domingo, 29 de abril de 2012

bons tudos

bons tudos!
boas raízes, boas grutas
boas travessuras dos habitantes do amor
que fazem canções para suas amigas mudas
as mudas que mudam gritando vida
quando na terra que berra, pinga água que espera,
que cresce vida da mudada muda calada, agora cantada
agora uma gruta encantada
que enraizou poesia adentro da terra pingada de chuva
de choro, de choro bom, de cheiro marrom
de choro de amizade vivida e eterna da vida da terra com a vida de quem chove o bom
o bom, o lindo, o sorrir, o paraíso
o colorir esse bonito, e bom
essa bondade, essa árvore, essa ave que voa e trás o assobio como um canto divino
para terras aqui na vida das terras que têm um amor imenso àqueles que tanto puxam
os pequenos gigantes todos sempre sábios, por viverem entre os abraços dos cipós
entre as fortalezas das pedras e as magias poderosas das ervas que tanto puxam
e que tanto sopram o delírio...
e que tanto tossem borboletas de lírio!

bênção de lugar sejais onde existe o azul transparente como instrumento da liberdade
como inspiração para planar num infinito rio de possibilidades!
num emaranhado infinito de infinitas artes e ofícios do prazer,
da música e da natureza,
metricamente perfeitas!!
onde o amar e desejar a requintada alegria é saber viver
onde saudar e louvar o agora e o sem limites bem querer, o sem pudor bem querer
é saber viver!

bênção de lugar que perfeitamente tem suas perspicácias
que instigam teu instinto aquele tanto de patas
mas meu amor, saudando e brincando como uma fada
sempre em tom baixinho apaixonante, maravilhosa e erradiante,
atentava a cada nova ida, ultrapassada de galho da mata
se estávamos preparados e dispostos a ousar o contagiante!
e me sentia mais preparado e mais disposto porque me contagiava!

abençoado sejais este deus, essa vida, esse amor, o meu amor, essa louvação à tudo e todos,
dos mais entusiastas da brincadeira até aos mais sérios que honram teus cachimbos de boldos e tuas pequenas-calças de mil bolsos!

abençoada sejais esta louvação generalizada à máxima do tempo e da euforia:
bons tudos!

o quarto

dedicado ao quarto
que não é aquele quarto
de papel lambido
em cores brilhantes
mas é igualmente o da lucy,
do ceu
e dos diamantes
da liberdade,
da simpatia
do dia
que é sempre o dia certo

que é sempre roxo,
com o outro quarto, amarelo
de quarto em quarto
engatinhando, mais perto
da lisergia alegria
da euforia do oufato
 com as delicias de teus insensos
tuas velas e, dos mil sensos,
o quarto colore o quarto
que tomamos no quarto
que colore a parede
saciando minha sede
de colorir uma rede
e desmanchar tua roupa

e colorir o quarto
dentro da tua boca...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

o romance humano

e eva disse: que comemos a maçã, que transemos agora, adão!
e saudou a cobra;
e um vinho tomaram e uvas comeram gozando a vida e o entender;
e de longe vinha um vento brilhante que podia se ver perfeitamente;
e o vento trouxe o brado do primeiro a se portar como eu e eu;
e trouxe o brado daquele que ousou não submeter-se à autoridade, pois da luz fazia-se rei e da própria vida podia fazer-se também;
e sentiram o peso das saudações do querubim caído;
e gozaram mais, adão, eva e a cobra, até a intrusão de algo extraordinário...


a voz de deus pode ser ouvida
por adão e por eva e foi sentida
ao cessar o prazer como uma ferida
espantados atentaram ao que dizia

jamais sacrifiquem o amor que lhes jurei
não atentem o meu humor que por pouco pode alterar
quero que entendam que fui eu que vos criei
não me atordoem que minha ira pode despertar

deus a minha revolta é sentida por mim e por ti também
tu me conheces, a mim e a minha história
não faça-te de besta, é tua a criação do mal e do bem
da minha euforia, como a da eva e da cobra

sinta minha pele arder, meu pulso tremer
meu coração bombear o sangue que me ferve
que queima tua bondade e que hoje me serve
deleitos macios de eva a gemer e gemer

és imortal mas não tens carne como nós
és perfieito e por isso não podes pecar
provar a vertigem com alguém a sós
sentir a energia mortal e dançar

dançar, a vida dançar
os prazeres dançar
se te atrais,
humano será,
as confusões terá
que causam mais
perturbações mas será

humano será
humano será

seduzido o menino da luz
contorcido em suas asas
delirado pela voz de eva
que poetizava o homem a deus

ousadia daquela mulher que bem firme encarava a imagem do senhor
não atacava a cegueira por ter transformado teu olhar em flor
e delicadamente o anjo assoprava o vento nas costas de adão
que se arrepiava com a flor da mulher e a nudez de tua imaginação

o vento pôs-se a rondar pelos cantos que deus habitava
e o titubeio do espírito santo fez desaguar suas estruturas
um rio se fez, molhando a cobra, do santo que agora chorava
toda a criação agora se desenhava em violentas águas turvas

emergia da lama avermelhada que borbulhava a pulsar
a imagem do anjo rebelde com cheiro de enchofre no ar
a luz que alumia os desejos de deus em sete cores fez-se fatal
o corpo alado surgia do reino da audácia mortal e amoral

do amor eterno jurado e passado podia já ver as ruínas
o inferno abalado pelo tremor do certo e errado já se desfasia
o homem adão voltou-se a eva e tomou-lhe a maçã que comia
jogou-as no chão, e trepou e comeu, fazendo valer a euforia

a nausea divina causou um tremor no seio do paraíso
as macieiras suavam tesão e choravam pelo arrepio
dos infinitos poros de deus que abertos provocavam frio
sentido rasgado na costela do anjo que sempre será teu filho

subitamente a gloria de deus transformou-se em gemido eterno
do criador da vida e da morte, do ceu e do fogo do inferno
o céu e o mar, o ar e a água transaram a luz e a escuridão
o pecado vestiu-se da beca divina e matou o que era perdão

aos beijos e arranhões eva e adão puderam ver o juízo final
ser narrado pelo amor e ódio que surgira do pecado carnal
em seus olhos e perente seus corpos nus a história se refez
deus maltratava o passado e o futuro por sentir do anjo a nudez

no toque, o choque, o trovão da existência anunciou
a ira com a rebeldia rimavam como nunca antes na vida
ao deus, ao homem e ao anjo a realidade se desaguou
pelo gozo de deus que provocara no paraíso uma intensa gritaria

o regojizo celestial era a morte do bem e do mal
o velho aeon sucumbido sob as terras irrigadas do mar do amor
fez bradar o super-homem a tua carne e teu corpo à morte do império do celestial
sem ditames o homem matou enfim a aspiração que lhe fazia insano
dos anjos, dos deuses, que não suportaram a dor do prazer humano

dos anjos,
dos deuses,
que não suportaram a dor do prazer humano!

e eva saudou a adão um brinde ao prazer humano;
e adão brindou com um sorriso humano;
e o vinho beberam, e deitaram e se amaram, se odiaram e viveram humanos.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

a paixão e o romance

Pondero a maravilha das coisas pelo potencial de paixão que elas me dispõe. Essa paixão faz-me sentir profundamente tocado com coisas tão sutis, como a simples percepção da rotina de uma cidade grande, a consciência do que uma chuva representa e até perceber um ser humano pensando e se esforçando para tal.

Algumas coisas, circusntâncias, percepções, atos e pessoas me causam uma paixão repentina tão profunda, que nascem esporádicos romances e me fazem inclusive emocionar com as minhas relações com esses atores. Coisas abomináveis socialmente e que compreendo que no fim das contas são destruidoras da saúde biológica e mental têm possibilidades - digo por que já tiveram - de exercerem um papel em romances meus, de serem elas, ou o climax que as envolve, as minhas paixões mais intensas de determinadas épocas.

Hoje amo a vida e tenho uma paixão delirante pela consciência de estar vivo e do poder que tenho em compreender isso e outras infinitas realidades e histórias; assim como, amanhã, pode me atacar a paixão do romance com a morte, com a amargura, com a tristeza, com o suicídio, que, a propósito, tal romance tem uma faixa considerável de probabilidade de nascer - talvez pelas histórias de conflitos entre dor e amor que foram brilhantemente narrados por outros homens igualmente apaixonados e que se desembocaram nessas situações desconsertantes; mas, hoje, não; por enquanto não; vibro a alma em ter certeza da vida! Vibro os músculos em ter certeza da água gelada de uma cachoeira, ou do mar, ou da que bebo!

domingo, 15 de abril de 2012

wild love

eu te amo e sinto que não é necessário
ter que comer de outro mel para me sentir saciado
ou mesmo me atordoar
como por muito tive que labutar...
eu sinto que me aperta a vontade de te apertar,
que amo o te amar,
que preciso só de sentir isso pra escutar a música como meu suspiro de delirar de saber que não preciso pra amar nada além de você
além de perceber que o que sinto é querer
só você
sei que sabe que não sou aquele que quer só e quer ser único
aquele que busca limitado a ilusão do amor forçadamente cego e surdo
aquele que não ama o amor e a paixão mas sim a prisão
se me derreto por uma só chama não é por limitação
não é por forçar ou por se sentir forçado
é por sentir falta só de você ao meu lado
é por amar e se sentir amado
é também pelo pecado
o nosso amor é jurado pecado
somos anjos eternamente condenados
por sermos livres e também ousados
e percebo novamente que o que sinto é querer só você
que não existe querubim, deus, lúcifer pelos arredores do meu querer
e ao meu amor, sentimento companheiro, juro eterna fidelidade
o amor ama, renova e abala a eternidade
ele já endiabou a castidade, já sangrou lágrimas de santidades
já se meteu em confusão, já foi sentido por irmãos
já foi tocado em um piano, já foi o porque de mudanças de planos
e o porque de eu ter perdido a linha nessas linhas
o amor, amor, não é medido por algumas rimas
amo a liberdade e a felicidade, a alegria da vida, suas fantasias!
e por você ser o que é, escrita em suas métricas
composta em suas partituras, sinto que nada além delas é necessário para fazer-me contente
doido, apaixonado, inspirado, essas molduras desse maravilhoso quadro pintado
que quando se ama a gente sente!

somos eternos produtos do amor, refugiados em seus quintais
e você é meu ele!
dance comigo a valsa que ele compôs para nós!
sinta comigo o arder a pele provocado pelo sol que ele fez nascer essa manhã, para nós!

3

quem disser que que a combinação álcool e amor não tem nenhuma mágica, deve parar de ler, escutar e ver a arte.

2

todos os homens precisam ficar muito chapados, precisam muito de beber, muito! onde está o vinho? ou será possível que esse era o último suspiro de alguma alegria, acompanhado de Quaterna e nada mais?

1

por que maltratam tanto a bebida, com maldizeres diversos? Se ela é uma companheira tão amável do homem... Tudo faz mal, mas tem coisas que fazem mal e nos fazem bem igualmente

fearless

Faça de sua cabeça Fearless, faça de algumas muitas coisas de sua cabeça Fearless também:

You pick the place and I'll choose the time
And I'll climb
That hill in my own way.
Just wait a while for the right day
 [...]
And every day is the right day
 

ecos da fantasia

É em função da fantasia que o palhaço sente aquelas baixas pela tua platéia, tua amável e amorosa platéia. Mas a platéia é tanto o teu amor... Só que a fantasia que carrega, não é, para ele, meramente uma fantasia física, que o deixa louvável à comédia e gabaritado em riso; ele veste também uma outra fantasia, talvez por ter que contracenar consigo mesmo no palco as cenas que, às crianças meladas de açúcar pelo algodão doce, causam absurdas gargalhadas, mas a ele causam alguns conflitos que ele não costuma compartilhar...

A tua vida é esse palco, de exposição integral, inclusive de suas fraquezas. Ser palhaço deve ser ideal para pessoas que odeiam se expor, que se sentem engolidas por multidões ou mesmo que tremem ao ler um qualquer texto para umas cinco pessoas. Isso porque a fantasia tem um poderio tão ímpar, que a ela por ela mesma pode desenvolver a mente contraída, pode expandir a vergonha à maestria.

Brada, pois, o palhaço em seu espetáculo:

A fantasia é uma ferramenta imprescindível à vida e a sobrevivência humana! É na fantasia que o homem encontra refúgio de tuas exposições! Exponha o homem fantasiado, que exporá um homem apto para tal, e muitas vezes até primorosamente performático!

E pula o palhaço entusiasticamente no seio da platéia, que se faz em grunhido apreensivo;

Espectadoras e espectadores, meus amores, podem até me chamar de exagerado! Mas convenhamos, meus queridos, se o mundo é cheio de entranhas delirantes que flertam nossos anelos em todos os sentidos, é em virtude dos exageros e dos exagerados! O que é o amor se não o exagero de coisas, tantas coisas, que eu nem sei direito até hoje o que são? E, dessas coisas que compõe o amor, muitas não são exageradas? E muitas outras não são fantasias? Lembremo-nos também daquelas fantasias exageradas!

E de repente, às piruetas, aos sorrisos e às felicidades volta o palhaço ao palco...

Jamais aponte este teu dedo imundo novamente em meu rosto! Vim para desfazer das tormentas que a rotina alveja minha cabeça, não para um imundo discursar pífias palavras sem sentido!

Grita um senhor profundamente irritado, já na escadaria que sobe para a saída, ao lado esquerdo do palhaço...

O que queres dizer, meu querido? Quer dizer que te afliges pensar? Ou mesmo ousaria pensar? 

Basta, louco! Não quero perder meu tempo com suas bobagens!

Não és tu que reclamas da rotina que lhe mete punhaladas em tua cabeça?

E, novamente, tenta o velho interromper a fala do palhaço, mas sem sucesso:

Nada te importas sobre minha vida!..

Viestes para que? Sabes? Hei de falar, meu amor! Basta! Viestes para fantasiar tua vida e tua cabeça nesta noite! Fantasiar! Tu não sabe nada além de sobreviver nesse maldito circo! Mas o que é isso, querido? Sente-se exposto? Jamais me sentiria exposto por um infame...A fantasia que já criara outrora está se desfazendo? Esta fantasia mesma que lhe metia o cabresto em relação às minhas ponderações neste espetáculo? Escute aqui Oh, caístes tua fantasia? Não era isso que eu dizia, meu amor?

As pessoas que saiam do circo, na oportunidade de ouvirem esta ultima fala, ousaram permanecer ou mesmo retroceder alguns passos a dentro do circo; o velho, por sua parte, ia rapidamente perdendo suas últimas expectativas de contra falar com o até então bobo alegre, que, a propósito, transformar-se-ia agora numa gigante e feroz ameaça à instabilidade emocional de todos senhores que sentiam-se presos no circo, algemados pelos gritos do palhaço:

Voltem, amores! Sou o palhaço, o duque da fantasia, o barão do exagero! A mim sentem-se acolhidos, mais bem tratados! Vos expus à vocês mesmos, se saírem o mundo lhes virá expostos, aliás, vocês se sentiram expostos ao mundo! Não se retraiam, não se limitem, fantasiem-se, sim, mas jamais vos limitando à fantasia! Sejam, sobretudo, exagerados! 
Notava-se agora um clamor que se generalizava em favor do palhaço, que no mesmo instante pulou dos ferros onde se encontrava, aqueles que sustentavam a estrutura da parte interna da entrada do circo.

Uma mulher se jogou em frente ao palhaço, fazendo os dois pararem frente a frente no corredor que dava acesso ao palco. Repentinamente, o palhaço, visivelmente extasiado, retira tua fantasia, porta-se nu e causa um alvoroço generalizado aos presentes. A mulher ignora a surpresa negativa daquela imensa maioria que esperava algo mais do palhaço e, colocando-se a correr puxando-o pelo braço, trepa em algumas argolas suspendidas que serviam para o show dos trapezistas, e grita:

O que foi, admiráveis imbecis! Se sentiram expostos à nudez de um homem? Pobres limitados à fantasia! Da fantasia criam tuas próprias lajes, cárceres, e da fantasia igualmente fogem! Louca! Loucos! Jamais me chame de louco! A propósito, nem a loucura é apta a lhe designar! Não lhe chamei de louco! Eu chamei a nós, eu e o palhaço, de loucos! E, sim, se até a tua loucura é fantasiada pelos preceitos de tuas paranóias, ela jamais poderia nos designar!

O homem, um dos últimos, resolve deixar o circo, chutando alguns sacos de pipoca que estavam no chão da escadaria da saída. E ao último senhor que saía pela porta do circo, num berro, como um último suspiro:

Exagero! Exagero! Gozo dele, por ele! Fantasia! Gozo por ela, dela!

São tão pequenos, meu amor... mas eles me ensinaram, sem eles eu não seria o que penso, então resolvi retribuir aquilo que tanto crescia dentro de mim.
Não, podem ter lhe auxiliado, mas tu ensinastes a tu próprio! Sim, amor, são dignos de dó! Mas compreendamos que, infelizmente, nem todos têm oportunidade, outros nem têm capacidade, de abrirem as grades da prisão, despirem a camisa de força da cabeça;
Compreendo, querida, por isso soamos aos seus ouvidos como ruídos intolerantes;
Certamente. Enquanto houverem fantasias mal feitas, aquelas que extrapolam teus verdadeiros significados, assim como você falou, haverá a bestialidade massificada! Mas não nos portamos como superiores tampouco atribuamos a eles o menosprezo; sofremos as mesmas tentações, o amor nos dói igualmente, a fome nos ataca igualmente, assim como igualmente não sabemos de nada!
Por isso a certeza é uma fantasia!
E por isso é precisa!
Você dilata a minha a visão, querida;
Assim como você também dilata a minha; calemos, palhaço; a fala, de tanto que fora explorada, já está batida por hoje; conheçamo-nos ao silêncio da fantasia!
Mas não ao silêncio também batido; conheçamo-nos ao silêncio exagerado!

domingo, 8 de abril de 2012

eu te amo

eu sinto o amor sentido
eu amo, eu reclamo
quero lhe dizer que te amo
não indagues o juízo
ou mesmo o tempo que não prova
pouco ou muito, não importa
um calor bateu a porta
deixou aberto meu abrigo
ficou frágil meu sentido
uma zombeira no ouvido
é a vertigem dessa nudez
que desabrochou do espanto
do que você me fez
de amar o teu encanto..
 não te espantes,
eu reclamo
não me meça,
eu te amo