terça-feira, 22 de maio de 2012

e se a abelha não suportar?

e a abelha tem medo do mel esbanjado; tem medo dele lhe lambusar a ponto de sufocar-te; ela compreende que, ainda, não está apta ao incrível e misterioso doce que porvirá desses rios e mares e mel, que já se anunciam no horizonte; ela diz estar com medo de chorar quando for momento de gozar; mas ela diz, ainda, estar determinada em, a princípio, ir de brutal encontro à maré engasgadora e violenta que se aproxima; essa força que tem potencial suficiente para vencê-la, fazê-la asfixiada, diz a própria abelha que tem, na sua mais perfeita natureza, um doce tão saboroso; e por isso, mesmo não confiante, a abelha porta-se determinada em lutar por gozar desse doce quando, enfim, vitoriosa por teu triunfante e potente amadurecimento, puder libertar teu pequeno-corpo, tuas asas, tuas antenas e tua alma à livre disposição e destino dessa vertiginosa correnteza de mel, para viver maravilhas adoçando teu encanto, cantando o amor da densa corrente melada, libertando e sendo libertada, amando e sendo amada...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

a selva cinza de cimento surta (e mata)

a selva cinza de cimento surta
a selva cinza de cimento surta
e essa sina de selvageria pira
selvagens macacos robotizados nos cipós de alta tensão
aguardando parados e estacionados, alucinados e
altamente preocupados nos faróis de solidão
na construção daquela vida que se faz em preto e cinza em cimento e em labor
morrem e labutam repentinos os macacos iludidos construindo o terror
certifique-se e edifique se uma árvore ainda repousa o verde na paisagem
sele, aprove ou reprove mas não pense que resolve, o destino é a modelagem
das estruturas determinadas e cristalizadas no inóculo da ferida viva desse abestado
adestrado e castrado pelo estado de impureza do cinza que a natureza fez colorir
é de rir, o verde lindo e vivo verde ironicamente acizentado e acimentado, é de rir
ou de chorar? ou de ousar?
Ou de ousar? P de pensar?
Ou p de pirar?

e essa sina de selvageria pira
e essa sina de selvageria pira
e essa selva cinza de cimento surta
essa maldita selva cinza de cimento surta 
esbanjando lástima e sonhos podres
sonhos apodrecidos
mortos desaparecidos
e aparecidas investidas em sonhos empreendidos ditos como virtudes de vida
e desfilam os sonhos triunfantes na sapucaí alarmante da tristeza e da incerteza
e trajam máscaras de solidão e de apreensão na procissão que marcha subindo a afonso pena
impuras almas que desfilam no cortejo fúnebre se anunciam com fantasias negras
e a certeza de que a afonso pena é um gigante campo de exterminio cresce e deixa forte a fraqueza

a alma fraca clama aceitação
o peito podre respiração
o gás carbonico investimento na rotina do sofrido pulmão que eternamente serão sócios
e o ócio clama esteriótipo de vagabundo por não cheirar o gás imundo que nasceu desses negócios

e o surto desse pulmão é a razão desse clamor que grita, chora e apavora o teu fôlego pirado
e essa sina de selvageria pira mesmo
e essa selva de cimento cinza surta mesmo
e o futuro incerto e inseguro se apresenta ao esmo
dói a dor que finca a cuca e que perfura o peito

dói, enfim, o amarelo da bondade,
assassinado por asfixia nos porões a céu aberto
do hiper-centro dessa cidade

sexta-feira, 18 de maio de 2012

insistindo a Diógenes o tesão do calor do sol

Não fale
Ah, não fale, vai
não fale muito
Não, não fale!
Mas é...
Pois é!
Saudade!
Nos reencontramos?
Pois é,
num susto
Verdade!
De volta
Por falar
por insistir
nisso
mas olha
e por falar nisso
Pois é,
bobagem!
Só isso
suspiro!
só esse batido suspiro
mas que pequena tristeza...
ah, é isso,
é o frio!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

vou correr para as nuvens

nenhuma escrita do homem se compara à doce e amarga angústia e paixão escritas no homem!
nenhum grito do homem ecoa tão alto como os seus desvarios que gritam no homem!
nenhuma loucura do homem chega aos pés das quimeras de amor e solidão que enlouquecem no homem!
nenhuma pintura do homem representa fatídicamente o que o prazer ou a explosão da obscessão pintam no homem!
nenhuma alucinação do homem se equivale ao medo, à apreensão e à renascença e fuga de si mesmo que se alucinam no homem!
nenhuma morte do homem é tão dolorosa como a morte da estribeira que morre no homem!
nenhuma leitura abstrai o que o homem escreve, grita, enlouquece, pinta, alucina e morre!

Mas o homem escreve, grita, enlouquece, pinta e alucina, morrendo, vivendo e lendo, enfrentando a morte, a candice e as estruturas que maltratam a liberdade de tua vida, para morrê-la, gritá-la, escrevê-la e sobretudo vivê-la!

Não é necessário escrever, ler ou tentar, na maneira mais poética e sensacional, minuciosamente perfeita nas medidas da inspiração e perfeição, exprimir o que tanto grita, enlouquece, alucina e mata a alma e a razão humana!

É necessário, por sí só, enlouquecer, alucinar e morrer! Mas elogiáveis aqueles que o fazem com maestria, viver e transcrever!

fique em pé sem cansar

não limitar à arte o que se estende à vida, mas fazer da vida arte e da arte um retrato da vida

como se escreve infinito?

compreendamos que o infinito não se limita; escrevê-lo, ou mesmo tentar escrevê-lo, é uma tentativa frustrada de limitá-lo ou uma ousada investida na expansão do poder que detemos, que é pensar, admirar, se apaixonar e escrever? Será que escrever o infinito é dar a forma geral da perfeição e liberdade à mente, ou, menos, conceder à ela uma pitada da audácia humana, que é conspirar sempre rumo ao nunca acabar, nunca cessar e nunca parar? O infinito é viver, o viver o infinito é uma condição primária da Natureza e, se o escrever faz parte de tudo, não foges, portanto, do viver, da Natureza e do homem!

sábado, 5 de maio de 2012

ele vem e vai morto

ele sempre chega em casa na tarde clara
com seu trabalho em seu cansado rastro
que de marujo da rotina se arrastou pela calçada
se portando à batina como teu amado mastro

a bandeira da eufórica e morta vida da cidade
ergue-se como triunfo da conquista do vazio
o que enfinca a aste na vida como num abate
na morte do homem que sangra a sina como o bovino

faz-se a lamuria engolida de força de vontade
faz-se a cabeça entupida como o homem de caráter
e a cabeça vazia como o homem assíduo
e o que ousa enchê-la como mais um promíscuo

morre a bobeira de caçar limas e gozar da mocidade
a sobrevivência na cidade destrói como prédios angustiantes
e as inquientantes eminências de danos inimagináveis
trocam o perfume das hortências pelo perfume das madames

o carro corre e com ele corre a vivacidade das animalias
corre pra muito longe fugindo da selva de apreensão
deixa hoje grunhindo esse homem programado na solidão
que de tempos em tempos se mata e renasce em vão

e surge um cherio forte
um cheiro da maquina mental
de quemiado anunciando a morte
um cheiro abraçado com a dor da sorte
da fundação desse novo jornal
desse animal mal-escrito forte

tudo está no mesmo lugar
tudo esta sob a mesa, que beleza, é hora de jantar
tudo inclusive a mesma e antiga forma de cantar

tudo está ali como foi deixado
retorna o homem machucado de carro, berrando calado
e toma e serve café e jantar, com o saudoso desprezo acompanhado

assistindo como são beberrões os que acidentam as ruas
como são comilões os que sentem fome nas ruas
e como são traidores os que pixam as ruas
e como é angustiante saber que existem outros como ele nas ruas
gritando na porta da sua casa, morada que o separa das ruas
fazendo vossa vida, fazendo vossa rotina, sempre nas ruas