domingo, 28 de abril de 2013

verso branco

por aqui, por ali,
vasculho e procuro tanto o verso branco...
talvez poderia falar por mim de modo esplêndido!..
mas não o encontro por enquanto, e, sereno
me sento e escrevo rimando o tanto que conseguir...
consegui! consegui?

mulher livre - uma necessária redundância para descrever Marina

sois a fortaleza que posso sentir
ao ver-te em teu sorrir..
em tua beleza entorto-me,
em tempos incertos que vêm e vão,
quando me espanto me pego amando-te,
enquanto teu encanto me ataca o pulmão;
faz-me perder alguns respiros tranquilos,
quando perco-me em suspiros ávidos,
tornam-me claros uns poucos delírios
por tua fluidez de teus espasmos...

sois puramente bela,
em tua eterna naturalidade,
tão explosiva e tão quieta,
afinca-me atenção a tua liberdade!

Ah, mulher livre!
livre mulher de alma nua...
da liberdade viril,
que me atordoaste há tempos com tua
vivacidade e feminino sutil...

hoje brado-te teus traços!
                                       [que antes me atacavam aos trapos!

amo tuas incontáveis asas,
que voam e planam em teus espaços,
infinito onde tua beleza em rastros
pinta de vinho livre tuas cristais taças!

tua alma,
cosmopolita do amor,
patriota das pátrias inexistentes
entusiasta dos desapegos resistentes
se faz presente nestes rastros
que teus laços deixam por onde passam
e por onde estacionam tua quieta e corpulenta presença...

Ah, tua presença!
que admiro e espero tê-la por duradouros tempos,
tão impávida mesmo em teu desalento,
nociva pela modesta extensa...

Tua riqueza de ser linda e pura,
és ser só tua, criatura soberana;
emancipada de próprias lutas,
refutas se matar por paixões estranhas!

és pura, e por ser tua,
és dura em tuas feições;
por tal, alguns tantos corações,
se amarguram e se perdem em perdidas paixões...

saibam amá-la,
cativá-la e compreendê-la,
corações ansiosos!
teus olhos me anunciam,
denunciam o erro ao lê-la,
corações penosos!

Poderias ter sido deliberado o terror em minhas fugas e redenções por parte de teu louvor de amor-próprio;
mas sei que não serias a própria se te entregastes às minhas bobas e desesperadas entregas de mim.
hoje tenho-te, sem a ter, sem ter-te a mim; hoje amo-te, sem a amar, sem amar-te a mim; hoje compreendo-te, em teu ser, sem que compreenda-te assim; hoje sei de mim, sei de você, sem você saber que sim.

sábado, 13 de abril de 2013

meu grande amigo

espreitado, fechado,
teus olhos vidrados
tentam tanto o longe
num perto canto do bar;

remoído, insistido
em teu ódio engasgado
vibra o pranto fechado
num certo espanto de amar;

espantado com a paixão,
com o seu lidar com seus amores
e em seus contratempos interiores
segue agarrado a pesos mortais

e calado em alucinação,
se faz estar vívido em pormenores
que pelos apelos próprios fazem-se maiores
se apresenta ao povo já como estás;

explodido em todos, em tudo,
o tanto quanto se resmungava sozinho
em seu interno se internou em ninhos
de arames e ferros de seus soluços

rasga ódio de tuas amadas,
a raiva do pródigo de alma e horrores,
é lâmina crua de tuas espadas
que cortam as pétalas de tuas flores!

se faz como lês, como os distúrbios
estais a sós com eles, teus atores e escritores
jantarás nos nós das escritas dos prelúdios
narrados e ditos em contos de horrores

ah, os horrores que tanto te cativam!
tanto te maltratam, quanto te instigam!
fazem-te maltratar a ti mesmo,
fazem-te limitar-te em teu medo!

teu medo, receio, desejo, ciúme
colateral, visceral de costume,
é o desejo torpe de maltratar, controlar,
berrar, gritar, quebrar e então se entregar;


não busques o rancor definhando
o olhar perdido e maltratado;
o rosto sombrio, o perfil espalmado
o espectro vazio, enfurnado em tal estado;


não faças mais assim contigo,
com teus amigos, com teus amores,
não arda mais em teus louvores,
em teus odes ao teu castigo;

não te metas em sombrios caminhos
interiores, buscado por teu procurar;
não esqueças que teus próprios espinhos
são tão finos, para te fincar;

espetar, furar, te esvaziar
de teu brilho que reluz em teus cachos
teus traços, tão admirados
e tão fáceis de amar;

sei do que te angustia
do que incansavelmente procura,
o que escuta e reproduziria
em tuas tramas em tua alma escura;

não te reduzas a abomináveis
atitudes terríveis por ter que explodir;
não te induzas a impensáveis
explosões que insistes em perseguir!

domingo, 7 de abril de 2013

um grito num domingo

e um grito silencioso abriu suas asas, levantou voo e escureceu o céu;
as asas choram penas de sangue, que coagulam os desesperados pelo chão, se arrastando a qualquer lugar, qualquer lata de lixo, jornal de ontem, qualquer marquise apodrecida, procurando abrigo;
e nuvens segurando o pranto fazem deste céu a tragédia;
fisgando seus órgãos, músculos inseguros puxam as fibras tensionadas, com as veias expostas e bem vistas, bem formadas, remoídas pela pele que sente o rasgar do vento frio e da imagem de catástrofe que lhe queima a normalidade das estéticas;
O grito voa como um pássaro esplendoroso, universal, onipotente, de olhos nublados, pulsantes; os dedos encolhidos, sem boca, sem lágrimas, sem suor, com seus cabelos embaçados e que mal podiam ser vistos sem uma confusão invariável e irritante; os cabelos se faziam de uma nebulosa marrom acinzentada.
O grito sobrevoa lentamente, em suas grandezas elementares, como quem impõe de súbito o medo, o quieto desespero e a segura tensão;
as nuvens, espumas antes escarlates escurecidas agora cinzas, negras e pálidas, flutuantes, tão firmes nos sobrepostos são o fundo perfeito ao terror e distúrbio do momento.
Num domingo qualquer, da janela que se abriu, se sentiu o menino em conflito e se perdeu no olhar perdido em busca de inalcançáveis;
da janela aberta, espreita os segundos ao fitar a cidade,
sem a atenção da paisagem violenta e calma, turva
se viu o grito silenciado, se percebeu a violência de teu estado,
e voltou-se o menino ao seu domingo, como os outros domingos,
e como os outros domingos, voltou-se o menino ao seu quarto

terça-feira, 2 de abril de 2013

os demônios são lindos

segunda-feira, 1 de abril de 2013

eu

tenho vários,
várias, tudo, todas,
todos, meus, eles,
elas, os desenhos,
as prosas, as conversas,
as variações, as invenções,
as conquistas, as glórias,
as tristezas, memórias;

tenho os aviões, as guerras,
sangues, os furacões,
tenho a mim, tenho as vidas,
tenho trocados, os Estados,
os tratados e os pecados,
os requintes, os venenos,
os penosos, os serenos,
os lutadores, as guerreiras,
as espadas, dragões,
os castelos, príncipes
e as princesas rebeldes;

tenho as consciências,
as consequências, as ciências,
as filhas dos generais,
dos delegados e dos fazendeiros;
os irmãos, os primos,
as primas, as primeiras,
as últimas, os primeiros amores,
os amores, as amoras,
as flores e as florestas,
tenho as cartas, as aspirações,
as paixões, nuances, os perfumes,
os relatos, os retratos,
as físicas, biologias e químicas;

tenho os mistérios,
os véus, os lençóis,
as praias e os menores do centro da cidade,
tenho os laços,
tenho os meus braços,
os meus dedos,
meus músculos, minhas veias,
meus instintos de animal,
minhas fomes, destruições,
alucinações e manias de perseguições,
tenho minhas orelhas, meus olhos,
meu corpo, minhas objeções;

as políticas, os estreantes,
os errantes, os errados,
os corretos e os manipulados,
as estruturas, as máquinas,
as modernidades, as estações,
os acontecimentos,
tenho os cemitérios,
tenho os carnavais, os quintais,
as casas, sobradinhos e mansões,
tenho as mães, tenho as saudades,
tenho as línguas, as estrelas,
tenho as sereias,
os cantos e os encantos,
os encantados, os envenenados,
os corredores, apostadores
e os infratores;

tenho os direitos, as forças,
as forcas, as igrejas,
religiões, as índias,
caravelas, os mares,
as novas terras,
os urros dos escravos,
os oceanos e os monstros,
os demônios, os deuses,
os paraísos e os infernos,
tenho as  meninas,
os meninos, os lares
e as ruas, praças,
cidades, nações
e culturas;

tenho as firulas,
os charmes, as respostas,
tenho as suas respostas,
as suas indagações,
as suas vibrações
as suas paixões
as suas emoções
as suas insistentes conclusões
e ações,
tenho as suas costas,
suas pernas, suas mãos,
os pesos que recaem nessas suas costas,
tenho pena
tenho raiva
tenho pressa
tenho angústia
pretensão
ambição
sensibilidade
tenho tremores
flores, cheiros e sabores;

tenho horrores,
tenho cruzes, credos,
tenho as suas premissas,
tenho as suas vias,
tenho os seus errados e os seus certos,
as suas espreitadas na porta um pouco aberta,
as suas espiadas na fechadura,
as suas escapadas em fitadas da sua janela,
as suas entreolhadas nas festas,
tenho as suas astúcias
tenho as minhas fraquezas
tenho nossos encontros
tenho nossos desencantos
tenho nossos telefones
tenho nossos contatos
tenho nossos amigos
tenho nossos retalhos
nossos retratos
tenho os restos de acordos fechados
tenho portas fechadas
tenho céus imensos
tenho seus sensos
tenho meus pensamentos;

tenho, no fim
tão longe e retumbante quanto o verbo ter
mesmo sendo o quão longe esse no fim,
tenho a mim
tenho o amor, pávido, universal,
multilateral e imenso,
tenho o amor a mim
enfim, tenho eu,
e tudo que se realiza
em torno do esplendoroso certeiro da existência
e de única condição de conjugação do verbo ter,
tenho a mim!