritas “aqui-d'el-rei” quando alguém te denuncia a prisão de ventre mental. Não queres nem ouvir nem saber, queres berrar “vivas”. Mas porque não me deixas dizer-te por que razão és incapaz de alegria? Vejo-te o susto nos olhos - sente-se até que ponto o assunto te afeta profundamente. A “questão religiosa”, por exemplo. Afirmas defender a “tolerância religiosa”; afirmas o teu direito à liberdade em matéria religiosa. Perfeito. Mas queres mais: queres que a tua religião seja a única. És intolerante quanto às outras. Ficas desesperado quando encontras alguém que, em vez de um Deus pessoal, adora a natureza e procura entendê-la. Preferes que os cônjuges em vias de separação se processem judicialmente, se acusem de imoralidade ou de brutalidade quando já não lhes é possível viver juntos. Tu, que és descendente de homens rebeldes, és incapaz de reconhecer o divórcio por mútuo consentimento - porque a tua própria obscenidade te assusta. Queres a verdade num espelho, algures onde não possas chegar-lhe. O teu “chauvinismo” decorre naturalmente da tua rigidez, da tua prisão de ventre mental, Zé Ninguém. E não o digo com sarcasmo, porque te estimo, embora seja teu hábito esmagar os que te estimam e dizem a verdade.

Repara, por exemplo, nos teus patriotas: não andam, marcham. Nem odeiam o inimigo – o que acontece é que têm “inimigos hereditários” que de dez em dez anos passam à categoria de amigos hereditários, e vice-versa. Não cantam – berram hinos marciais. Não fazem amor – “comem-nas” e têm um curriculum de “fudidas”, por noite. Estas são as verdades que tenho para dizer-te, Zé Ninguém, e contra as quais nada tens a opor, exceto o assassínio, o mesmo que perpetraste contra tantos outros homens que te estimavam: Jesus, Rathenau, Karl Liebknecht, Lincoln e muitos outros. Na Alemanha costumavas chamar-lhe “depuração”. A longo prazo foste tu que foste “depurado” aos milhões – mas continuas a ser um patriota.

Desejas amar e ser amado, amas o teu trabalho e é dele que vives, e a base do teu trabalho é o meu conhecimento e o de outros. O amor, o trabalho e o conhecimento não têm pátria, não conhecem fronteiras nem uniformes. São internacionais, são o patrimônio da humanidade. Só que tu preferes o teu patriotismo medíocre porque tens medo do amor genuíno, do trabalho responsável, medo do conhecimento. E por isso exploras o amor, o trabalho e o conhecimento dos outros, mas nunca poderás criar. Por isso usas a tua alegria como um ladrão furtivo, por isso não consegues suportar sem azedume e inveja a felicidade dos outros. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

se eu posso pensar que blululrulrlururm


Deus, senhor dos senhores
o grande onipotente
onisciente e onipresente
perfeito por natureza
amado por milhões
milhões tais suas criaturas
seus seres,
que, por virtude, seríam tua imagem semelhança
eu? sim,
mais uma criação do mestre supremo

sim!

tu nos criastes com qual finalidade?
imagem semelhança tua;
com certeza não!
se tu fizestes o homem como semelhança
de sua perfeição
como ele seria seduzido por uma cobra,
pelo seu anjo rebelado?

Vossa excelencia Deus
és capaz de destruir o inimigo
o anjo rebelado
que semeia ódio por todos os seres

o inimigo! Criação tua!
Ser Humano! Criação tua!

Um tinha como finalidade
gozar do amor de vossa grandeza;
outro tinha como finalidade
ser simplesmente tua cópia!

Ora, como és perfeito
ao ponto de criar
um anjo que se rebelou
contra sua magnitude?

Ora, como és perfeito
ao ponto de sua imagem semelhança
deixar-se manipular
pela serpente?
pelo inimigo? Por outra criação sua?

Como tu podes amar suas criações?
Se, duas delas,
fizeram algo que tu condenas?

Se tu condenas, por que criou?
Então por que privou?

Deus, senhor dos senhores,
ao criar uma criatura,
se seu destino é predefinido
por sua própria excelencia,
porque condená-la?
porque deixastes cair em tentação?

Deus, amado por seus seres,
pode ser seduzido por uma criatura
desprezível ao teu nível?

Sim?

Assim como o homem o foi,
tu também é vulnerável;

Ora! Isto está errado!

Ou tu, ou tua criação;

Se for tua criação,
tu também estás!

És tu perfeito?
Gosta tu de ver as suas marionetes
agonizando, se corroendo?

Tu criastes os sentimentos?

Fora tu que criastes o ódio?
O rancor?
O amor?

Fora?

Cada um tem sua história escrita
por tu, senhor criador!

És tu sádico?

Gosta de ver seus seres
que lhe amam
sofrer?

Se você vos ama;
por que vos criou?

Por que criou o homem?
Por que criou o inimigo?
Por que fez do homem um ser fraco
e fê-lo comer o fruto proibido?
Por que criou o fruto proibido?
Por que proibíu-o?

E agora, que tudo foi feito
como uma atitude simples
condenou as duas criações
por erros - erros? -
que tu disse que eram erros
e que tu vos fez errar!

Agora, estou eu aqui,
milhões de anos depois
de adão, de eva
da serpente,
do fruto proibido,

e herdo os mesmos sentimentos;
mesmas aflições;
pensamentos;
e tudo que criastes
para nos ver sofrer!

então que eu faça bom uso dos TEUS sentimentos
deles retiro o ódio e a vingança
para lutar contra tu
contra teu "amor"
que um dia me sedou
um dia me deixou louco
que um dia passei a sentí-lo!

O mais absurdo,
é que você, senhor,
teve a audácia de fazer isso!
de montar esta história!
Esta única história
dentro de milhões, bilhões
que aqui estão comigo
dividindo a candice
e, por ironia do destino,
lhe amando!

Deus, sádico, desgraçado
criador do meu presente
do meu futuro,
do meu passado
és tu tão cretino,
és tu também o destino!

tu me criastes para estar aqui
escrevendo contra você,
pensando contra você,
e entendendo o que você faz

Mas, quem se importa?

quem daria-me ouvidos?

Deus, tu és tão perfeito,
que, aqueles que rebelam
contra sua excelencia
nada lhe afetam;
apenas lhe ajudam!

Deus, eu te amo.
tu me enfraquece
tu me chantagia
tu me alucina

ora, tu nem existe
e faz com que eu pense em você!

Tu és perfeito, sim.

se o cheiro confuso, as portas estão permanentemente abertas

o grito berra a garganta seca
ilusão branca agitação tristeza
desse anseio que lhe atormenta
ansiedade que lhe adoenta

a cabeça que já diz que não aguenta
a vida podre que matou sua natureza
um entupido que alimenta sua tristeza
fugir pra onde se é escravo da caneta
do corte, a sorte, da navalha, a sutileza..

ela excita, ela mata, morre e abraça o medo..
das várias consequências
a inspiração é a que tem o melhor cheiro!
melhor que o da nota
que se confunde com o primeiro...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

o tempo e as jogadoras fumantes e as novas jogadoras

O tempo é, o que concluiu depois dos alguns anos de novas experiências e naqueles anos de amadurecimento, o dealer do jogo da vida, aquele que embaralha as fatalidades vividas e as distribui. Só o tempo, com sua infinita grandeza e maestria poderia, de fato, dar as muito mais que 52 cartas à mesa. E não é uma mesa fácil de lidar não, acredite. Nela jogam a sensatez, uma brava jogadora, forte e complicada de se relacionar; a intimidade, uma jogadora que a cada nova rodada faz questão de implicar com os assuntos mais bestas e banais das demais jogadoras; joga também a monotonia, que sempre está a ascender o cigarro da novidade e da espontaneidade, coitada, já velhinha e destruída pelo câncer de pulmão; ah, a intriga também joga, talvez a mais cínica das jogadoras e com certeza a mais enjoada de todas...
Incrível é poder, depois destes anos, acreditar que um dia naquela mesa, fazia-se presente a amizade, nova, ávida, enxuta e com muito vigor, muita vida, exuberante, tal como as próprias espontaneidade e novidade, que alucinavam os fatos e as realidades daquela época, coloriam com cores fortes e intensas tudo que via, via mais intensamente tudo que coloria, e faziam, de uma maestria ímpar, as irmãs relações, também jogadoras, acentuarem os afetos e as festividades mentais.

Mas o que se vê nessa mesa é que, durante esses anos, algumas jogadoras envelheceram, outras perderam todas suas apostas - tendo por isso que sair do jogo -, outras ainda se relacionaram tão intimamente que, de alguma maneira, criaram filhas, (filhas novas mas com espírito buxunxado, chato de galocha, velho, entende?). É inevitável o crescimento de responsabilidade - e por isso importância - do tempo naquela mesa, o único que penou realmente para a manutenção do jogo, que não parou, não para e nunca vai parar de caminhar, de trabalhar as cosias e fazer existir o jogo. Chega num determinado momento que ele se vê obrigado a intervir de alguma maneira na mesa, dando tapas e causando nervosismos nas jogadoras por meio das cartas - pode entender como "verdades"- novas distribuídas...

Mas na mesa, duas jogadoras que o tempo trouxe consigo dessa empreitada que é viver o vive-se, são jogadoras novas e por isso estão, num tempo tão curto, se destacando por demasia, fazendo ocultar as demais jogadoras, velhas e rabugentas, chatas e fumantes, e trazendo o protagonismo da mesa à elas mesmas, justamente pelo vosso brilho que reluz na mesa inteira... Apesar duma tal de ansiedade, chata, implicante e também velha jogadora, essas novas jogadoras, que o tempo ainda não apresentou muito bem à mesa, excitam o jogo como nunca antes fora excitado.

São essas novas jogadoras as que provam, mais uma vez, a plenitude do tempo em renovar, fazer amadurecer, envelhecer e novamente renovar as jogadoras e as protagonistas de determinadas épocas...