sábado, 5 de maio de 2012

ele vem e vai morto

ele sempre chega em casa na tarde clara
com seu trabalho em seu cansado rastro
que de marujo da rotina se arrastou pela calçada
se portando à batina como teu amado mastro

a bandeira da eufórica e morta vida da cidade
ergue-se como triunfo da conquista do vazio
o que enfinca a aste na vida como num abate
na morte do homem que sangra a sina como o bovino

faz-se a lamuria engolida de força de vontade
faz-se a cabeça entupida como o homem de caráter
e a cabeça vazia como o homem assíduo
e o que ousa enchê-la como mais um promíscuo

morre a bobeira de caçar limas e gozar da mocidade
a sobrevivência na cidade destrói como prédios angustiantes
e as inquientantes eminências de danos inimagináveis
trocam o perfume das hortências pelo perfume das madames

o carro corre e com ele corre a vivacidade das animalias
corre pra muito longe fugindo da selva de apreensão
deixa hoje grunhindo esse homem programado na solidão
que de tempos em tempos se mata e renasce em vão

e surge um cherio forte
um cheiro da maquina mental
de quemiado anunciando a morte
um cheiro abraçado com a dor da sorte
da fundação desse novo jornal
desse animal mal-escrito forte

tudo está no mesmo lugar
tudo esta sob a mesa, que beleza, é hora de jantar
tudo inclusive a mesma e antiga forma de cantar

tudo está ali como foi deixado
retorna o homem machucado de carro, berrando calado
e toma e serve café e jantar, com o saudoso desprezo acompanhado

assistindo como são beberrões os que acidentam as ruas
como são comilões os que sentem fome nas ruas
e como são traidores os que pixam as ruas
e como é angustiante saber que existem outros como ele nas ruas
gritando na porta da sua casa, morada que o separa das ruas
fazendo vossa vida, fazendo vossa rotina, sempre nas ruas

Nenhum comentário:

Postar um comentário